quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O Natal foi inventado

O espírito de Natal é quente, acolhedor, é sem dúvida uma época bonita, luminosa. Mas continua e há-de ser sempre uma época hipócrita e puramente comercial. O Natal poderia ser todos os dias, mas para muitos não é nenhum dia.
Deixo-vos com a melhor mensagem que encontrei, para vos desejar um Natal em família feliz


sábado, 18 de dezembro de 2010

Como entupir um serviço de urgência

Este post, tal como todos os outros, não passa de uma mera opinião do autor. Os autores nem sempre têm razão e o verdadeiro autor é aquele que sabe dar a mão à palmatória


Porque razão os doentes ficam então acumulados no serviço de urgência? Há uma série de motivos, como por exemplo:

  • Banalização do serviço de urgência pela população em geral;
  • Fecho de SAP´s;
  • Ausência de medicina interna em Ponte de Lima durante a noite;
  • Ausência de determinadas especialidades em dias e períodos específicos;
  • Recobros no serviço de urgência de doentes de ortopedia submetidos a intervenções cirúrgicas consideradas simples;
  • Serviços de internamento lotados, em alguns casos, com doentes que apenas aguardam a “oficialização” da alta,
  • etc, etc (quem quiser que continue)
Mas um dos principais motivos e será esse o tema central do post, passa por uma certa passividade ou inércia propositada de alguns médicos em drenar os doentes, principalmente durante a noite.
Um dos exemplos mais flagrantes é quando ficam retidos no serviço de urgência doentes críticos e instáveis, quando temos, por exemplo, 5 vagas numa unidade intermédia. A isto se chama a evidência do poder médico numa espécie de revolta contra decisões superiores. A decisão superior, neste caso foi retirar o médico em permanência na referida unidade.
Se foi uma boa ou má decisão, é outro assunto. O que está em questão é que, quem sofre é sempre o elo mais fraco, é o doente que está instável e a equipa de enfermagem que por diversas vezes assegura os cuidados a estes doentes, sem as mínimas condições de organização e equipamentos, precisamente porque o serviço está lotado, já para não falar que não compete aos enfermeiros assegurar determinadas responsabilidades. 


sábado, 11 de dezembro de 2010

Crónicas estapafúrdias vol. XI - "Peixinho fora de água"

A história que se segue é mais uma das crónicas estapafúrdias. Esta será porventura superestapafúrdia...

Era já de madrugada quando entra numa Unidade de Cuidados Intermédios um doente com Edema Agudo do Pulmão (EAP).
Para quem desconhece, um EAP é uma complicação respiratória grave, súbita, inesperada e emergente, na qual o doente tem uma sensação de morte eminente, com uma dificuldade respiratória extrema, devido à presença de liquido nos alvéolos dos pulmões. É tão emergente que é considerado um dos principais motivos de implementação de manobras de "life saving", que é o mesmo que dizer "despachem-se senão o doente morre".
Voltando atrás,
A enfermeira recebe o doente e a médica é chamada aos seus aposentos. Acorda da mesma forma que costuma passar o seu dia a dia hospitalar - mal disposta. Olha para o doente que, como na gíria de profissionais de saúde se diz, mais parecia um "peixinho fora de água" e revoltada com a interrupção do sono, descarrega:

ENTÃO VOCÊ VEM PARA AQUI A ESTAS HORAS ??!! É SEMPRE A MESMA HISTÓRIA! BLABLABLA BLABABA %YZXPO$7&QH JDBHJBFLKJD BLABLABLA ETC ETC ETC
É de facto lamentável que o doente não tivesse escolhido as 9:30 (de preferência depois do café da manhã) para manifestar o EAP.
Agora a sério, a meu ver só há uma solução: Acabem com as 24 horas de urgência nos médicos.
É mau para eles, é mau para todos nós (utentes do serviço nacional de saúde)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A resposta à Reclamação

A pedido da D. Lúcia, publico a transcrição da resposta do Hospital em causa, 

"As questões que V. Exa. Coloca relativamente ao Serviço de Urgência estão identificadas e merecem a nossa preocupação, algumas relacionadas com o afluxo excessivo de doentes, outras com a desadequação das instalações.
Tendo como objectivo melhorar a forma e as condições de prestação de cuidados de saúde dos utentes, está em análise o plano de obras de remodelação de todo o serviço.
Agradecemos-lhe a chamada de atenção que alerta os responsáveis do serviço e da instituição para a necessidade de continuar a intervir na melhoria das condições estruturais e de atendimento do serviço.
Lamentamos todo o incómodo causado

Com os melhores cumprimentos,



O presidente do CA"



quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Enganos em vencimentos

Já não bastava a crise,
o corte nos salários,
o não aumento sucessivo,
a redução substancial das horas suplementares,
o não pagamento de horas extraordinários desde há longos meses

...E AINDA SE ENGANAM REPETIDAMENTE (PARA BAIXO CLARO) NOS VENCIMENTOS??!!!
É DE BRADAR AOS CÉUS!!

Conselho de amigo: façam as continhas ao fim do mês. Para saques já chega na gasolina e supermercado

sábado, 20 de novembro de 2010

Reclamações

O texto seguinte é da responsabilidade do seu autor. O blog pddse neste caso e tal como em momentos anteriores, apenas serve de meio de exposição de factos.
Cada qual retira as ilações que entender 
Recebemos então o seguinte pedido via email:

"Exmo. Sr. Moderador do blog.

Este email serve para demonstrar o meu descontentamento com o hospital de Viana do Castelo (ULSAM), e venho pedir que esta reclamação, pois já fiz 3 exposições no livro de reclamaçôes, seja publicada no blog como um post, com o titulo, A DOENÇA DO HOSPITAL DE VIANA DO CASTELO. Peço que,caso autorize a publicação do post, este seja da forma original como segue em email.

A DOENÇA DO HOSPITAL DE VIANA DO CASTELO (ULSAM)


ANTÓNIO MARTINS PARADELA JÚNIOR, meu pai, está novamente internado na cama 21, piso 4, cirurgia 1. Este internamento foi decidido após uma espera de 26 horas nos corredores da URGÊNCIA, chamado na ULSAM de VIANA DO CASTELO, de OBS - MACAS, com horas de visitas marcadas, como se estivesse o doente num OBS. Um corredor de loucos !
Os maqueiros batem com as camas nas macas por falta de espaço, auxiliares que gritam de um lado para o outro, parece que estão no "Campo d' Agonia", os enfermeiros correm de um lado para o outro porque não são suficientes, os médicos saem da urgência para o bloco e o doente fica sem saber nada sobre o seu diagnóstico, porque só pode ser dito pelo médico que o acompanha e o mesmo está no bloco. O resultado de uma TAC mandada fazer às 9h45m, só chega ao conhecimento dos familiares às 21h30m.
O meu pai entrou na urgência no dia 7 de Outubro de 2010, às 21h45m, e subiu para internamento, no dia 8 de Outubro de 2010, às 23h50m. Apesar dos seus 87 anos, não é permitido acompanhante, porque está em OBS - MACAS, no corredor de um manicómio, onde todos gritam e ralham, e ninguém tem razão.
Sra. Ministra Ana Jorge, permita-me que lhe faça um convite especial. Venha passar 26 horas em OBS - MACAS, nos corredores da Urgência do ULSAM de Viana do Castelo. Ofereço-lhe a MACA I, do Sr. António Martins Paradela Júnior, meu pai, a quem AMO muito, como com certeza a Sra. Ministra, ama o seu. Venha sentir na própria pele o desespero da espera, da solidão, do afastamento da família junto com a doença, razão pela qual permanecemos nesse corredor o tempo que nos obrigam.
Por onde anda a Sra. Ministra Ana Jorge? Em 3 meses é a terceira vez que exponho neste livro o meu descontentamento (14/10/2010), e nunca obtive resposta do seu gabinete. Isto só prova que a saúde também está muito mal no seu Ministério. Venha para a rua, venha para os hospitais. O que os olhos não vêem, o coração não sente!
Os utentes, que também são contribuintes é que sofrem com a má gestão feita dos dinheiros públicos. E agora só se ouve falar em "CONTENÇÃO".
ABUNDÂNCIA PARA OS MAIS FAVORECIDOS, CONTENÇÃO PARA OS MAIS NECESSITADOS.

É isto que a Sra. Ministra tem para nos dar ?!
É este o país que temos ?!
Espero que a Sra. Ministra esteja bem de saúde e se lembre da saúde dos outros. Onde estão os direitos dos doentes? Será que os mesmos só têm deveres? A Sra. Ministra, sabe quais são os seus deveres? Ou só sabe os seus direitos ?
O HOSPITAL DISTRITAL DE VIANA DO CASTELO, hoje, ULSAM, foi construído para prestar cuidados de saúde cinco estrelas, só que, quatro já caíram e a quinta está balançando.
Isto é um exemplo da saúde da Urgência do ULSAM de Viana do Castelo, com certeza o câncer já tem ramificações suficientes para infectar muitos utentes que por ali passam. É caso para dizer, pensem, antes de ficar doentes!.

LÚCIA FRANCISCA PARADELA
Rua do Calvário Nº 89
Vila Mou - Viana do Castelo
Estrada da Papanata Nº 73 - 1º Esq.
Viana do Castelo
Contribuinte – 124572650"

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A jogada do SIGIC



Nota prévia: O SIGIC (Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia) foi criado há uns anos com o objectivo de reduzir listas de espera para cirurgia. Parece que funciona em rede, onde o doente parece que é encaminhado para outro hospital caso o de origem não responda ao que é necessário, no que diz respeito ao tipo de cirurgia. Depois também parece que há um "cheque" e os privados estão envolvidos, tal como explica a imagem.
Tudo isto implica mais trabalho dos profissionais, o que justamente deverá ser mais bem pago. Até aí parece que está tudo bem. Agora o que não está nada bem é o que de seguida vos digo.
...

Há uns posts atrás, após receber um email do PSD sobre ideias de poupança para o estado, falei na vergonha das horas extra em altas patentes médicas (AQUI). Nesta sequência de ideias lembrei-me do seguinte: porque não acabar com a vergonha do SIGIC?
A ideia original do SIGIC até seria interessante, diminuir a lista de espera porque não fazia muito sentido que uma pessoa esperasse mais de 5 anos por uma intervenção cirúrgica. Mas o problema é que depois tudo se distorceu, aqueles doentes que nada tinham a ver com o conceito de SIGIC eram “tornados” SIGICs para entrarem mais uns cobres valentes ao fim do mês no ordenado dos profissionais.
E aquilo é ganho à peça e em determinadas peças, como na da anca, ganha-se a olho. E eles bem se mexem, quantos mais melhor e o povinho paga. Acabem com esta manigância, estamos em crise, ou pelo menos parece que estamos, não sei. E não se esqueçam! O Robin anda por aí atento na defesa dos pobres, à procura dos podres.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Retalhos

Alguns cirurgiões observam o doente como se ele já tivesse na mesa de operações. Não informam o que vão fazer, por que é que o vão fazer, nem sequer de que jeito o vão fazer. Fazem-no sem pudor, de forma crua e visceral, tal como se tivessem a palpar uma fruta ou um pedaço de carne.
E não são os cirurgiões os únicos que manifestam este total desrespeito pelo corpo do outro… também enfermeiros e outros médicos. Há tempos um gastroenterologista destapa um doente na maca, olha para a barriga que tinha uma sonda e lamenta-se junto ao doente, dizendo “Que trampa!”
Justo será dizer que também há (boas) excepções. Outras escolas, outra educação, outro conceito de vida

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Crónicas estapafúrdias vol X - novas matreirices do sistema nervoso central


Numa qualquer unidade intensiva...
2h da manha e o Sr António insistia persistentemente com os enfermeiros, para falar ao telefone com a Dona Alice, a sua esposa. Insistia tanto que ninguém consegui ter um minuto de sossego naquele serviço já às escuras.

Sr António não são horas para ligar à sua esposa, amanha trata-se disso! Explicavam repetidamente os profissionais.
Mas não pode ser!! Tenho mesmo que falar com ela!!

Vendo que não era possível convencê-lo, decidem agir...

Toca o telefone portátil...

Pronto tome lá homem!! Atenda que é a sua mulher!
Ahhh Finalmente! Tou Alice!?
Então Tone!! Ouvi dizer que tás aí a pintar o caralho aos senhores enfermeiros!!
Ohh mulher cala-te e ouve-me, traz-me a carteira que tá em cima do frigorifico e uma muda de roupa!
Mas pra quê Tone não precisas nada disso agora!
Faz o que te digo mulher e diz ao Zé pra pegar no carro e levar-me pró hospital..
Ohh homem mas tu já tás no hospital, tás nos serviços intensivos.

E o Sr António começa a desconfiar...
Mas esta não é a minha Alice, é uma voz de homem!!

E não é que pelo menos os ouvidos estavam a funcionar! Quanto ao resto... talvez quando mudasse de ares

domingo, 31 de outubro de 2010

A década da decadència - Vol III

Esta também foi a década em que os hospitais se tornaram empresas. O principal objectivo seria o corte nas despesas e para isso aparecem economistas ou gestores, que apesar de perceberem de números, pouco ou nada percebem de gestão em saúde.
O meu hospital, após anos sucessivos de desaires orçamentais, anunciou balanços positivos nos últimos anos, isto apesar de ainda dever dinheiro aos enfermeiros. Outros, em vez de diminuir, aumentaram o défice, como em Braga p.e.
Parece evidente que de uma maneira geral cortou-se nas despesas, mas também se cortou na formação em serviço, qualidade de cuidados, qualidade de materiais, rácios e autonomia das classes, principalmente de enfermagem.
As gestões hospitalares do SNS cada vez se assemelham mais com as privadas, o que importa é ter anúncios bonitos à entrada a dizer que são os maiores, o que importa é o lucro sem se olhar aos meios, o lucro a qualquer custo com o menor número possível de profissionais de saúde a tratar o maior número de doentes possível

domingo, 17 de outubro de 2010

Olha pró que eu digo, não olhes pró que eu como

Hoje, dia 15 de Outubro, é o dia mundial da alimentação.
Parece que um canal de televisão andou a entrevistar profissionais de saúde sobre o que comiam.
Não é necessário ser muito observador para concluir que uma significativa parte destes tem maus hábitos alimentares. Em casa não sei o que comem, mas nos hospitais, que é onde a maioria passa a maioria do tempo, é o que se vê.

Sempre que vou ao bar do hospital, perco o apetite. O menu é quase sempre igual:
Panados, rojões, bife, fêveras e filetes, acompanhados de, invariavelmente, arroz aos grumos e batatas fritas ressequidas.
Também não será necessário ser perito em nutrição, para verificar as quantidades excessivas de gordura e hidratos de carbono que daqui advêm.
Na minha opinião um hospital deveria dar o exemplo no que diz respeito a hábitos alimentares e poderia começar pelo seu bar. Será que é por isso mesmo, por ser bar?! Bom… o refeitório muito melhor também não será, mas sempre há mais variedade e qualidade nutricional talvez, apesar de nem sempre estar acessível aos profissionais e ser um espaço pouco apetecível.

Acho que nestes últimos anos, as pessoas preocupam-se mais com o que comem e o conceito de cozinha alternativa surge em força.
Porque não repensar os menus? Seria um bom desafio para quem gere este bar. Aqui ficam algumas sugestões simples, económicas e saudáveis:
Empadão de espinafres
Hambúrgueres de soja com quinoa
Panados de peru com ervas
Sopa de batata doce e courgette
Croquetes de marisco com esparregado
Tagliatelle com pesto de rúcula
Arroz integral com grelos e panados de tofu
Douradinhas no forno com hortelã e batatinha assada
Truta em papelote com legumes salteados

... e sobremesas:
Tarte de arroz integral
Bolo de manga e coco
Aspic de fruta

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A década da decadência - Vol II


Ainda recordo o tempo em que haviam escolas de enfermagem que só admitiam alunos com uma nota mínima de 17. Eram raras as escolas com nota mínima de acesso abaixo de 14.
Hoje com 9,6 val. já se vai para enfermagem.
Enfermagem agora é um curso de escape para se entrar no ensino superior.
Passou de curso de primeira linha, a curso terciário. Desvalorizado completamente, passou de uma meta a um meio para atingir outra qualquer meta.
Quem é que no seu perfeito juízo vai colocar enfermagem nas suas opções de entrada no ensino superior?!
Perdeu-se por completo o rumo, as escolas estão pura e simplesmente a formar para o desemprego ou emigração.
Durante este trágico período, construíram-se novas escolas, aumentou-se exponencialmente o número de vagas, numa sede incontrolável de formação para o vazio.
Brevemente já nem os países importadores de enfermeiros aceitam novas remessas, já devem estar quase lotados.
Tenho fortes dúvidas sobre a competência das entidades que regulam este tipo de coisas. Tenho vergonha deste país que permite estas políticas.
Por muitos de defeitos que tenha a classe médica, dou-lhes valor, pois têm a inteligência de se resguardarem numa redoma, regulando assim as entradas para medicina.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A década da decadência - Vol I


Há uns tempos li um post dos colegas do Cogitare forumenfermagem, sobre alguns dos problemas que enfermagem atravessa e atravessou, ao longo destes últimos 10 anos. Esse título fez-me ver que, de facto, esta foi a... DÉCADA DA DECADÊNCIA PARA ENFERMAGEM.
E então lembrei-me de iniciar aqui uma colectânea de posts sobre este assunto. Vamos ver se não tem muitos volumes... A tua colaboração será sempre bem-vinda, caso esqueça algum ponto relevante, relembrem-me.
                                              .....

Após uma época de orgulho e sentimento de dever cumprido, com a conquista da legítima licenciatura para os enfermeiros, inicia-se inesperadamente a época negra para enfermagem.
Por pouco ou nada que ela viesse acrescentar (outros assuntos...), os enfermeiros eram definitiva e justamente licenciados.
O compromisso tinha sido estabelecido, os enfermeiros passariam brevemente a ser pagos e reconhecidos como licenciados.
Passados todos estes anos... nem uma coisa, nem outra.
A situação manteve-se e, para alguns, até se agravou.
A frustração, desmotivação e sentimento de injustiça e desconsideração são por demais evidentes nos discursos dos enfermeiros.
Continuamos uns simples técnicos bacharéis...

CONTINUA...

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

GANÂNCIA, MANIPULAÇÃO E PASSIVIDADE

A ganância e manipulação incomodam-me profundamente.
Enquanto que, há VÁRIOS MESES, os enfermeiros esperam que lhes sejam pagas as horas extraordinárias, de turnos que são mesmo extraordinários, temos médicos, directores de serviço, que "sugam" as horas extraordinárias para si e são-lhes pagas pequenas fortunas a tempo e horas. Ou seja, fazem todos aqueles turnos valiosos de fins de semana e afins, onde são pagos a peso de ouro, porque estão no topo da hierarquia.
Vemos folhas de vencimento deste senhores com valores (SÓ DE PAGAMENTOS DE HORAS EXTRAORDINÁRIAS) superiores a 5000 euros.
Como é que isto acontece? Como é que isto é permitido? Expliquem-me!

Se os administradores hospitalares quiserem de facto demonstrar trabalho e poupança ao Sócrates, que tanto se queixa da crise, sejam justos, coerentes e rigorosos e não permitam esta vergonha!
Existe um site criado pelo PSD, que possibilita que o cidadão sugira medidas de poupança. Eu fiz o meu dever, expus este facto vergonhoso e ao mesmo tempo deixei uma alternativa, que não é nada mais nada menos, do que analisar esta situação e não permitir esta manipulação gananciosa.
Visitem http://www.cortardespesas.com/ e façam também a vossa sugestão. Ela é analisada obrigatoriamente pelo gabinete de estudos nacionais do PSD e eventualmente, caso seja pertinente, poderá ir à Assembleia. Depois não digam que ninguém vos ouve. Cá está a vossa oportunidade!
POR ROBIN DOS HOSPITAIS

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Atende o telemobele


O telemóvel é capaz de ter sido uma das invenções do século. Para muitas pessoas tornou-se um objecto tão ou mais íntimo quanto um vibrador.
Vive atrelado ao seu dono e é continuamente tocado e observado. E é devido a esta dependência desmedida, que muitas pessoas perdem a noção do sensato e cometem as cenas mais absurdas, como por exemplo:
Atender o telemóvel quando se está à mesa a jantar com a família.
Deixar o telemóvel tocar, numa sala de aula, a alto e bom som, não pedir desculpa e sair para o atender.
Atender o telemóvel enquanto se está numa consulta médica ou de enfermagem, ou a ser atendido pelo funcionário dos correios ou finanças, etc
Atender o telemóvel quando se está a tratar ou observar um doente.
E por último, mas não o último,
Parar de fazer a massagem cardíaca a uma vítima de paragem cardio-respiratória, para atender o telemóvel.
Não façam essa cara... é mesmo verdade.
O som do telemóvel a tocar parece tornar as pessoas tão cegas e estúpidas ao ponto de ter que atendê-lo incondicionalmente, mesmo que se esteje a fazer a coisa mais importante do mundo.
Agora pensemos 2 vezes antes de atender o telemóvel que está no bolso. Que tenhamos bem presente que ele pode tocar sem ser atendido e que tem lá uma opção que diz rejeitar ou silêncio.

sábado, 18 de setembro de 2010

A Saúde mental dos portugueses

Transcrição do artigo do médico psiquiatra Pedro Afonso, publicado no Público, 2010-06-21

Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas.
Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família. Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria.
Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.
E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.

Pedro Afonso
Médico psiquiatra

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A geração dos queixosos

Na triagem...
Entra uma doente com cerca de 80 anos, Rosa de seu nome, acompanhada por uma senhora que aparentava 50.

Acompanhante - Sr. Enfermeiro, a minha tia está muito mal da barriga, anda com muitas dores!

Enfermeiro - Então D. Rosa, você está com dores?

D. Rosa - Humm.. Um pouquito de vez em quando...

Acompanhante - Oh! Não ligue Sr. Enfermeiro, ela não se queixa! Não é do nosso tempo!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Enfermeiro de serviço de urgência no top ten de profissões mais ingratas


No mesmo estudo divulgado no post anterior, sobre boas maneiras e bons costumes dos utentes/acompanhantes, conclui-se que ser enfermeiro de serviço de urgência é considerado uma das profissões mais ingratas. Veja em seguida a lista completa,

1. Porteiro
2. Funcionário dos correios
3. Revisor da CP
4. Polícia
5. Auxiliar de acção médica
6. Caixa de estabelecimento comercial
7. Enfermeiro (serviço de urgência)
8. Bombeiro
9. Enfermeiro (outros serviços)
10. Professor

O que nos vale é que ainda temos uns poucos que nos reconhecem e dão valor. Há dias recebi um email que circulou com um agradecimento de um utente, extensivo a vários serviços do hospital e alguém terá comentado (e bem)  - "Haja alguém que ainda nos dá valor".
Para quem não leu o post anterior, tudo isto é inventado

sábado, 4 de setembro de 2010

Mais de metade dos utentes do SNS não diz "Obrigado"


Um estudo efectuado pela Universidade de Aveiro em parceria com porquedeixeideserenfermeiro.blogspot.com, chegou a conclusão que, em cada 20 utentes dos serviços nacionais de saúde,

12 não cumprimentam os profissionais
11 não agradecem o(s) serviço(s) prestado(s)
3 tem atitudes ofensivas (injúria, ameaça, desrespeito, insinuação).

NOTA: Todos estes dados são pura invenção. Não passam de uma mera estatística mental do autor, que encontrou assim uma forma de expôr a cruel evidência - a medida que passam os anos, a sociedade (TODOS NÓS) perde as boas maneiras e os bons costumes.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A última e derradeira petiçao de enfermagem

Como já vos tinha dito, enfermagem é certamente a profissão que mais petições cria.
Entendo por petição, um último recurso, uma tentativa desesperada de tentar expressar algo tremendamente injusto a altas instâncias. Terá algum efeito?! Não sei... Mas nada custa tentar.
Assina e divulga. Entra em:

PETIÇÃO PELA CARREIRA DE ENFERMAGEM

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Queixas despercebidas

Aguardava observação uma idosa vítima de traumatismo craneano...
Acompanhante - Srª Enfermeira, a minha tia está a queixar-se muito do peito!
Enfermeira - Mas a sua tia tem é que se queixar da cabeça!

Passados uns minutos a senhora estava a ser tratada na sala de emergência por um edema agudo do pulmão.
Nunca desvalorizemos as queixas por mais estranhas que pareçam

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Ajuda para reportagem

Olá colegas! O blog tem passado por alguns conflitos, alguma polémica, vamos lá amainar... respirar fundo, relax, respiração diafragmática, a brisa fresca lá fora, som das ondas, dos pássaros.......
Bom agora coisas sérias.
Fui contactado por alguém, que não interessa quem, para uma ajuda sobre "uma reportagem de fundo sobre assédio sexual por parte de profissionais de saúde. O tema, aprofundado, poderá incluir não apenas assédio propriamente dito, mas comportamentos impróprios de cariz sexual ou íntimo: desde um discurso ambíguo, a toques corporais desadequados, comentários incómodos, posturas pouco profissionais perante pacientes (acordados ou sedados), etc."
É algo sério e desde já é pedido a vossa ajuda, completamente livre de identificações (garantia do autor). Se assistiram, tiveram conhecimento, ou saibam quem tem conhecimento de casos, entrem em contacto comigo e eu servirei de intermediário entre vós e o autor. Participem, divulgem, acho que é nosso dever. Obviamente que não vos vão pedir para falar em nomes, apenas de situações.
Abraço a todos e não esqueçam o som das ondas.
Para relembrar o meu email é guilhermedecarmo@iol.pt

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Curtas estapafúrdias vol VII - A minha cruz

Aguardava observação no corredor, uma jovem com deficiência mental profunda, junto de sua mãe. No meio da conversa banal,  entre um médico e a mãe, diz o primeiro:
- Agora você tem esta cruz, tem que a aguentar.
- Não senhor doutor não é cruz nenhum, é a minha filha.

Sem comentários da minha parte

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O pingue-pongue de doentes


Nós enfermeiros temos que admitir que temos mau feitio. Mais cedo ou mais tarde, quem não o tem, há-de ter. Temos mau feitio, reclamámos, esbracejámos, mas o pior é que isto acontece entre nós próprios. Somos maus uns para os outros.
Por que razão um doente chega a um serviço de internamento, depois de subir uns tantos pisos e é recambiado para trás, porque, por exemplo, o enfermeiro da urgência não lhe pôs a tração cutânea??!
Da mesma forma que o enfermeiro receptor considera um abuso enviar o doente sem a tração, é legítimo o enfermeiro emissor considerar uma canalhice recambiar o doente, sem que antes se procure uma justificação para o sucedido.
Pior ainda é quando o enfermeiro emissor está cheio de trabalho e o receptor está a ler revistas.
E pior pior, é quando o doente chega lá cima com a tração, mas é retirada e recolocada ao jeito do receptor.
E pior pior pior é o dinheiro gasto em material.
E pior pior pior pior é o tempo que o maqueiro perde a levar, trazer e voltar a levar o doente.
E pior pior pior pior pior é o para o doente, que anda de um lado para o outro, quando deveria estar quietinho.
E pior pior pior pior pior pior é permitir que se tenha que colocar a tração na Urgência, procedimento este sem qualquer sentido naquele momento, já que os pesos (que é o que faz a tração propriamente dita) são colocados lá em cima.
É daquelas coisas que não fazem sentido nenhum, mas que persistem, porque sempre se fez assim.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O Cavaco respondeu-me


Quando vi o email pensei que fosse a Belém, uma amiga de longa data, mas não... era de Belém, residência oficial do Cavaco. Lembram-se quando há uns posts atrás publiquei a carta que lhe enviei?
Já me responderam, mas não disseram nada de jeito, apenas agradecem o envio da mensagem sobre os profissionais de enfermagem e dão-me os melhores cumprimentos. Show!
Eu à espera duma mensagem tipo "a Sr Ana Jorge e o sr Piçarro estão prestes abandonar os cargos" ou "o problema dos enfermeiros muito em breve vai ser resolvido e pedimos desculpa desde já pelos transtornos causados", mas não... 

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Crónicas estapafúrdias vol IX - Conversas de sala 5













Médico - Então o que lhe aconteceu?
Utente - Olhe Doutor, tive uma queda em Lisboa e parti o pé, fui observada no S. José e o médico, com o meu consentimento, achou que deveria pôr o gesso cá em Viana, por causa da viagem longa.
Médico - Esse filho da puta não quis foi trabalho!!
Utente - Como?! Olhe desculpe, mas foi com o meu consentimento e trago aqui o diagnóstico...
Médico - Pelo menos esse filho da puta podia ter escrito uma carta para eu lhe responder
Utente - Esses problemas entre vós, não me interessam para nada, quero é o meu problema resolvido...

Mais tarde...
Médico - Então a menina o que estava a fazer por Lisboa?
Utente - Em trabalho..
Médico - E o que faz?
Utente - Sou podologista
Médico - Então não sabe tratar da sua pata?
Utente - Se tivesse pata ia ao veterinário!!
Médico - Tou a ver que não se pode brincar com a menina!
Utente - Brincar é uma coisa, falta de educação é outra! Desde o início da consulta que está a ser malcriado!

E mais uma utente que abandona o serviço sem o seu problema resolvido
E mais uma no livro amarelo, para encher e nada se fazer... escusado será dizer que todas as crónicas estapafúrdias são baseadas em factos reais

quinta-feira, 29 de julho de 2010

A erosão nos hospitais

Alcoolismo, burnout, problemas psíquicos, envelhecimento precoce, etc, etc, foram e são alguns dos problemas que me preocupam e sobre os quais dediquei já alguma reflexão aqui no pddse. E não foi porque fica bem falar nestes problemas num blog que pretende abordar alguns assuntos sérios relacionados com a saúde dos doentes e profissionais.
É porque de facto isto assusta-me.
Assusta-me o que vejo.
Assusta-me o desgaste psicológico que vejo em profissionais cada vez mais jovens.
Assustam-me os problemas de saúde graves de alguns profissionais de saúde.
Assusta-me a velhice que já aparentam em idade pré-reforma.
Assusta-me a pressão que é exercida… e que desgasta.
Assusta-me o meu, o nosso futuro.

Será que me imagino enfermeiro com 65 anos anos? Não me imagino e não imagino muitos de vós… Não há condições para desempenhar de forma saudável, pelo menos em quem se preocupa e incomoda com as merdas que acontecem. Ou o segredo está em não te preocupares?! Será esse “O segredo” da Rhonda Byrne?! Não sei, nem saberei tão cedo porque nunca tive lá muita curiosidade em lê-lo, mas isso também em nada interessa.

Sabem o que interessa?? É saber porque raio os enfermeiros têm de responder por toda a merda que acontece num hospital??!
Um doente teve mais de uma hora à espera para ser visto pelo médico, as coisas deram pró torto, Quem é apontado? O enfermeiro.
O doente caiu da maca, o enfermeiro estava na outra ponta a tratar um dos 30 que tinha à responsabilidade, de quem é a culpa? Do enfermeiro
O doente demorou a ser triado, porque há mais 10 em espera à frente, calhou de enfartar, correu mal, quem é o responsável? O mesmo

E não me venham com merdas de vitimização, enfermeiros “coitadinhos, só se sabem queixar”, de “é o vosso trabalho!”, “são as vossas responsabilidades!”.
Temos responsabilidades, assumimos responsabilidades, mas não podemos responder por aquilo que as ultrapassa por falta de condições.
Abram os olhos e vejam senhores administradores, vejam as condições de trabalho dos profissionais, visitem o serviço de urgência durante umas 6 horitas, não peço mais. Aproveitem e visitem agora, no tempo de Verão e deixem de apontar dedos e responsabilizar quem "faz das tripas coração".
Avaliem antes de julgar, pensem antes de apontar.

E é isto que desgasta e é isto que me assusta.
É isto a erosão nos hospitais

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O melro e as mensagens subliminares


No último post, recebi o seguinte comentário do meu fiél seguidor CAPITÃO:
"Os melros competem com os melros, embora tenham de ter muito cuidado com os gatos!" Tal como prometido e do mesmo jeito subliminar, dedico-lhe esta fabulosa ode de Guerra Junqueiro... Deliciem-se e aprendam

O melro, eu conheci-o:
Era negro, vibrante, luzidio,
Madrugador, jovial;
Logo de manhã cedo
Começava a soltar, dentre o arvoredo,
Verdadeiras risadas de cristal.
E assim que o padre-cura abria a porta
Que dá para o passal,
Repicando umas finas ironias,
O melro; dentre a horta,
Dizia-lhe: "Bons dias!"
E o velho padre-cura
não gostava daquelas cortesias.

O cura era um velhote conservado,
Malicioso, alegre, prazenteiro;
Não tinha pombas brancas no telhado,
Nem rosas no canteiro:
Andava às lebres pelo monte, a pé,
Livre de reumatismos,
Graças a Deus, e graças a Noé.
O melro desprezava os exorcismos
Que o padre lhe dizia:
Cantava, assobiava alegremente;
Até que ultimamente
O velho disse um dia:

"Nada, já não tem jeito!, este ladrão
Dá cabo dos trigais!
Qual seria a razão
Por que Deus fez os melros e os pardais?!"

E o melro entretanto,
Honesto como um santo,
Mal vinha no oriente
A madrugada clara,
Já ele andava jovial, inquieto,
Comendo alegremente, honradamente,
Todos os parasitas da seara
Desde a formiga ao mais pequeno insecto.
E apesar disto, o rude proletário,
O bom trabalhador,
Nunca exigiu aumento de salário.

Que grande tolo o padre confessor!

Foi para a eira o trigo;
E, armando uns espantalhos,
Disse o abade consigo:
"Acabaram-se as penas e os trabalhos."
Mas logo de manhã, maldito espanto!
O abade, inda na cama,
Ouvindo do melro o costumado canto,
Ficou ardendo em chama;
Pega na caçadeira,
Levanta-se dum salto,
E vê o melro, a assobiar, na eira,
Em cima do seu velho chapéu alto!

Chegou a coisa a termo
Que o bom do padre-cura andava enfermo;
Não falava nem ria,
Minado por tão íntimo desgosto;
E o vermelho oleoso do seu rosto
Tornava-se amarelo dia a dia.
E foi tal a paixão, a desventura
(Muito embora o leitor não me acredite),
Que o bom do padre-cura
Perdera o apetite!

Andando no quintal, um certo dia,
Lendo em voz alta o Velho Testamento,
Enxergou por acaso (que alegria!,
Que ditoso momento!)
Um ninho com seis melros, escondido
Entre uma carvalheira.

E ao vê-los exclamou enfurecido:

"A mãe comeu o fruto proibido;
Esse fruto era minha sementeira:
Era o pão, e era o milho;
Transmitiu-se o pecado.
E, se a mãe não pagou, que pague o filho.
É doutrina da Igreja. Estou vingado!"

E, engaiolando os pobres passaritos,
Soltava exclamações:
"É uma praga. Malditos!
Dão me cabo de tudo esses ladrões!
Raios os partam! Andai lá que enfim"

E deixando a gaiola pendurada,
Continuou a ler o seu latim,
Fungando uma pitada.

Vinha tombando a noite silenciosa;
E caía por sobre a natureza
Uma serena paz religiosa,
Uma bela tristeza
Harmónica, viril, indefinida.
A luz crepuscular
Infiltra-nos na alma dorida
Um misticismo heróico e salutar.
As árvores, de luz inda douradas,
Sobre os montes longínquos, solitários,
Tinham tomado as formas rendilhadas
Das plantas dos herbários.
Recolhiam-se a casa os lavradores.
Dormiam virginais as coisas mansas:
Os rebanhos e as flores,
As aves e as crianças.

Ia subindo a escada o velho abade;
A sua negra, atlética figura,
Destacava na frouxa claridade,
Como uma nódoa escura.
E, introduzindo a chave no portal,
Murmurou entre dentes:

"Tal e qual tal e qual!
Guisados com arroz são excelentes."

* * * * * *
Nasceu a Lua. As folhas dos arbustos
Tinham o brilho meigo, aveludado,
Do sorriso dos mártires, dos justos.
Um eflúvio dormente e perfumado
Embebedava as seivas luxuriantes.
Todas as forças vivas da matéria
Murmuravam diálogos gigantes
Pela amplidão etérea.
São precisos silêncios virginais,
Disposições simpáticas, nervosas,
Para ouvir falar estas falas silenciosas
Dos mundos vegetais.
As orvalhadas, frescas espessuras,
Pressentiam-se quase a germinar.
Desmaiavam-se as cândidas verduras
Nos magnetismos brancos do luar.
..................................................
..................................................

E nisto o melro foi direito ao ninho.
Para o agasalhar, andou buscando
Umas penugens doces como arminho,
Um feltrozito acetinado e brando.
Chegou lá, e viu tudo.
Partiu como uma frecha; e, louco e mudo,
Correu por todo o matagal; em vão!
Mas eis que solta de repente um grito
Indo encontrar os filhos na prisão.

"Quem vos meteu aqui?!" O mais velho,
Todo tremente, murmurou então:

"Foi aquele homem negro. Quando veio,
Chamei, chamei Andavas tu na horta
Ai que susto, que susto!, ele é tão feio!
Tive-lhe tanto medo! Abre esta porta
E esconde-nos debaixo da tua asa!
Olha, já vão florindo as açucenas;
Vamos a construir a nossa casa
Num bonito lugar
Ai! quem me dera, minha mãe, ter penas
Para voar, voar!"

E o melro alucinado
Clamou:

"Senhor! senhor!
É porventura crime ou é pecado
Que eu tenha muito amor
A estes inocentes?!
Ó natureza, ó Deus, como consentes
Que me roubem assim os meus filhinhos,
Os filhos que eu criei!
Quanta dor, quanto amor, quantos carinhos,
Quanta noite perdida
Nem eu sei...
E tudo, tudo em vão!
Filhos da minha vida
Filhos do coração!!!
Não bastaria a natureza inteira,
Não bastaria o Céu par voardes,
E prendem-vos assim desta maneira!
Covardes!
A luz, a luz, o movimento insano,
Eis o aguilhão, a fé que nos abrasa
Encarcerar a asa
É encarcerar o pensamento humano.
A culpa tive-a eu! Quase à noitinha
Parti, deixei-os sós
A culpa tive-a eu, a culpa é minha,
De mais ninguém! Que atroz!
E eu devia sabê-lo!
Eu tinha obrigação de adivinhar
Remorso eterno! eterno pesadelo!
.................................................

Falta-me a luz e o ar! Oh, quem me dera
Ser abutre ou fera
Para partir o cárcere maldito!
E como a noite é límpida e formosa!
Nem um ai, nem um grito
Que noite triste!, oh, noite silenciosa!"

E a natureza fresca, omnipotente,
Sorria castamente
Com o sorriso alegre dos heróis.
Nas sebes orvalhadas,
Entre folhas luzentes como espadas,
Cantavam rouxinóis.

Os vegetais felizes
Mergulhavam as sôfregas raízes
A procurar na terra as seivas boas,
Com a avidez e as raivas tenebrosas
Das pequeninas feras vigorosas
Sugando à noite os peitos das leoas.
A lua triste, a Lua merencória,
Desdémona marmórea,
Rolava pelo azul da imensidade,
Imersa numa luz serena e fria,
Branca como a harmonia,
Pura como a verdade.
E entre a luz do luar e os sons das flores,
Na atonia cruel das grandes dores,
O melro solitário
Jazia inerte, exânime, sereno,
Bem como outrora o Nazareno
Na noite do calvário!

Segundo o seu costume habitual,
Logo de madrugada
O padre-cura foi para o quintal,
Levando a Bíblia e sobraçando a enxada.
Antes de dizer missa,
O velho abade inevitavelmente
Tratava da hortaliça
E rezava a Deus-Padre Omnipotente
Vários trechos latinos,
Salvando desta forma, juntamente,
As ervilhas, as almas e os pepinos.

E já de longe ia bradando:

"Olé!
Dormiram bem? Estimo
Eu lhes darei o mimo,
Canalha vil, grandíssima ralé!
Então vocês, seus almas do Diabo,
Julgam que isto que era só dar cabo
Da horta e do pomar,
E o bico alegre e estômago contente,
E o camelo do cura que se aguente,
Que engrole o seu latim e vá bugiar!
Grandes larápios! Era o que faltava
Vocês irem ao milho,
E a mim mandar-me à fava!
Pois muito bem, agora que vos pilho
Eu vos ensinarei, meus safardanas!
Vocês são mariolões, são ratazanas,
Têm bico, é certo, mas não têm tonsura
E, nas manhas, um melro nunca chega
Às manhas naturais de um padre-cura.
O melhor vinho que encontrar na adega
É para hoje, olé! Que bambochata!
Que petisqueira! Melros com chouriço!
E então a Fortunata
Que tem um dedo e jeito para isso!
Hei-de comer-vos todos um a um,
Lambendo os beiços, com tal gana enfim,
Que comendo-vos todos, mesmo assim
Eu fico ainda quase em jejum!
E depois de vos ter dentro da pança,
Depois de vos jantar,
Vocês verão como o velhote dança,
Como ele é melro e sabe assobiar!"

Mas nisto o padre-cura, titubeante,
Quase desfalecendo,
Atónito de horror, parou diante
Deste drama estupendo:

O melro, ao ver aproximar o abade,
Despertou da atonia,
Lançando-se furioso contra a grade
Do cárcere. Torcia,
Para os partir os ferros da prisão,
Crispando as unhas convulsivamente
Com a fúria dum leão.
Batalha inútil, desespero ardente!
Quebrou as garras, depenou as asas
E alucinado, exangue,
Os olhos como brasas,
Herói febril, a gotejar em sangue,
Partiu num voo arrebatado e louco,
Trazendo, dentro em pouco,
Preso do bico, um ramo de veneno.
E belo e grande e trágico e sereno,
Disse:
"Meus filhos, a existência é boa
Só quando é livre. A liberdade é a lei,
Prende-se a asa mas a alma voa
Ó filhos, voemos pelo azul! Comei!" -

E mais sublime do que Cristo, quando
Morreu na Cruz, maior do que Catão,
Matou os quatro filhos, trespassando
Quatro vezes o próprio coração!
Soltou, fitando o abade, uma pungente
Gargalhada de lágrima, de dor,
E partiu pelo espaço heroicamente,
Indo cair, já morto, de repente
Num carcavão com silveiras em flor.

E o velho abade, lívido d'espanto,
Exclamou afinal:
"Tudo o que existe é imaculado e é santo!
Há em toda a miséria o mesmo pranto
E em todo o coração há um grito igual.
Deus semeou d'almas o universo todo.
Tudo que o vive ri e canta e chora
Tudo foi feito com o mesmo lodo,
Purificado com a mesma aurora.
Ó mistério sagrado da existência,
Só hoje te adivinho,
Ao ver que a alma tem a mesma essência,
Pela dor, pelo amor, pela inocência,
Quer guarde um berço, quer proteja um ninho!
Só hoje sei que em toda a criatura,
Desde a mais bela até à mais impura,
Ou numa pomba ou numa fera brava,
Deus habita, Deus sonha, Deus murmura!
............................................................
Ah, Deus é bem maior do que eu julgava"

E quedou silencioso. O velho mundo,
Das suas crenças antigas, num momento,
Viu-o sumir exausto, moribundo,
Nos abismos sem fundo
Do temeroso mar do Pensamento.
E chorou e chorou A Igreja, a Crença,
Rude montanha, pavorosa, escura,
Que enchia o globo com a sombra imensa
Dos seus setenta séculos d'altura;
O Himalaia de dogmas triunfantes,
Mais eternos que o bronze e que o granito,
Onde aos profetas Deus falava dantes,
Entre raios e nuvens trovejantes,
Lá dos confins sidérios do infinito;
Esse colosso enorme, em dois instantes
Viu-o tremer, fender-se e desabar
Numa ruína espantosa,
Só de tocar-lhe a asa vaporosa
Duma avezinha trémula, a expirar!
.................................................
.................................................
E, arremessando a Bíblia, o velho abade
Murmurou:
"Há mais fé e há mais verdade,
Há mais Deus concerteza
Nos cardos secos dum rochedo nu
Que nessa Bíblia antiga Ó Natureza,
A única Bíblia verdadeira és tu!..."

Guerra Junqueiro

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Irrrrra!

Muito trabalho, muito calor e muita desinspiraçao. Só passo mesmo por aqui para apontar mais algumas coisas que me tiram do sério sobre a classe.. Só pra me relembrar de nunca ser assim.
Irritam-me enfermeiros graxistas lambe-botas dos chefes.
Irritam-me enfermeiros que gostam de se armar em médicos.
Irritam-me enfermeiros que criticam persistentemente os senhores doutores, dizendo que não fazem um corno, mas depois são capazes de ocupar o seu curto tempo a executar técnicas que são da competência dos médicos.
Irritam-me enfermeiros que criticam os atrasos e demoras dos colegas, mas depois são os primeiros a atrasar-se e a demorar.
Irritam-me os enfermeiros que tratam doentes idosos por "Ó santinho(a)!". (bless you
Irritam-me os enfermeiros (e não só) que dizem "Aquele doente está todo mijado e cagado". (esta já tinha falado, mas é sempre de bom tom relembrar)
Irritam-me os enfermeiros que não sabem merda nenhuma e agem que se fossem os reis da sapiência.
Irritam-me os enfermeiros que defendem a merda da CIPE.
Irritam-me os enfermeiros que se contorcem para orientar alunos e depois lançam-nos às feras e nem se incomodam em investir na preparação da formação.
Irritam-me os enfermeiros que dizem que as especialidades são um absurdo.
Irritam-me os enfermeiros que dizem que a licenciatura foi um absurdo.
Irritam-me os enfermeiros que criticam sindicatos, mas que nunca fizeram um corno para lutar pela classe e nem sequer são sindicalizados.
Irritam-me os enfermeiros que pisam a classe, os colegas, para animar administrações e assim subir no poleiro. Tipo dispensar enfermeiros de turno, para manter rácios saudáveis para as administrações.
Irritam-me enfermeiros políticos.
Irritam-me enfermeiros que têm 127 empregos.
Irritam-me enfermeiros que tratam auxiliares da mesma forma que alguns lacaios médicos tratam enfermeiros.
Enfim, irrita-me muita merda, mas não sou um gajo irritado.
Só para terminar, irrita-me quem critique este post... agora foi para descomprimir, critiquem à vontade. E já agora, contem lá o que vos irrita. Mas não se irritem!!!

sábado, 10 de julho de 2010

A Novela do Sr Salomão


Recentemente enviaram, para um post antigo do blog, um "comentário", que tudo leva a querer que seja mais uma das façanhas incríveis do nosso sistema (laboral e judicial), embora não compreenda alguns lançes, que o autor poderá explicar posteriormente. Pelo seu conteúdo achei que seria importante dar-vos a conhecer. O Sr Salomão faz então a seguinte queixa:

"NENHUM FUNCIONARIO PUBLICO, ESTÁ LIVRE DE PASSAR POR UMA NOVELA COMO A MINHA.
ULSAM+ACSS+ESTADO NÃO QUEREM ASSUMIR ERRO DA LEI 53/2006 E TENTAM ENCOBRIR.
DURANTE 23 MESES ESTIVE ENGANADO NA MOBILIDADE ESPECIAL,SEM ME PAGAREM ORDENADO E A LEI A QUE ESTAVA AFECTO, NÃO ME PERMITIA TRABALHAR PARA O PRIVADO E SEM SUBSIDIOS.
QUEREM ABAFAR O ERRO
E AGORA QUEM PAGA O ERRO?

Sou funcionário público do ministério de saúde (ULSAM), estive em mobilidade especial (lei53/2206) involuntariamente, durante 23 meses. A secretaria-geral nunca me pagou nada, dizendo que o meu processo se encontrava em análise, a lei a que estava afecto (53/2006) não me permitia trabalhar para empresas privadas. Puseram-me na miséria total, vendi tudo para sobreviver e estou endividado, perdi a minha casa, pedi comida a porta do GAF, no meio de toxicodependentes e alcoólicos para marcar a vez de chegada, debaixo de chuva e frio, tinha que fazer 3 km por dia a pé para alimentar a minha família. No fim a secretaria-geral do ministério de saúde ( Dra. Sandra Cavaca) decretou nulidade, remetendo-me para a unidade local de saúde do alto Minho (hospital de Viana do Castelo) onde eu era auxiliar de apoio e vigilância, e todas os direitos de indemnização teriam que ser feitos ao hospital, que cometeu o erro de me enviar e publicação no diário da republica, a minha colocação em sme. Por sua vez o presidente da ULSAM Dr. Martins Alves, não assume o erro descartando-se de que o erro é cometido por a administração central do serviço de saúde (ACSS). Ando em tribunal administrativo de Braga e nada se resolve, está agendada nova audiència para dia 16 Novembro de 2010, que tenho que provar que passei fome, que vendi tudo para sobreviver e que estou cheio de dividas de prestaçoes que não pude cumprir e estou com medo que ainda vou perder o processo com o estado,em suma passei de funcionário publico a miserável. Fui admitido de urgência novamente no hospital e ao fim de 16 anos de quadro da função pública ganho 485 euros e ainda estou no 1º nível e estou com o ordenado penhorado em 320 euro mês, tudo por um engano que não foi meu, eu só queria regressar ao trabalho. Em 2600 casos em mobilidade especial, eu fui o unico desgraçado, tenho vergonha do meu país.
Bem hajam
Atenciosamente
Salomão Mário d'Almeida Santos e Vasconcelos Mendes
tlm 916346420
B.I. Português
Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga
PS: durante este periodo enviei vário emails a pedir ajuda ao Exmo sr Primeiro ministro José Socrates,e a Ministra da saúde

domingo, 27 de junho de 2010

Opiniões VI - A mãe Enfermagem




Deixo-vos com um comentário do João sobre o que é enfermagem. Uma observação perspicaz com uma comparação que para mim, faz todo o sentido.
"Sabem... a enfermagem é a mãe dos hospitais. Passo a explicar, lá em casa quem sabe sempre de tudo, que se desmultiplica em planos e limpezas, tem sempre tudo pronto a horas, é aquela que tem a papinha pronta, que dorme duas horas porque os filhos estão doentes, que tem 15 coisas na cabeça, que remenda, que apazigua os ânimos... no fundo, que é a alma lá de casa... sim é a mãe.
No hospital o enfermeiro tem as mesmas funções...
Vocês pagam á vossa mãe?
Eles também não."

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O (des)acordo do Ministério da Saúde com os enfermeiros

Acabo de ler um email do José Carlos Martins, sobre a novela das negociações...
Definitivamente parece-me que não vamos chegar a lado nenhum. A carreira de enfermagem vai continuar desvalorizada e os enfermeiros a serem licenciados de 2ª... os licenciados pior pagos no país! É para vermos o valor que os nossos governantes dão à enfermagem e saúde portuguesa.
A batalha foi ganha pelo MS, mas parece que já estava ganha desde o início, pois por mais reivindicações, manifestações, greves massivas, protestos e esforços dos enfermeiros e sindicatos, que se fizessem e tivessem, eles (MS) nunca iriam ceder em quase nada, isto porque têm a faca e o queijo na mão.
Têm o poder de fechar unilateralmente as negociações, têm o poder de chantagear, têm a defesa da crise (construída por eles próprios). Têm o poder de nos desunir, têm o poder de mentir, têm o poder de fazer aquilo que bem entendem, porque mandam e quem manda pode.
Temos colegas que sempre fizeram greve e lutaram por aquilo que acham justo, mas que agora ameaçam desistir, pondo em causa o trabalho dos sindicatos.
Temos colegas que continuam indiferentes a tudo isto, que criticam tudo e todos, mas nem greve fazem.
E teremos alguns resistentes que continuam a lutar em todos os sentidos.
Mas todos pensarão, será que vale a pena?
Os enfermeiros revoltam-se, culpam os sindicatos, desgastam-se, dispersam... e a greve ameaça ser um fiasco... e mais uma batalha ganha pelo MS.
O momento em que deveriamos demonstrar o nosso repúdio pelo fecho unilateral de negociações, pelo (des)acordo que o MS diz ter feito,  que pelos vistos não é acordo nenhum, porque simplesmente não houve acordo. O momento onde deveriamos mostrar ainda mais força, é o momento em que definitivamente fracassámos, prova disso é a adesão à manifestação de hoje... pouco mais de 100 enfermeiros estarão em Lisboa, quando as anteriores manifestações foram em número bem superior.... é outro sinal de saturação, desanimo, descrédito nos sindicatos. E mais uma batalha ganha pelo MS
O JCM do SEP bem tenta animar e revoltar as hostes, explicar os factos, o porquê da desconvocação de grande parte da greve, motivar para a importância da manifestação e deste dia de greve, mas não sei...
Eu cá continuarei a fazer o que posso e a lutar por aquilo que é justo!
E vocês?

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Greve anulada

A greve estava prevista para os dias 9, 11, 14, 15, 16, 17 e 18 de Junho.
Numa primeira fase desconvocaram a greve até ao dia 14 inclusive. Após a reunião com o MS desmarcaram também os dias 15, 16 e 17.
Ainda não sei exactamente o que pensar. Se é sinal de cobardia, se era aquilo que era mais viável, dadas as ameaças do MS, se é um retrocesso irreversível, se é um retrocesso prudente... bem, não sei mesmo o que pensar. Uma coisa é certa, se eu me considero um revolucionário nato, um lutador que estará sempre nas fileiras da frente na luta por causas justas e já estou farto desta merda, imagino como estarão os outros que nunca quiseram saber muito disto.
Em parte concordo com o Filipe... eles estão a dar-nos uma lição em processos negociais.
Mas por enquanto, aguardo as explicações do SEP. Só depois disso é que já saberei exactamente o que pensar.
E vocês, o que pensam disto??!

sábado, 12 de junho de 2010

Levas uma estalada nesse cú, que até te regalas!

Irrita-me a falta de educação de uma boa parte dos putos de hoje em dia. No meu tempo nem o maior rufia pensava sequer em tocar num prof e ai de quem lhe faltasse à educação, era logo conselho directivo, uns dias em exílio para reflectir e sopa de urso em casa. Actualmente é o que se vê... empurrões, murros, estaladas e insultos e se o prof se passa e dá um apertão ao puto, estão os pais cá fora à espera para acertar contas, ou fazem queixa à TVi.
No meu tempo, ai do filho que levantasse a mão ou falasse mal aos pais! Até andava de lado... Actualmente é o que se vê, putos malcriados, a fazer birras estúpidas e a bater nos pais... mas a culpa é dos pais, que dizem, Ohh Joazinho, então! Tá quietinho! Não sou a favor de violência, mas ficava bem uma "estalada nesse cú".
Irritam-me também estes novos ricos que tratam os filhos por você, Ohh Joazinho, não faça cocó na varanda! Eu cá sempre fui educado a tratar a minha família por tu e houve sempre respeito.
Agora vejam esta peça que trata a avó por você... É de chover chouriças

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Os desabafos de um enfermeiro açoriano


Recebi há uns tempos um email de um colega dos Açores, que achei que devia partilhar convosco. Dizia o seguinte:
Boas!
É com admiração que lhe envio este email... acabei de ler praticamente todos os posts do seu blog e traduziu por palavras tudo o que penso. Gostaria de desabafar exactamente com a mesma pinta que o faz... incrivel! Vou começar por me apresentar... chamo-me (retirado a pedido do autor) e sou enfermeiro há (retirado a pedido do autor) (jovem ainda nestas andanças e no entanto já "farto" da muita mer** que vejo todos os dias). Trabalho numa instituição privada, de assistência psiquiátrica há quase (retirado a pedido do autor) anos...
Residente nos Açores, natural de (retirado a pedido do autor). Tirei o meu curso cá e acabei por cá ficar por opção e necessidade. Na altura aqui, ainda haviam garantias, mas actualmente o quadro está idêntico ao do continente... EPE's, contratos precários, desemprego em enfermagem e a minha antiga escola continua a formar pessoal, como o padeiro às 3 da manhã... é só meter no forno!
Iniciei a minha actividade profissional numa (retirado a pedido do autor)
Vim para (retirado a pedido do autor) cheio de sonhos e ilusões, pensando que local igual ao anterior não existia e enganei-me! Estou no quadro, e dou me por muito "feliz" por estar numa situação que muitos invejam actualmente. No entanto, sinto me completamente frustrado!!
Estou a fazer Noite e estou sozinho como enfermeiro no serviço. Tenho aqui junto a mim, um AAM a passar pelas madornas e outro noutra unidade a fazer provavelmente o mesmo.
Tenho agora sobre a minha responsabilidade cerca de 170 utentes (ou clientes, como dizem agora), distribuidos por 2 Unidades ( Agudos e Crónicos), num edificio com 4 pisos distintos (o edificio está estruturado quase como um labirinto), 1 deles sem acesso por elevador, apenas escadarias. Grande parte dos utentes são idosos, com patologias associadas à idade, além da doença psiquiátrica que os votou à institucionalização. Estou sozinho... rezando para que tudo corra bem!
Os turnos da Manhã, são assegurados por 2 enfermeiros em cada unidade, os turnos da tarde por 1 enfermeiro por unidade e o turno da noite, apenas 1 enfermeiro para as 2 unidades (Segundo a perspectiva de quem só vê papeis, à noite os doentes dormem, pelo que não se justifica estar a pagar a 2 enfermeiros, no minimo, para assegurar o serviço). Há uns meses, fizemos pressão ao nosso director de enfermagem para colocar mais um enfermeiro à noite, e a resposta foi negativa, pois não havia orçamento para admitir mais um enfermeiro. Justificamos o porquê da nossa exigencia, não só baseados no rácio, mas nas necessidades especificas dos utentes e rotinas associadas ao turno da noite... mas não valeu de nada... não havia dinheiro. Mas houve dinheiro para colocar uma senhora licenciada em recursos humanos (que deve ganhar o mesmo ou mais que eu), sentada no seu gabinete (com melhores condições que o nosso - que nem uma janela tem para arejar), para tratar das férias do pessoal e burocracias associadas, das quais nada percebo. Com certeza que é muito mais importante garantir que o pessoal pica o ponto a horas certas, tira os dias certos de férias (sem prejuizo para a instituição), do que garantir bons cuidados de enfermagem aos utentes internados nesta casa.
A minha rotina nas noites, é sempre a mesma: Entrar a rezar para que tudo corra bem e que nenhum utente passe mal ou morra no meu turno, ir às 2 da manha fazer ronda, mudar 30 fraldas com um auxiliar que quer despachar serviço, pois tem que ir dormir, assim, não posso tar cá com caganças de posicionar correctamente, esticar devidamente os lençois, e ficam lixados se peço ajuda para algo que não seja o habitual (só e estritamente mudar fraldas de qualquer jeito e feitio). Rondas aos utentes "independentes" faço sozinho se quiser. Nas rondas piso "escarros" de doentes, urina, fezes... faço acrobacias para me manter de pé e não partir a cabeça...
Às 6:30 começam as higienes dos utentes. Os pobres coitados que no fundo são acamados, são arrastados para o WC sem condições, e lavados à pressão, pois às 7 horas quando entram mais dois auxiliares, os 8 "utentes de cadeira de rodas" já tem que estar aprumadinhos, senão temos o caldo entornado. Às 7h entram uns quantos utentes despidos para os balneários (os considerados "independentes", mas apenas porque se seguram de pé) e lá estou eu a levar uma esfrega até ás 7:30. Durante essa hora, não há enfermeira para ninguém (foi-nos imposto auxiliar-mos nos banhos durante a noite... nós é que auxiliamos o AAM e não o contrário), só e apenas no balneário. Se estiverem a morrer, venham ter comigo!! Como já só tenho meia hora, e se não houver nenhuma complicação, tenho que ver Sinais Vitais necessários, administrar terapêutica, posicionar e mudar fralda a quem fica na cama, fazer notas para com sorte sair antes das 8:30 do serviço com o turno passado. Sinto me orgulhoso?! NÃO!!!! Tenho vergonha de ter tirado uma licenciatura para trabalhar nestas condições, para ganhar uns trocos no fim do mês... sim uns trocos!! Não há dinheiro que pague a minha preocupação por estar sozinho e a responsabilidade que carrego nos meus ombros de 170 pessoas... sim, 170 pessoas!!! Presto cuidados de qualidade ?? NÃO!!! simplesmente não é possivel... faço o que posso!
E isto é só o fio da meada... Agora tenho que ir dar banhos...
Muito obrigada pela disponibilidade... ler o seu blog inspirou me. Abri a boca e não me calei... desculpe!
Continuação de um bom trabalho!!
Enf. xyzxyz

NOTA: Alguns elementos foram retirados deste post a pedido do autor. Além de tudo isto que acabaram de ler, parece que naquele local há perseguição tipo PIDE, pois o colega manifestou-me o seu receio em ser despedido, pois o meio é pequeno e facilmente identificariam o autor. O seu discurso em nada foi modificado. Peço que reflitam no que acabam de ler. A minha vontade era fazer uma denuncia à Ordem, mas só o colega é que se deve pronunciar quanto a isso.
Recuamos 2 séculos no tempo.. a foto que imaginei logo para este post seria uma dos judeus nos campo de concentração, mas depois reconsiderei 

segunda-feira, 31 de maio de 2010

A vergonha das horas extraordinárias

Um (grande) colaborador do pddse enviou-me o seguinte artigo:

Segundo a agência LUSA, A Unidade Local de Saúde de Viana do Castelo (ULSAM) pagou, em 2009, mais de 5,8 milhões de euros de horas extraordinárias a médicos.
Quanto aos enfermeiros, o custo do trabalho extraordinário ascendeu a 800 mil euros.
A ULSAM tem 2621 funcionários, dos quais 528 são médicos e 861 enfermeiros.
Os números constam do Relatório de Contas da ULSAM, entidade que em 2009 teve resultados operacionais de 1,69 milhões de euros positivos e resultados líquidos de 1,49 milhões de euros positivos.

Consultem este artigo completo clicando aqui

É por estas e por outras que o lema deste blog faz todo o sentido...
Como já foi dito num post anterior, os enfermeiros deixaram de receber, já há uns tempos, a remuneração correspondente às horas extraordinárias efectuadas. Agora percebo porquê! É que eram precisos esses milhares de euros para pagar os MILHÕES aos médicos...
Os médicos ganham mais. É um facto.
O hospital precisava de contenção económica. É um facto.
O hospital foi dos poucos que apresentou contas positivas. É um facto.

Agora o que não é de facto aceitável, é deverem dinheiro aos enfermeiros.
Mas que raio de sistema é este?!
Ninguém ouve os médicos a queixarem-se por falta de pagamento, isto porque foram pagos os 5,8 MILHÕES DE EUROS correspondentes a horas extraordinárias.
Quanto aos enfermeiros... pagaram 800 mil euritos e... e... (isto tendo em conta que os enfermeiros são o dobro do número de médicos, até porque não acredito que aqueles dados estejam correctos, mas isso também não interessa muito).
Já entraram os sindicatos ao barulho, a frustração é a diária, a pressão aos chefes é contínua. Mas continua tudo na mesma e promete piorar.
É este o triste país que temos, os mais pobres é que levam sempre com a fava. Não se mexam, não...

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Intermete nojo


No hospital onde eu trabalho, alguém terá tomado a seguinte decisão vergonhosa:
Os médicos, os enfermeiros chefes, os enfermeiros da vmer e outros funcionários têm acesso a internet e os ENFERMEIROS NÃO TÊM ACESSO A INTERNET !!! Ou melhor, OS ENFERMEIROS NÃO TÊM DIREITO A INTERNET !!!.
1º ponto - Eu e muitos como eu, estamo-nos pouco a incomodar pelo facto de não termos internet. Temos o tempo demasiadamente ocupado, por isso dificilmente iriamos ter tempo para navegar.
2º ponto - Eu e muitos como eu, estamos indignados, pelo facto de uns terem direito a internet e outros não. Chama-se a isto DISCRIMINAÇÃO !!!
3º ponto - A internet não é um "bem essencial", mas poderá ser útil para pesquisa no âmbito da saúde, tanto para médicos como enfermeiros. Ou só os médicos é que terão necessidade de pesquisar??!!
4º ponto - Todos sabemos que a internet é muitas vezes utilizada (em trabalho) para fins pouco próprios (como ver o site do jornal "A Bola", ir ao facebook, etc etc). Questiono: Terão, tomado esta decisão, com receio que sejam os enfermeiros os únicos que poderiam navegar por estes sites proibidos??!! É que, não sei se sabem, mas toda a gente o faz (o que está mal!), excluindo os ENFERMEIROS QUE NÃO TÊM DIREITO A INTERNET !!!.
5º ponto - Também vos garanto que se os ENFERMEIROS TIVESSEM DIREITO A INTERNET !!!, iriam visitar estes sites pouco próprios (o que está mal!), mas acredito que se o fizessem, sendo pessoas responsáveis, só o fariam quando não tivessem trabalho que fazer
SOLUÇÃO: limitar o acesso apenas a sites relacionados com saúde e interdir todos os outros.. é uma ideia, ou entao acabar de vez com a Internet, porque OU É PARA TODOS OU NÃO É PARA NENHUM!!! OU VIVEMOS NALGUM REINADO??!!

sábado, 22 de maio de 2010

Deixarei de pagar Quotas!


A classe de enfermagem é certamente aquela que mais petições cria. E quando isso acontece, é porque as coisas não andam bem. Desta vez criou-se uma petição contra o aumento das quotas na Ordem dos Enfermeiros.
Acho que é um insulto aumentarem a quota desta forma, por isso eu vou assinar. Se me dissessem que a Ordem estava a defender a classe, a defender e exigir cuidados de enfermagem de qualidade, a pressionar as administrações que persistentemente atacam a classe, a resolver o problemas das especialidades, etc, etc, etc, eu até pagaria o valor que se fala, ou mais.
Mas porque vejo muita inércia, muito esbanjamento em viagens e instalações palaciais, garanto-vos aqui que deixarei de pagar quotas. Já todos os meses me/nos levam perto de 8 euros e cada vez que transfiro dinheiro para a Ordem sinto um amargo de boca, porque sinto que é o dinheiro mais mal empregue...
Não brinquem comigo/connosco, tenho mais que fazer ao pouco dinheiro que ganho!! Estamos em crise?! É a inflação?! É do PEC?! Não gozem... esta deve ser a Ordem mais rica do país!!
Assinem a petição aqui