segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Atende o telemobele


O telemóvel é capaz de ter sido uma das invenções do século. Para muitas pessoas tornou-se um objecto tão ou mais íntimo quanto um vibrador.
Vive atrelado ao seu dono e é continuamente tocado e observado. E é devido a esta dependência desmedida, que muitas pessoas perdem a noção do sensato e cometem as cenas mais absurdas, como por exemplo:
Atender o telemóvel quando se está à mesa a jantar com a família.
Deixar o telemóvel tocar, numa sala de aula, a alto e bom som, não pedir desculpa e sair para o atender.
Atender o telemóvel enquanto se está numa consulta médica ou de enfermagem, ou a ser atendido pelo funcionário dos correios ou finanças, etc
Atender o telemóvel quando se está a tratar ou observar um doente.
E por último, mas não o último,
Parar de fazer a massagem cardíaca a uma vítima de paragem cardio-respiratória, para atender o telemóvel.
Não façam essa cara... é mesmo verdade.
O som do telemóvel a tocar parece tornar as pessoas tão cegas e estúpidas ao ponto de ter que atendê-lo incondicionalmente, mesmo que se esteje a fazer a coisa mais importante do mundo.
Agora pensemos 2 vezes antes de atender o telemóvel que está no bolso. Que tenhamos bem presente que ele pode tocar sem ser atendido e que tem lá uma opção que diz rejeitar ou silêncio.

sábado, 18 de setembro de 2010

A Saúde mental dos portugueses

Transcrição do artigo do médico psiquiatra Pedro Afonso, publicado no Público, 2010-06-21

Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas.
Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família. Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria.
Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.
E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.

Pedro Afonso
Médico psiquiatra

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A geração dos queixosos

Na triagem...
Entra uma doente com cerca de 80 anos, Rosa de seu nome, acompanhada por uma senhora que aparentava 50.

Acompanhante - Sr. Enfermeiro, a minha tia está muito mal da barriga, anda com muitas dores!

Enfermeiro - Então D. Rosa, você está com dores?

D. Rosa - Humm.. Um pouquito de vez em quando...

Acompanhante - Oh! Não ligue Sr. Enfermeiro, ela não se queixa! Não é do nosso tempo!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Enfermeiro de serviço de urgência no top ten de profissões mais ingratas


No mesmo estudo divulgado no post anterior, sobre boas maneiras e bons costumes dos utentes/acompanhantes, conclui-se que ser enfermeiro de serviço de urgência é considerado uma das profissões mais ingratas. Veja em seguida a lista completa,

1. Porteiro
2. Funcionário dos correios
3. Revisor da CP
4. Polícia
5. Auxiliar de acção médica
6. Caixa de estabelecimento comercial
7. Enfermeiro (serviço de urgência)
8. Bombeiro
9. Enfermeiro (outros serviços)
10. Professor

O que nos vale é que ainda temos uns poucos que nos reconhecem e dão valor. Há dias recebi um email que circulou com um agradecimento de um utente, extensivo a vários serviços do hospital e alguém terá comentado (e bem)  - "Haja alguém que ainda nos dá valor".
Para quem não leu o post anterior, tudo isto é inventado

sábado, 4 de setembro de 2010

Mais de metade dos utentes do SNS não diz "Obrigado"


Um estudo efectuado pela Universidade de Aveiro em parceria com porquedeixeideserenfermeiro.blogspot.com, chegou a conclusão que, em cada 20 utentes dos serviços nacionais de saúde,

12 não cumprimentam os profissionais
11 não agradecem o(s) serviço(s) prestado(s)
3 tem atitudes ofensivas (injúria, ameaça, desrespeito, insinuação).

NOTA: Todos estes dados são pura invenção. Não passam de uma mera estatística mental do autor, que encontrou assim uma forma de expôr a cruel evidência - a medida que passam os anos, a sociedade (TODOS NÓS) perde as boas maneiras e os bons costumes.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A última e derradeira petiçao de enfermagem

Como já vos tinha dito, enfermagem é certamente a profissão que mais petições cria.
Entendo por petição, um último recurso, uma tentativa desesperada de tentar expressar algo tremendamente injusto a altas instâncias. Terá algum efeito?! Não sei... Mas nada custa tentar.
Assina e divulga. Entra em:

PETIÇÃO PELA CARREIRA DE ENFERMAGEM