quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Roupa de "plástico" para os doentes


No meu hospital procura-se poupar naquilo que é mais barato e indispensável. Poupa-se nos lençóis, cobertores, almofadas, pijamas, ou seja tudo que seja roupa.
Poupa-se tanto ao ponto de ocasionalmente não haver cobertores, ao ponto de nunca haver uma almofada para posicionar um doente (talvez pensem que não é necessário posicionar doentes na Urgência, talvez pensem que os doentes fiquem 2 ou 3 horas no Serviço de Urgência no máximo, talvez pensem que os colchões das macas sejam de pressões alternas).
Poupa-se tanto ao ponto de praticamente deixarem de haver pijamas e batas (em tecido/algodão) para passar haver batas num material tipo plástico. (não sei o que fica mais caro, se ter um stock de roupa de algodão e lavá-lo ou ter kits de “roupa de plástico” que são usados uma vez e deitados fora.
Esse kit, além de desproporcional para muitos doentes, não deve ser muito confortável.
Há que dar mérito à famosa senhora que manda no serviço das roupas. Do jeito que ela corta, poupa e manda, bem que o seu serviço deve ser lucrativo.
Poupem naquilo que é caro e dispensável... Um dos exemplos está neste recente post.
Sejam exemplares no básico, só assim é que se conseguem serviços de excelência e hospitais verdadeiramente acreditados.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Enfermagem faz greve à greve


Decerto o José Carlos Martins (Presidente SEP) não se importará que publique as suas palavras de reflexão em torno da greve de 24 de Novembro. 
Acho que será a mensagem ideal para todos nós.

"De acordo com os dados disponibilizados pela CGTP e o balanço final feito pelas Centrais Sindicais, esta Greve Geral foi um importantíssimo dia de protesto e exigência nacional, com uma significativa paralisação do geral dos trabalhadores e uma fortíssima expressão do sector dos transportes. Mesmo em dia de Greve Geral e com paralisação dos transportes, a Manifestação em Lisboa juntou milhares de trabalhadores.

Os Enfermeiros deram o seu contributo. Os dados de adesão a esta Greve Geral são inferiores aos da última Greve Geral (24/Nov/2010) e, naturalmente, bastante inferiores às Greves de Enfermeiros em torno da Carreira. Todos sabemos que a insatisfação e a revolta contra as medidas do Governo são muito superiores ao n.º dos que fizeram Greve. Mas, então, porque não fizeram Greve? Cada um terá as suas razões objetivas e subjetivas. Serão diversas. Mas, certamente, haverá uma grande “mancha” onde a resignação … o não acreditar que é possível, com a luta, mudar … a ausência de esperança em que as “coisas” melhorem … determinou a sua não adesão (isto em articulação com a perda de um dia de salário … que não é o caso no Turno da Noite=Minimos). Para além das pressões e das precariedades.

Neste contexto, de profunda impregnação social da inevitabilidade das medidas movida pela máquina de propaganda do Governo, a nossa/vossa  acção de informação, esclarecimento e de mobilização foi fundamental. Vai continuar a ser fundamental. Cada vez será mais determinante. Isto porque, contrariamente ao “comum” dos enfermeiros,  somos dos que temos consciência que:
- a guerra é longa – é um combate de desgaste – os resultados não se atingem no imediato, após uma batalha, após uma Greve
Teremos de fazer muitas mais guerras… muitas mais Manifestações e Greves … MAS A HISTÓRIA DEMONSTRA, ATÉ “AO TUTANO”, QUE É O MOVIMENTO DE LUTA ORGANIZADO DOS TRABALHADORES QUE PROMOVE/DETERMINA AS MUDANÇAS, AS MELHORIAS, O PROGRESSO… E ELES (GOVERNOS, PATRONATO, FINANÇA) SABEM ISTO …e por isso nos querem desgastar, abater, desalentar.
ESTÃO ROTUNDAMENTE ENGANADOS.
É A CONSCIÊNCIA DISTO QUE NOS MOVE E DÁ ALENTO PARA AS PRÓXIMAS BATALHAS QUE SE AVIZINHAM

A LUTA CONTINUA
FORÇA
ABRAÇO
JCMARTINS"

Concordo em pleno com tudo isto. É por tudo isto que este blog tem o nome que tem. Porque às vezes dá vontade de desistir ao ver tanta descrença e acomodação na maioria dos enfermeiros. 
Só te queixas, criticas tudo e todos, falas mal da Ordem, dos sindicatos. Mas já paraste para pensar?? Já paraste para pensar o que é que tu fizeste para mudar de rumo. Que moral tens tu para criticar, se nem uma greve geral de trabalhadores fazes? Que moral tens tu, se nem no momento de maior expressão de revolta do povo, correspondes com o maior sinal de indignação. Que moral tens tu, se nem uma palha moves pela luta? Sim, porque só com a luta é que se chega lá. A história assim o prova. É pelo dinheiro perdido? É pela descrença? E se todos desacreditarem, para onde vamos?
E se todos acreditássemos, para onde iríamos?
Acorda




sábado, 19 de novembro de 2011

Médicos recebem "subsídio" de "reanimação" ??!



Consta que existe no nosso hospital um certo "subsídio" de cerca de 800 eur/mês para alguns médicos. Esse "subsidio" é-lhes pago por fazerem trabalho de reanimação.

Agora questiono?

E os outros médicos que também integram as equipas de reanimação não teriam igualmente direito a esse "subsídio"?

E os enfermeiros que também integram as equipas de reanimação não teriam igualmente direito a esse "subsídio"?

É que todos têm papel de igual importância no trabalho de reanimação.

Discriminações aparte, A QUE PROPÓSITO ESTE "SUBSÍDIO" EXISTE? 

O trabalho de reanimação não faz parte das funções de qualquer médico?

E os médicos já não são pagos  pelo seu trabalho?

ENTÃO COMO É POSSÍVEL QUE EXISTA ESTE "SUBSIDIO"?

COMO É POSSÍVEL QUE, NOS TEMPOS EM QUE VIVEMOS, SE PERMITA A VERGONHA QUE É ESTE "SUBSÍDIO"?

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Enfermeiros contratados vão pro desemprego


Achei importante publicar o seguinte comentário enviado no último post,


A denúncia parte do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), que fala em perigos para a saúde pública: 100 enfermeiros do Hospital de São João (HSJ), no Porto, estão a perder o emprego por não verem renovados os seus contratos.
A administração do HSJ só confirma 9 casos. Em comunicado, o SEP salienta que são 14.000 horas de cuidados de enfermagem por mês que deixarão de ser prestados aos utentes do hospital. “Todos estes enfermeiros, à semelhança do que acontece em outras instituições, ainda que em situação precária, foram admitidos para fazer face a necessidades permanentes. Estes enfermeiros são necessários! O seu despedimento demonstra a irresponsabilidade do Governo”, realça o sindicato.
Para o SEP, “o aumento dos riscos e as suas consequências resultantes da diminuição de enfermeiros (…) será da responsabilidade do Conselho de Administração do Hospital, dos ministros da Saúde e das Finanças e, por último, do primeiro-ministro”. “Inadmissivelmente, os ministérios da Saúde e das Finanças continuam sem tomar medidas que permitam a permanência dos enfermeiros em situação precária nos serviços”, critica o sindicato, lamentando que a administração do hospital ainda não tenha respondido a um pedido de reunião feito pelo SEP.
Fátima Monteiro, do SEP, refere que já foram dispensados do São João “dezenas de enfermeiros” contratados, estando os restantes a sair à medida que terminam os seus contratos. Segundo Fátima Monteiro, o hospital tem atualmente cerca de 1.700 enfermeiros, mas nalguns serviços a saída de contratados está a reduzir o número de enfermeiros para menos de metade. “É uma situação alarmante. Depois admirem-se que a taxa de infeção hospitalar suba, como foi revelado recentemente num estudo”, frisou.
Fonte do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de São João referiu que “no dia de hoje contam-se em 9 o número de contratos de trabalho de enfermeiros (…) que terminaram e ainda não foram renovados”. Em causa está o despacho 12.083/2011, de 15 de Setembro, dos ministérios das Finanças e da Saúde, que obriga os hospitais a enviarem às administrações regionais de saúde e esta ao Ministério da Saúde “informação detalhada e casuística” que demonstre a imprescindibilidade de contratação ou renovação de contratos.
O MESMO SE ESTA A PASSAR NA ULSAM!!!!!!!

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Que desperdício!



Há um programa interessante na cabo onde um chef de renome, dono de cadeias de restaurantes famosos, vai tentar relançar restaurantes que estão em pré-falência.
Gordon Ramsey, o chef, é implacável na crítica e ríspido no relacionamento, mas o que é certo é que o homem consegue reanimar aqueles restaurantes. Trata-se de um excelente gestor pois não está com rodeios para eliminar os obstáculos para o sucesso.

Num dos episódios alertou o patrão para o desperdício, para o exagero de comida confecionada. Rapidamente percebeu que esse seria um dos motivos para o insucesso do restaurante em “crise”, ensinando ao patrão que um dos segredos para uma boa gestão passava por evitar o desperdício.


E perguntam-me vocês, mas por que carga de água está este lunático a falar em culinária, chefs e gestão de restaurantes, num blog de saúde?!

Eu explico, tudo isto foi para chegar ao ponto-chave deste post, que é o Combate ao desperdício. Portanto fui dar uma grande volta e no fundo o post começa agora. Peço desculpa, às vezes dá-me para estas coisas.


Em qualquer sistema empresarial que se preze, o desperdício é evitado, caso contrário alguém vai acabar por sofrer as consequências.

A minha realidade, que como vocês sabem é um Serviço de Urgência, pertence a um grande sistema empresarial de nome, ULSAM. A ULSAM é uma Unidade de Saúde, que tal como muitas outras Unidades de Saúde, luta para evitar o défice e diminuir os milhões de eur de prejuízo do estado, responsáveis pela crise do país.

O combate à crise depende exclusivamente de uma boa gestão e uma boa gestão começa nas pequenas coisas, como por exemplo a eliminação do desperdício.

Muito haveria por fazer para se poupar num hospital e mais ainda se poderia fazer com os gastos na saúde de uma forma geral, alguns desses temas já foram cá discutidos e brevemente voltarão a ser, mas hoje falaremos apenas no desperdício.

No meu serviço, lamentavelmente, vejo muito desperdício. O local onde ele se torna absurdamente evidente é na Triagem Geral. Alguns médicos de clínica geral prescrevem sistematicamente terapêutica desnecessária, sem qualquer critério ou justificação clínica. Não sou eu apenas que o digo, toda a gente o diz, mas o que é certo é que a situação mantém-se e uma simples indisposição é corrida com soro, antipirético EV, análises a sangue e urina, RX, etc, etc. Já para não falar das prescrições efetuadas sem os doentes serem vistos e das prescrições efetuadas como que a "castigar" a vinda desnecessária do utente ao SU (ex: 2 ampolas Atarax IM, que doi que se farta e furosemida sem qualquer justificação, para o utente urinar várias vezes etc etc). 

Seria oportuno que o programa ALERT só deixasse que uma prescrição ou pedido fosse consumado, caso o clínico digitasse uma justificação, mas que não fosse um simples (.) como frequentemente se vê. Aí talvez se entendesse por que razão a uma pessoa com tonturas, logo à partida se prescreva soro fisiológico.

Não há turnos iguais, mas eles serão completamente diferentes, se estamos a trabalhar com os médicos  X e Y, que prescrevem desmesuradamente ou com os médicos Q e W que prescrevem criteriosamente.

O dinheiro que o hospital não pouparia se não contivesse estes gastos inusitados, este desperdício sem fim, chamem o Gordon Ramsey.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Quero receber menos 20 eur ao final do mês

Já é de conhecimento geral que os vencimentos da função pública acima dos 1000 euros, vão sofrer os cortes dos “subsídios” de Natal, Férias e o rai q´o parta.


A minha reflexão sobre isso:


Sou contratado. Tenho um contrato sem termo. Não pertenço, nem nunca pertenci aos quadros da função pública. Tenho um vencimento base de 1020 eur (mas ao fim do mês, com os descontos, levo bem menos do que isso).
Trabalho há quase 10 anos e hoje levo menos dinheiro para casa, do que quando iniciei funções.
Nunca subi na carreira porque ela deixou de existir desde que comecei a trabalhar.


Posto isto, gostava de partilhar convosco as seguintes observações:


Para os benefícios como ADSE ou ex-ADSE, estatuto de bolseiro e outros e para os legítimos direitos, como o pagamento dos suplementos correspondentes às horas de valor (fins-de-semana, feriados, noites) e outros, nunca fui considerado um triste de um funcionário público, mas sim um ludibriado contratado e por isso não tinha, nem tenho esses direitos consagrados na lei e ganhos com justiça no passado
Para ficar sem os “subsídios” de Natal, férias e o rai q´o parta, já sou triste de um funcionário público.
Sendo assim e como se não bastasse, por causa de 20 eur, vão-me roubar (a mim e a tantos como eu) aquilo que é meu (nosso) por direito.


Essa corja anda mas é a gozar com a nossa cara. Até quando vamos ficar serenos, passivos ao roubo?


Com toda a convicção vos digo, tenho mais desprezo por estes políticos sujos e canalhas, do que o desprezo que tenho a um ladrão de multibanco.
Achei então oportuno criar um movimento no facebook “Quero receber menos 20 eur ao final do mês!”, cujo apelo é o seguinte:


"Sr Passos Coelho, não quero ganhar tanto ao final do mês!! Recebo 1020, peço-lhe encarecidamente para passar a receber 1000!! 
Fiquem com esses 20 eur, para ajudar nas vossas despesas e nas despesas do estado, que contribua para voarem novamente em primeira classe, que contribua para pagar um pouco mais aos gestores de empresas públicas que estão tão desgraçadinhos, na miséria. Podem até deixar estar os subsídios ou reformas vitalícias para os políticos como Duarte Lima, coitados que trabalham tanto são tao honestos e ganham tão pouco. Que contribua para pagar os flops dos estádios, auto-estradas e que o utilizem para dar seguimento as ideias fantásticas dos TGV´s, aeroportos, e outros projetos inteligentes e que contribua também para revitalizar o BCP BPN e toda a banca miserável que está nas lonas..
Agora tu que ganhas 1020 eur, ou que até estás solidário com esta causa, junta-te a ela, nunca se sabe até onde ela pode chegar." 


nota: (todos os factos descritos na primeira pessoa, mas muitos como eu encontram-se na mesma situação. As aspas são utilizadas como sarcasmo porque subsídio de férias e Natal nunca deveria existir, é dinheiro nosso por direito.. Não é nenhuma esmola nem nenhum subsidio).