segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Médico a dias

Linha da Frente (XIX) - Episódio 31 - RTP Play - RTP


Um dos objectivos deste blog é servir como uma reserva de registos de determinados acontecimentos ou factos, para que pelo menos eu nunca apague da memória coisas más e coisas boas. Fazendo um flashback são mais as coisas más, mas com elas vamos apre(e)ndendo e evoluindo.

Este foi o mês em que se tornou público que o Estado gastou mais de 100 milhões em médicos tarefeiros e foi também o mês, continuando com a política como pano de fundo, que Leitão Amaro, deputado e comentadeiro televisivo afirmou com toda a convicção que a Legionella , pela lei do anterior governo, passou a estar totalmente proibida! Brilhante, diria eu!

Vou reflectir um pouco apenas sobre o primeiro tema, o segundo só está ao alcance de humoristas.

No passado dia 2 de Novembro a RTP apresentou uma reportagem preocupante. (ver vídeo, clicando no link)
Não é que não soubéssemos já o que se passava, mas agora alguns pormenores da rede foram desmontados.

Se os médicos trabalham em 3, 4 ou mais locais e se andam exaustos é porque o permitem.
Se recebem 18000 por mês, é porque alguém permite. É um absurdo, mas nem é o mais grave e pouco me interessa o que os outros recebem, preocupo-me é com o que os enfermeiros recebem.

O que não se pode permitir é a negligência que daqui advém. Se trabalhar 12 horas é duro, imaginem 48 ou 72 horas e depois no dia seguinte outras tantas, noutro hospital. Ninguém é de ferro, os erros aparecem e vidas estão em jogo. 
Os hospitais "contratam" os tarefeiros nestas condições, mas depois lavam as mãos em caso de erro, "não têm vínculo com a instituição", respondem eles.

A RTP procura respostas, mas nenhum hospital aceita responder. Ou estão indisponíveis ou acham o assunto "inoportuno" (que lata!). A negligência é de quem a comete e de quem a permite. 
Como é possível numa instituição, trabalharem funcionários que não têm qualquer tipo de ligação com ela? Não é concebível!

As empresas de recrutamento também não dão entrevistas, enquanto a mama durar há que estar em silêncio. O Estado quer acabar com aquilo que começa em "x" e acaba em "anço", mas já está em funções há 2 anos e o sistema mantém-se. Mais de 100 milhões gastos, distribuídos por várias empresas sugadoras de recrutas. Falta descobrir quem mais é que tem ganho com isto.
Esses 100 milhões davam para melhorar o SNS, aumentar o número de profissionais de saúde e melhorar as suas condições contratuais e laborais.

Isto é uma sucessão de irregularidades, uma sucessão de crimes! E espero que isto não caia no esquecimento!



#Juntossomosmaisbaixos



Acho que o lema #Juntossomosmaisfortes pouco se aplica a nós, enfermeiros. 

Sejamos realistas, nós nunca estivemos realmente unidos e temo que nunca haveremos de estar. Tivemos alguns esboços de união, mas depois tudo volta à casa anterior.

Na discussão nas redes sociais, muito poucos são aqueles que procuram consensos, a maioria é a partir a loiça toda, com insultos, provocações e falta de respeito. 
As instituições que nos representam não se entendem e é praticamente garantido que enquanto as pessoas forem as mesmas, nunca se haverão de entender. Gostava de estar enganado, para nosso bem, mas o mal-estar é tão intenso, que não vejo como alterar este meu pessimismo. O exemplo parte daqui e chega até ao comum enfermeiro que aponta o dedo ao colega ao lado.

Um dado representativo desta desunião foi a greve do passado dia 27 de Outubro com uma adesão de 35 - 40%.
Uma grande parte dos colegas não fez greve porque está contra o SEP.
Outra parte não fez greve porque os motivos não os afectavam.
E outra boa parte não fez greve porque nem sequer sabia o porquê e o contexto da greve.
Não se deve a este facto a escolha do título. Cada um faz, acompanha e lê aquilo que quer. O título deve-se à nossa postura e atitude, perante o outro e perante a enfermagem.

Tirem as conclusões que quiserem...