quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Enfermeiros fogem da Urgência

Já por algumas vezes AQUI no PDDSE falei de stress e burnout. É um tema que me preocupa particularmente, pela saúde mental de todos nós.
A Urgência caracteriza-se por ser um dos serviços que mais problemas cria a esse nível. Não é novidade para ninguém, toda a gente o sabe. Devia haver um exame tipo psicotécnico para saber se uma pessoa teria ou não o perfil ou capacidade para trabalhar na Urgência. Aqueles que tivessem seriam de seguida encaminhados para um psiquiatra (esta era a brincar).
Bom isto é o exagero, mas qualquer um de nós deve ter um bocado de louco ou masoquista, para suportar vários anos seguidos de trabalho na Urgência.
O problema não está em trabalhar na Urgência, antecipando o que alguns de vos poderão comentar, o problema está em trabalhar na Urgência sem condições, sem motivação e sem recursos, principalmente humanos.
Por isto e por muitos outros motivos já discutidos neste blog, enfermeiros com largos anos de experiência em Urgência, disseram "basta" e apresentaram pedido de transferência.
O mais preocupante no meio disto tudo é que estes que fogem e outros tantos que têm ideias de fugir são profissionais competentes e reconhecidos como bons colegas.
Pergunto onde é que isto vai parar, se mesmo aqueles amantes e peritos em emergência estão saturados e com ideias de partir?

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Enfermeiro chauffeur

Por que motivo o carro amarelo de emergência do INEM diz apenas “MÉDICO” no vidro da frente? Já se questionaram sobre isso? E o enfermeiro? É um chauffeur??
É algo que sempre me intrigou e já há alguns tempos tinha anotado esta questão nos meus rascunhos, para que futuramente surgisse um desenvolvimento. Este surgiu com um comentário do Henrique Martinho, que vai ao encontro da discriminação da enfermagem e endeusamento do médico, por parte da opinião pública. O mais curioso é que o Henrique não é enfermeiro, nem profissional de saúde, é alguém com uma cabeça que pensa e dois olhos na cara.
Deixo-vos então com o seu comentário...
“Na passada segunda-feira fiquei estarrecido com a notícia que passou na TVI, um incêndio nas Caldas da Rainha que matou 3 pessoas e feriu umas quantas, algumas com gravidade. A questão é que o jornalista ao apresentar a notícia disse: "Os médicos do INEM fizeram tudo por tudo para salvar as vidas..." É sempre a mesma coisa! Os enfermeiros, os bombeiros, os TAE´s e os psicólogos são sempre ignorados e espezinhados pela comunicação social, quando deveriam ter a máxima consideração de todos nós.
Já quando foi a notícia sobre o desastroso acidente que ocorreu na A25 no verão passado foi o mesmo. "dezenas de médicos acorreram ao acidente para salvar vidas", disse o iluminado jornalista da TVI, sem mencionar o número de bombeiros, TAE's, enfermeiros, psicólogos, e até os civis que arriscaram as suas vidas para salvar a dos outros.
Eu ainda estou para perceber por que razão este país vê nos médicos a figura divina. Aliás, que tal promoverem os médicos a representantes de Deus em vez dos padres? Até poderiam andar com um crucifixo escarrapachado nas suas batas e tudo! Fica lançada a questão! ;)
Esta forma de jornalismo que a TVI pratica já me mete um bocado de nojo!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Contrariedades na Manchester

Partilho inteiramente da ideia de que quando é necessário averiguar algo que terá corrido mal, deve-se começar, passando o pleonasmo, pelo início. Num serviço de urgência, esse início é na triagem de Manchester, o local onde se encaminham os doentes, estabelecem prioridades, é onde se efectua uma PRÉ-TRIAGEM.
Não partilho de todo da ideia de que quando algo terá corrido mal, se procure sistematicamente tentar responsabilizar o enfermeiro que faz a PRÉ-TRIAGEM, facto que por demasiadas vezes tenho verificado.
A triagem de Manchester não é um "mecanismo" perfeito, é falível e tem as suas lacunas, tal como já se comprovou. Não passa apenas de um algoritmo, de uma forma prática e rápida de fazer uma PRÉ-TRIAGEM, mediante sinais e queixas, que tanto podem estar exacerbados como contidos. Funciona muitas vezes dependendo da intuição do enfermeiro e está condicionada pela elevada pressão externa a que estamos sujeitos.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Médico fala com médico, enfermeiro fala com enfermeiro


Cada vez mais me consciencializo que o frequente mau ambiente entre médicos e enfermeiros, vai persistir. Sempre pensei que com as novas gerações de médicos, certos maneirismos iriam acabar. Mas quando dizem em tom prepotente,
“Médico fala com médico enfermeiro fala com enfermeiro”, como que a dizer eu sou médico, estou aqui em cima, tu estás aí em baixo, não me incomodes, continuamos na mesma.
Temos que ter a habilidade de responder com inteligência e elegância, porque muitas vezes calamo-nos e metemos o rabinho entre as pernas.
Lembrava-me agora de uma médica que me confrontou no corredor pelo motivo de não a ter ido chamar para observar um jovem. Quinze minutos antes quando ela se preparava para observar o doente, eu tinha-lhe dito para aguardar, pois o doente estava a ver se conseguia urinar deitado (o que não deve ser propriamente fácil). Acatou, foi a vida dela e eu fui à minha, mas pelos vistos ficou à espera que eu a fosse chamar. Mais valia ter-se sentado, sempre descansava mais as varizes dos tacões (outra coisa gira nos médicos). Fiquei estupefacto a olhar para ela, só me ocorreu dizer, “Sou enfermeiro, não sou estafeta, queria ver o doente esperava”.