terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Não gastes o nome da Assistente Operacional!




Todos nós enfermeiros deveríamos fazer um teste e contar quantas vezes ao longo de um turno, solicitamos algo à Assistente operacional (AO). Porventura será difícil contabilizar porque são imensas.. Depois disso fazer uma análise de quantas solicitações poderiam ou deveriam ter sido evitadas.
Não sou nenhum advogado das AOs, mas por vezes incomoda-me o abuso por parte de alguns colegas que são capazes de estar sentados, ver a AO ocupada com algo, mas mesmo assim sobrecarregá-la com mais uma tarefa, quando poderiam levantar o quadril e fazê-la. Há duas hipóteses, ou julgam (mal) que com essa atitude alguém que tenha o poder de mudança, repare e constate que de facto são necessárias mais AOs e concretiza a mudança, ou então nasceram em berço de ouro e julgam que há criadas.
Qual a dificuldade ou o problema de ir buscar um suporte de soros, de ir buscar um cobertor, uma almofada, ou um copo de água para o doente? Qual a dificuldade de colocar um urinol ou uma arrastadeira, quando a AO está indisponível no momento? De ajudar na alimentação, um doente com limitações físicas? Qual a dificuldade de ir buscar algo que nós próprios vamos utilizar?
Por vezes tenho a noção que há colegas que gastam o nome da AO.
Sei perfeitamente que somos enfermeiros e devemos fazer única e exclusivamente aquilo que à enfermagem diz respeito, mas há limites e há o bom senso. Sei que devemos  defender a admissão de mais AOs, mas não é desta forma que haveremos de o conseguir. As Aos podem-se queixar do excesso de trabalho, que não me parecem que tenham poder, por si só, de mudar os rácios. Começa pelos enfermeiros e médicos exigirem mais profissionais AOs. Compete aos gestores comprovar por A+B que é fundamental admitir mais AOs para o harmonioso funcionamento dos serviços e para evitar, acima de tudo, os tempos mortos à espera de uma AO ocupada. 
Miguel Sousa Tavares dizia e muito bem que os doentes não podiam exigir muito dos enfermeiros tendo em conta o que ganham, eu acrescento que nós também não podemos exigir muito de uma AO, tendo em conta o que ela ganha.
Estamos a falar de alguém que ganha pouco mais que o ordenado mínimo nacional, isto se trabalhar muitas horas nocturnas e executa um trabalho de elevada responsabilidade que requer formação específica, estamos a falar de alguém que num período de 8 horas tem que: lavar chão, desinfectar aparelhos, monitores, cadeiras, cadeirões, ajudar na alimentação de doentes, ajudar na higiene de doentes, servir de estafeta, limpar camas, fazer camas, levar arrastadeiras e urinóis, ajudar os doentes com a difícil tarefa de colocar arrastadeiras e urinóis, pô-los a lavar, ajudar na deslocação de doentes, limpar mesas, limpar bancas, limpar WCs, repor material, arrumar material, tratar dos lixos, preparar carros de higiene, limpar vómitos, preparar sistemas de aspiração, preparar tabuleiros de material, colaborar em técnicas de enfermagem, colaborar em situações de emergência, ajudar no posicionamento de doentes e de tempos a tempos efectuar as limpezas mais profundas, porque como sabemos, não pode estar limpo apenas o que está à vista, etc, etc..
Estamos a falar de alguém que não tem sob a sua responsabilidade 1 ou 2 doentes, tem 10, 20 ou 30. Sou da opinião que em determinados serviços e unidades, o triângulo de rácios de classes profissionais está invertido. Vejo AOs no vértice do triângulo quando deveriam estar na base.
Justo será dizer que também assisto ao oposto, serviços e unidades com AOs na base do triângulo, quando deveriam estar no vértice, mas isso já é assunto para outras dissertações.


(nota: referir o termo AO no masculino seria o mais correcto, mas não é o mais adaptado, porque apesar de desde há uns tempos a esta parte, começarem a aparecer AOs homens, esta classe profissional é maioritariamente feminina. Pelo menos na minha realidade deve rondar aí os 99%. De referir também que neste meu post excluo os maqueiros, porque apesar de serem AOs, são maqueiros.)