quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Nem os super-enfermeiros escapam ao surrealismo das noites.


Fazer noites é uma merda. Por cada noite que faço sinto-me a envelhecer ao cubo. Envelheço literalmente, sinto-o. E isto está estudado. Nós temos um bioritmo, um ciclo, onde estamos em actividade ou acordados cerca de 16, 17 horas e 7 ou 8 horas a dormir. Uns mais outros menos, mas para nenhum, esse ciclo pode ser quebrado. Os sonos não se antecipam, nem se reduzem a um par de horas, nem se fazem no pico do dia, com os ruídos externos. Depois o pior nem é a noite em si, são os dias seguintes, onde vais tentar reorganizar o sono: fizeste noite, estás cansado, dormes de manhã, perdes o almoço, acordas lá para o inicio da tarde, chegas à noite já não tens sono, vais adormecer muito mais tarde que o habitual e novamente vais dormir menos que o razoável, porque na manhã seguinte, provavelmente vais ter que acordar cedo.
Fazer noites não tem preço, não se paga. Não quero que me paguem para desinsuflar saúde do meu corpo, mas tenho que as fazer e vou envelhecendo. Muitos não dão valor, principalmente os governantes, que nos pagam por isso com um suplemento cómico. Os ignorantes dizem que vamos para lá dormir, como se fossemos dormir as 9 ou 10 horas do turno. Saberão lá eles que a noite é o turno mais difícil, pois é na noite que muitos doentes, mais idosos por regra, ficam confusos e agitados, levando-nos muitas vezes ao descontrolo emocional, impaciência e irritabilidade. Nem os super-enfermeiros escapam ao surrealismo das noites, mesmo os mais calmos e atenciosos atingem um ponto de colapso e bufam como uma panela de pressão. Não há hipótese, toca a todos.. O mau-humor instala-se,  é bioquímico e quem leva a fava é o doente. É mesmo assim, não se surpreendam, reconheçam a verdade, muitas vezes o doente leva com os nossos desafogos.
As noites destroem-nos.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Na ressaca da greve de 29 de Julho


A adesão à greve nacional de 29 de Julho andou pelos 70%.
Quais são os motivos para que 30% dos enfermeiros portugueses não manifeste a sua indignação na mais visível e determinante resposta à injustiça e indiferença perante a classe e utentes?

a) Não concordo que haja admissão de mais enfermeiros.
b) Não concordo que se pague as horas suplementares e extraordinárias condignamente.
c) Não concordo que todos os enfermeiros façam 35h.
d) Desconhecia os motivos da greve.
e) Não quero perder um dia de ordenado, porque pode comprometer a minha economia doméstica.
f) Não quero receber menos uns euros ao final do mês por ter estado a prestar serviços mínimos.
g) Não gosto do sindicato, porque o sindicato nunca fez nada por mim.
h) Estou satisfeito com a conjectura que envolve a enfermagem.
i) Já tenho as 35h, os outros não me interessam, porque eles também não se interessaram por mim.

Então, em que sub grupo te inseres? Ou pertences aos 70%?

Os números em Viana ainda foram mais baixos, rondando uma média de 60% nos diferentes turnos.
Vejo hospitais com uma adesão entre os 90-100%, como S. José em Lisboa, Pombal, Torres Novas, Peniche, Santarém, Fundão, Póvoa de Varzim/Vila do Conde, Portimão, Tondela, Famalicão e Aveiro e penso... cá por Viana o pessoal está mesmo satisfeito, ainda bem!!