sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Os artistas dos hospitais


A hierarquia do futebol assemelha-se em quase tudo à dos hospitais.
Os presidentes dos clubes são os administradores hospitalares, tanto uns como outros gerem (mal ou bem) os dinheiros, as contratações e decidem as politicas a ser implementadas.
Os Enf. chefes são os treinadores, fazem os horários, tal como o treinador decide quando se treina e quando se folga, tramam a vida a vida a um gajo que não gostem da mesma maneira que um treinador queima um bom jogador, só porque teima que não deve jogar. Depois orientam e rentabilizam a equipa.
Tony hoje jogas a ponta de lança, vais prá Manchester; Brandão vais pró miolo, no meio-campo, ficas com a reanimação; Ana Bela, jogas a trinco na Admissão, vais ter que correr muito, joga simples e rápido. Na defesa em OBS, joga a Delfina, o Tiago e a Lígia.
Eii chefe hoje falta o Adão!
Não faz mal, jogamos menos um.
Oh chefe, mas hoje é um jogo (turno) complicado!!
Vocês são capazes disso e muito mais, somos raçudos, invencíveis!
Oh chefe mas andar a jogar sistematicamente com menos um… qualquer dia vai correr mal e vamos perder pontos (vidas)! Temos que começar a pedir jogadores (enfermeiros) emprestados!
Não dá! Os outros clubes (serviços) também estão desfalcados!
Porra, contratem! Anda aí tanto jogador sem clube (trabalho).
Quem manda é o administrador, eu não tenho voto na matéria…


No fim da hierarquia estão os enfermeiros, que são os jogadores. Apesar de no futebol os jogadores serem os últimos da hierarquia, são os que ganham mais, já que são eles os artistas, os que proporcionam o espectáculo. Ora, nós, os enfermeiros, de uma forma geral, também somos os artistas, somos criativos e decisivos (qualidades vitais a um bom jogador), somos nós que também proporcionamos o espectáculo, que também não aconteceria se não houvesse utentes, neste caso os adeptos (que são aqueles senhores que aplaudem, elogiam, mas que também insultam se for necessário).
Agora questiono, se somos os artistas, por que é que ganhamos menos?!
Temos que falar com os nossos empresários (sindicatos) a ver se conseguem negociar o contrato. Mas os patrões dos clubes (ministério) não estão para aí virados. Temos que fazer greve, como o Estrela da Amadora.
G.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Natal dos hospitais II



O post anterior falava de filhos desnaturados, no lado oposto temos os verdadeiros filhos, os filhos de coração.
A Dona Catarina tem 53 anos e carrega com ela há três, um cancro no intestino já disseminado. Fala com ternura e sem pressas, com olhar fixo, face encovada e com os lábios quase estáticos. A pele é seca e tem um tom acinzentado, os braços são delgados, procuro-lhe uma veia. Não tem saúde, mas é feliz, tem o amor dos filhos.
O filho já não se lembrava de mim, ela topou-me logo pela pinta.
Enquanto retirava das suas veias escondidas um pouco de sangue para análises, o filho mantinha-se debruçado na maca, abraçado aos ombros da mãe, segredava-lhe palavras com meiguice.
Dona Catarina vou dar-lhe uma medicação para a dor, nós estamos por aqui, se continuar com dor, é só chamar.
Pois é mãe, se precisares chamas o Sr. enfermeiro, e fazes outra medicação, não se justifica ficares com dores!
Acrescentava com a voz embargada, dando a entender que a mãe era de poucas queixas.
Expliquei ao Jaime, seu filho, quanto tempo demoravam as análises e outras coisas básicas de funcionamento. Agradeceu-me e nos seus olhos enevoados via-se a tristeza da necessidade de ter a mãe no corredor da urgência no dia de Natal.
G.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Natal dos hospitais I



Retiro-me temporariamente do prazer do calor da família nesta noite de consoada, para partilhar convosco algo que me atormenta.
No dia 23 de Dezembro a urgência estava calma, estranhamente calma, normalmente quando assim é, algo de mal se avizinha.
Dia 24 passei na urgência, reparei nas macas apinhadas, de um lado e de outro, no "corredor dos despejos". É a denominação certa, literalmente os velhinhos são despejados pelos seus familiares. Nunca quis acreditar que um filho, já pai ou mãe de família, fosse capaz de abandonar a avó dos seus filhos pelo corredor do hospital, só porque esta urinava na fralda, mal se mexia, precisava de ajuda para comer e porque por vezes gritava sem se perceber porquê (não seria grito de dor, mas sim associado a demência).
Será que esta besta conseguirá estar tranquilo e alegre neste jantar especial?!
Como são capazes de fazer perguntas/afirmações deste género:
Sr. Enfermeiro, acha que dá para ficar cá a minha mãe?
Olhe Sr. Enfermeiro, tem doido a barriga ao meu pai há já uns dias, decidimos hoje trazê-lo cá

O Natal dos hospitais não é o que o Jorge Gabriel, a Catarina Furtado e o Goucha apresentam nos canais. O Natal dos hospitais é este.
Paz e amor
G.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

SICKO - A vergonha


"Quando eu vejo um filho da pátria com a camisa dos Estados Unidos Eu fico puto Eu fico louco Eu fico logo mordido (...).
Quando eu vejo esses babacas esses panacas esses pamonhas Que tem coragem de ir pra rua com boné ou camiseta Com as cores da bandeira mais nojenta do planeta!(...)
Amigo cê tá perdido enganado iludido
Já devia ter sabido o que são os Estados Unidos Um país infeliz
O mais hipócrita da terra Malucos suicidas e imbecis que adoram guerra Misturados num lugar cheio de farsa e preconceito
Me diz porque essa merda de bandeira no seu peito?
O quê que cê quer dizer quando verte uma camisa exaltando os opressores que te pisam?
O quê que cê quer passar pra pessoa que olhar pro seu peito e não entender de que lado você tá?
Mas não precisa responder Cê tá do lado de baixo Você é uma fêmea no cio e o Tio Sam é o seu macho Você é o capacho dos norte-americanos
Por isso ainda acho que existe algum engano Porque eu não me rebaixo a passear vestido Com a roupa do inimigo: os Estados Unidos."

in Gabriel o Pensador - filho da pátria iludido
(não encontrei a música no youtube)

O nosso sistema nacional de saúde não é perfeito, todos sabemos que apresenta graves lacunas, contudo há piores… e bem piores. Um dos países que mais abomino é os Estados Unidos da América.
Abomino porque adoram armas, são broncos, vivem da e para a guerra e muitas vezes metem-se onde não são chamados. Julgam-se os donos do mundo, ignoram toda a cultura e história de outras civilizações, são parolos, incultos, obesos e só mais uma vez, são broncos.
Permitiram os dois mandatos possíveis sucessivos, com a política do cowboy tirano Bush, mesmo depois das atrocidades que cometeu no primeiro, (à primeira quem quer cai, à segunda cai quem quer).
Têm desportos estúpidos como futebol americano e wrestling.
Pensam que vivem o verdadeiro sonho americano quando na verdade vivem o pesadelo americano, pelo menos no fundamental, que é a saúde, graças a um sistema podre, escabroso e bárbaro, completamente controlado por companhias seguradoras que unicamente visam o lucro. Recomendo vivamente o filme Sicko, de Michael Moore, polémico realizador norte-americano, para melhor perceberem toda esta teia. Vejam o seguinte excerto, vão ficar abismados, revoltados, sensibilizados, vão deixar de, pelo menos por uns tempos, se queixar do nosso pobre país, que eticamente, afinal, não é assim tão pobre.

Se tiverem a gostar ou a odiar, neste caso vai dar ao mesmo, continuem, pois o youtube possibilitou todo o filme/documentário, deixo-vos aqui todas as partes, vale a pena, garanto-vos
G.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Palavras mágicas


A educação assume um papel preponderante na vida das pessoas, com ela tudo se torna mais simples, mais acessível. Grande parte das vezes nem damos por ela, é algo natural. Podemos valorizar o facto de alguém ser demasiadamente bem-educada, há quem elogie, há quem torça o nariz (acho que há um dito popular sobre isso, mas não me ocorre).
Quando num primeiro contacto me abordam sem o mínimo desejável de boas maneiras, apertasse-me logo o estômago, faço o que me compete, mas sem a prontidão e simpatia com que devia. Penso que há na Bíblia um versículo qualquer que diz para tratar o próximo com amabilidade, independentemente de este te ter tratado com indiferença ou arrogância. Se não há, deveria haver. Nem sempre consigo, mas tenho treinado. Às vezes as pessoas percebem e aprendem.
Desabafo sobre este tema porque em muitos turnos, o meu trabalho consiste em escutar as queixas de várias dezenas ou mesmo a passar a centena de pessoas, mediante esta(s), determino uma prioridade e um encaminhamento, a conhecida triagem de Manchester, onde se vira à esquerda (outros queriam que se virasse à direita, não percebi porquê), mas também porque entre as relações profissionais, deparo-me enumeras vezes com falta de educação. Ainda há bem pouco tempo alguém comentava num post recente, “e como é que vós tratais/chamais os auxiliares?” da minha parte peço desculpa se alguma vez tratei mal, a má disposição que às vezes trazemos de casa, reflecte-se no comportamento, nas maneiras, por isso se diz que os problemas ficam em casa, mas muitas vezes não ficam.
Entre profissionais...
Surge repentina uma administrativa e diz-me no corredor, Preciso falar com a Dr. T, Não sei onde está, respondo. Ficamos por ali, resposta ou reacção perfeitamente normal. Boa tarde! Viu a Dr. T? Precisava falar com ela, Olhe que não sei onde está, mas espere um minuto e já a ajudo. E encontraria a Dr. T, como é costume nos enfermeiros, temos a capacidade de encontrar toda a gente, nos mais inesperados locais. Cá está! A administrativa resolveu o seu problema com apenas mais umas palavras! Simples..
Entre profissionais e utentes…
Na triagem, Bom dia Srº Enfermeiro, olhe dói-me a barriga e já não dou de corpo há 3 dias, Mas dói-lhe muito, pouco?… é uma dor branda, suporta-se. Pela sua simpatia e boas maneiras, até permitiria uma pequena mentira se tivesse dito muito. Teria levado a pulseira amarela, mas como era sincera e percebia facilmente que há quem venha pior, foi ela própria, correcta, levando a verde.

A minha atitude arrefece logo quando entram, sentam-se e dizem secamente, Tou com gripe, doe-me a cabeça! Algumas vezes procuro dar no instante, subtilmente, uma lição de boas maneiras, entoando com decibéis aumentados, BOM DIA! Algumas enxergam e rebobinam, apesar de não ser um bom dia, fica sempre bem. Outras vezes, deixo passar, atendendo à possível distracção ou dor que a provoque. Mas como está a dor? Dói-me muito! Aumentando ela desta vez os decibéis, Se não me doesse acha que vinha para aqui?! Já vi quase tudo, penso, Olhe eu tenho que lhe fazer perguntas para poder triar da melhor maneira, há quanto tempo lhe dói? Começou há pouco, E tomou alguma coisa? Não tenho nada em casa. De 0 a 10, como está a sua dor? Imagine que 0 é sem dor, 10 é a pior dor que alguma vez teve, uma dor insuportável. Eh pá, então é 9, 10. Tu queres ver.. cefaleias, laranja.. é pra medicina, raciocino irónico… vão-me comer vivo!

(APARTE: Por estatística mental, 95% dos utentes na triagem, quando questionados através da escala de dor, nunca responderam menos de 7. Seriam todos laranjas… mas não são, porque os enfermeiros têm um 6º sentido, não há ninguém melhor que nós para conhecer, avaliar a dor, diariamente lidamos com ela, conhecemos-lhe as manhas, os silêncios, as expressões.)
Assim se percebe a importância das palavras mágicas: Bom dia, Se faz favor, Obrigado… mas sem exageros, ora vejam



Abraço
G.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Deixa andar...

APELO: Aos poucos que sabem e aos muitos que julgam saber a identidade do Guilherme, peço que saibam ser discretos. Muito boa gente faz as mais incríveis associações e teorias de conspiração. Esqueçam quem é o G! O G. somos todos nós, aqueles que gostam de um bom debate, de um bom tema, que gostam de pensar e no fundo divertir-se um pouco.



Cada vez mais me convenço que vivemos no país do deixa andar.
A lei do deixa andar aplica-se a vários níveis da vida pessoal, profissional, social e política.
O marido trai a mulher (ou vice-versa) e… deixa andar. As contas no final do mês começam a falhar, mas sempre dá para um empréstimo para um plasma e… deixa andar. Os filhos tiram más notas sucessivas, têm mau comportamento e… deixa andar.
O projecto de obras está mal feito e… deixa andar. As estradas andam continuamente a ser esburacadas e… deixa andar.
Os ministros falham sucessivamente com as promessas e… deixa andar. A Ana Jorge brinca com os enfermeiros e… deixa andar. O défice, a inflação aumentam e… deixa andar. O boy continua a arranjar o job e… deixa andar.
O processo Casa Pia arrasta-se e… deixa andar. O Pinto da Costa não paga pelos crimes e… deixa andar. O Glorioso não vai à liga dos campeões e… deixa andar, o Quique não mete o Cardoso e… deixa andar. (estas duas últimas foi para descomprimir um pouco)
A parte que mais nos toca: Nos hospitais faltam enfermeiros (já para não falar dos AAM, médicos, etc) e… deixa andar.

Vivemos num contra-senso… temos enfermeiros a ir trabalhar para a Irlanda, Espanha e Austrália, a ir para pastelarias, lojas do shoping, etc, enquanto que por cá, pelos serviços, continuam a faltar. Esta é a base do problema, mas o que me traz por cá nem é isso.

Como devem imaginar, os enfermeiros também adoecem, facilmente tem problemas físicos e psíquicos. Outro dia li uma expressão do nosso pensador “Melga” – enfermo(eiro) no post Euromilhões dos hospitais…. E de facto esta associação de enfermo com enfermeiro faz todo o sentido. Os enfermeiros andam doentes e ficam doentes quando têm que trabalhar com menos elementos devido à falta de quem efectivamente anda doente.

Existe um serviço do hospital que tem um plano de trabalho composto por 9 enfermeiros de manha, 9 à tarde e 6 à noite. Deve pensar-se que à noite os doentes deixam de o ser, portanto 6 enfermeiros é mais que suficiente. Claro que 9 é impensável, mas 7 é o mínimo que se pode pedir. Este também é um grande problema, mas mais uma vez o que me traz por cá nem é isso.

O que me traz por cá é sentir e viver a revolta de uma equipa que se vê privada de outro elemento apenas porque não houve possibilidade de o substituir em virtude da sua falta por doença, ou doença fictícia (não sejas assim Guilherme, isso é outro assunto).
9 já são poucos.. agora 8?!!

RT vai faltar o Feliciano, ligou agora mesmo! Tamos fo&#’%s.. Liga ao ERC, pode ser que resolva! Ao ERC?! Ainda acreditas no pai Natal?

Mas não resolve e… deixa andar
Quem leva com a fava?! Quem lá está… redobram-se em esforços, tapam buracos, andam a 200 à hora para ir desenrascando, porque no desenrasca também somos bons.

Alarme! Catástrofe! Multi-vítimas!! Um acidente ali nos acessos da A28 com 10 politraumatizados!! Eh pá e agora?! Ainda por cima a Joana foi levar um doente a Braga! Tamos fo%#’&s mais uma vez. Vamos chamar os colegas do Bloco que estão em prevenção, como o Melga disse! Melga?! Mas quem é o Melga?! Oh pá é um gajo que tem umas ideias fixes! De facto… ponham esse tipo a presidente do conselho!

De prevenção não sei se estão, agora que os colegas do Bloco são intocáveis, disso não tenho dúvidas. Alguma vez foram mobilizados?! Não me parece, mas posso estar enganado... a ver se aparece por aqui algum bloquista a defender-se... Abram alas como diz o nosso Noddy.

Não nos esqueçamos, mal ou bem tudo se vai fazendo, vai-se desenrascando, os “gestores” depressa concluirão, Ora se um faz o trabalho de dois, em vez de aumentar vamos é diminuir o rácio.
Boicote!!
A todos aqueles que trabalham por 2 e por 3

G.

Nota: RT – responsável turno; ERC – Enfermeiro responsável ao Centro

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Crónicas estapafúrdias vol. III - Dr. M&M


Não se trata de algum médico viciado em M&M, o M está associado ao facto de ser um apaixonado por música e por coincidência associado também ao seu próprio nome... Passo a explicar,
O Dr. M&M é um médico calmo, acho que nunca o vi a subir o tom de voz, acorda todos os dias as 6h para dar a sua caminhada e mergulho matinal, o seu momento Zen. Tem bom gosto.. Mar e musica, novamente o M&M… Curioso.
A Dona Prazeres tinha passado o dia muito bem-disposta, gostava de meter conversa com as enfermeiras para falar das novelas. Já tinha recuperado de um edema agudo do pulmão, mas chegando a noite a conversa era outra.
Mitologicamente, a noite corresponde às trevas, ao lado negro, ao diabo. Não poderia deixar de fazer todo o sentido, pelo menos para os enfermeiros e doentes com idades mais avançadas, como a Dona Prazeres. Por muita lucidez que os nossos idosos possam ter, caindo a noite, caem muitas vezes também os seus sentidos de orientação e percepção. A agonia, a agitação está instalada, estão numa cama estranha, rodeados de estranhos, estão num mundo novo, obscuro e desconhecido. Ninguém acalmava a Dona Prazeres, nem mesmo o haloperidol atenuava o seu desespero. A enfermeira só desejava nunca mais fazer noites, ou outros doentes, pediam saturados, Alguém que lhe ponha uma venda na boca, por favor!!

O Dr. M&M fazia endoscopias, costumava perguntar, Quer com ou sem música? Surpreendidos respondiam, Oh dôtor, você é que sabe… Então vai com! E cantava… É uma forma original e inovadora de tranquilizar num exame que de tranquilo nada tem.
Cantou também ao ouvido da Dona Prazeres, num novo esforço de tréguas, chamada a terapia da música ou musicoterapia, para ser mais técnico,

Tudo o que eu te dou,
Tu me dás a mim,
Tudo o que eu sonhei,
Tu serás assim,
Tudo o que eu te dou,
Tu me dás a mim e tudo o que eu te doooou…


Só faltavam os óculos escuros…
E a Dona Prazeres adormeceu ao som do refrão do poeta Abrunhosa

Nunca percam a originalidade!
Um abraço
Espero as vossas crónicas ansiosamente.
Nota para os não profissionais de saúde (leigos soa mal) – haloperidol é um medicamento neuroléptico para tratamento de sintomas psicóticos, utilizado para controlar agitação e agressividade.
G.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Helpo - O nosso mundo é humano


Natal!! Época de sonhos, fantasia, presentes e alegria!! E... no topo do pinheirinho, hipocrisia...
Dar, receber, dar, receber, o rebuliço dos presentes, às vezes não recebemos e ficamos discretamente intrigados. Altura remotamente pré-definida para pelo menos uma vez no ano tentar ou fingir ser generoso.
E se neste Natal em vez de recebermos presentes, recebermos sorrisos?!
Nunca se questionaram,
Será que o que eu faço é suficiente?
Será que não devo deixar uma marca nesta breve "passagem" da minha existência?
Será que não posso contribuir para tornar alguém menos infeliz?
Será que não devo participar numa causa maior? (sem querer plagiar o Modelo)
Será que não posso possibilitar oportunidades a alguém?
Será que não posso provar que a humanidade ainda não é completamente indiferente?
Será que não posso dar o exemplo?
Aos nossos filhos..

Os nossos filhos têm oportunidades, aos nossos filhos damos playstations e gameboys, GiJoe's e Barbies, telemóveis, bicicletas e às vezes motas e carros. Aos nosso filhos damos amor, carinho e atenção; damos lápis, canetas e cadernos, damos roupa de marca e sapatilhas Nike e Adidas.
Este Natal tornem os vossos filhos mais humanos, menos materialistas, é a melhor prenda que algum dia receberão. Não estou de forma alguma a julgar a educação que lhes damos, mas todos vemos o exagerado egocentrismo das crianças dos nossos dias. Sentem-nos à vossa beira e contem-lhes uma história:
Era uma vez uma menina chamada Ana. A Ana tem 7 anos e vive em Moçambique, um país pobre em África. Em África as crianças morrem de fome e de falta de vacinas. A Ana não conhece os pais, apenas uma irmã que ajuda a cuidar dela. Anda na 2ª classe da escola primária de Namialo, às vezes não tem sala de aula, aprende no recreio, anda descalça porque não tem quem lhe dê umas sapatilhas. Adora a escola, é muito atenta e tem bom comportamento. Este Natal o que ela mais queria era uns lápis de cor, porque adora pintar. O seu sonho era ser pintora.
E se este Natal tivermos menos prendas para darmos um presente também à Ana?! E se juntássemos todos os meses um dinheirinho para a Ana e os amigos terem material para a escola e puderem ter mais roupa e comida?!

Não tenho dúvidas que concordariam de imediato.
Neste Natal visita http://www.helpo.pt/ e entra no programa de apadrinhamento de crianças à distância ajudando crianças como a Ana, porque “o nosso mundo é humano”
Feliz Natal para todos!
Beijos e abraços.
G.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A imagem que vale por mil palavras


Enquanto fazia a minuciosa pesquisa de fotos para publicar no nosso blog, encontrei esta relíquia... A qualidade não é brilhante, vivia-se ainda no tempo do preto e branco ou.. branco e preto. Já analisaram bem a sua intensidade e profundidade?
Possivelmente uma das fotos mais inteligentes que vi em toda a minha vida.
Dedico-a a todos aqueles que ainda vivem atolados com preconceitos, presos por teias de ódio, segregação e discriminação.
Abraço
G.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Crónicas estapafúrdias vol. II - "Sem palavras"


Estou radiante! Recebi até agora poucas, mas estupendas "crónicas estapafúrdias", enviadas pela "formiguinha", pelo "Nel", "shadow chronicles", "bla....bla.."; "Glosa" e uma última de uma colega anónima que decerto vos terá sensibilizado.
Enquanto lia a história da "formiguinha" (Não, não é uma fábula, pelo contrário) dei por mim a imaginar o cenário, começando de certa forma a inventar. Espero que ninguém me leve a mal, sem querer de forma alguma distorcê-las, permitam-me que às vezes comece a divagar sobre elas..

Era um domingo de manhã, a equipa estava toda preparada, nos seus rostos adivinhava-se o receio. O CODU tinha telefonado, "Atropelado, com aproximadamente 80 anos, quase amputação do membro inferior esquerdo e péssimo estado do membro inferior direito". Quando o CODU ligava, normalmente não era para dar boas notícias, desenvolto o enfermeiro da área de trauma\reanimação apressou-se a reunir o anestesista, o cirurgião e o ortopedista. O Enf. P tinha telefonado ao seu colega da equipa da vmer para saber mais detalhes, A vítima é trazida pelos bombeiros, a vmer está noutro acidente, acrescentou. Além do velhinho vir sem os cuidados da vmer, ainda lá vem outro acidente, desabafava alguém. É a lei de Murphy, quando algo está mal, só tem tendência a piorar!

Lá vêm eles! Entram em passo de corrida, 3 bombeiros ainda jovens, suados e descorados. " Foi atropelado por um carro que fugiu", informa um.
A Sala de Emergência já estava aberta, a passagem entre macas foi rápida. O Sr. João estava obnubilado, pálido, muito provavelmente hipotenso pelo volume de sangue perdido. Ambas pernas com ligaduras colocadas à pressa, tingidas de sangue e coágulos. Foi o que conseguimos fazer, lamentava o bombeiro que aparentava mais experiência, ao reparar no descrédito do enfermeiro que as cortava. A perna esquerda estava de facto desfeita, teria que ser amputada, na direita via-se uma fractura (muito) exposta. O Sr. João começava a acordar e com ele as dores que se tornavam lancinantes. Tinha a perfeita noção de onde estava, o TCE deveria ter sido ligeiro. Num ápice tinha um expansor plasmático e sangue em perfusão, as tensões estavam a subir, a morfina começou a fazer efeito. O stress começava a atenuar, a anestesista mantinha-se à cabeça dando indicações sobre as drogas e tentando tranquilizar dentro do possível o Sr. João, o cirurgião ocupava-se fundamentalmente do tórax, os enfermeiros tinham iniciado as perfusões e iam adiantando registos de sinais vitais. O Sr. João estava calmo, sabia a gravidade da situação, mas era uma pessoa forte, habituada aos dissabores e imprevistos da vida.

Eis que surge em cena o Dr. E, médico ortopedista, médico dos "ossos" como frequentemente se auto-apelidam, "Ó avózinho, umas das pernas já se foi e a outra....vamos lá ver!!!!" na altura a formiguinha ficou sem palavras, o ambiente tinha sido abalado, ficaram todos sem palavras... incluindo o Sr. João.
nota: porque pra meu agrado, este blog não é lido apenas por profissionias de saúde, aqui vai: CODU - centro de orientação de doentes urgentes; VMER - viatura médica emergência e reanimação; TCE - traumatismo crâneo-encefálico
Espero ansiosamente as vossas crónicas estapafúrdias!!!

sábado, 22 de novembro de 2008

Crónicas estapafúrdias vol. I - "Mais eu durmo.."


Amigos blogistas,
Quantas vezes não ouviram ou participaram até, em episódios cómicos, hilariantes, incríveis, surreais, anormais, tristes, deprimentes, no fundo estapafúrdios, em contexto de trabalho??! Não tenho dúvidas que sim.. Eu já assisti, já ouvi, e se calhar até já fui protagonista..
Este não é o meu espaço, é o nosso! A partir deste momento estão abertas as "Crónicas estapafúrdias". Relatem, através dos "Comentários", tudo o que achem que vale a pena outros conhecerem, para assim rirem, ou chorarem convosco..
Este é o primeiro volume e de seguida apresento-vos as primeiras crónicas. As seguintes vão sendo expostas por mim e por vós. Lembrem-se! Por nós! Eu apenas faço o papel de gerir, de compilar e espero eu "publicar" os próximos volumes.
Involuntariamente estas crónicas já começaram com o post "As Setas", quem ainda não o conhece, recomendo.
Nota: As Crónicas reflectem interacções entre todas as classes profissionais e/ou utentes: enfermeiros-médicos; médicos-AAM; utentes-AAM;Técnicos RX-enfermeiros; fisioterapeutas-médicos; Técnicos laboratório-farmacêuticos, etc, etc, etc.. todos os cruzamentos possíveis!
Todos os nomes nelas contidos são pura ficção. Baseado em factos verídicos.
Vol. I
Pouco passava da 1h da madrugada quando a Dr. L entra em OBS, dirigindo-se à cama 6. Sr. António, você tem que ser operado! atira fulminante. Após 4 segundos de um longo silêncio, responde ainda atónito, operado??! eu? Sim! o Senhor precisa de ser operado, repete. O Sr. António era uma homem da lavoura, que com os seus 82 anos ainda semeava batatas, braços carregados de veias do trabalho duro, pele um pouco estragada pelos anos e pelo sol. Suspeitavam de uma peritonite, sabiam o risco, sabiam que muitos como o Sr. António, apavoravam-se com a mesa de operações, preferiam morrer em sofrimento mas em casa, do que no escuro, na solidão, num bloco operatório.

Os verdadeiros cirurgiões fecham a cortina da cama 6 de OBS e sentam-se na cama, junto ao Sr António. Está melhor? ainda são muito fortes as dores de barriga? Já aliviaram um pouco Srº Doutor, obrigado, Deus o abençoe. Srº António o senhor está com um grave problema na barriga e se nós não o operarmos o senhor vai continuar a ter muitas dores e muito possivelmente não vai resistir. Mas eu tenho 82 anos doutor, já não tenho idade pra operações..
Tem razão, já não tem idade pra estas andanças, mas nós também não o operaríamos se não achássemos que era o correcto. E acredite em nós, o mais correcto é percebermos a causa da sua dor, que agora aliviou mas durante a noite pode ser insuportável, e amanha e depois de amanha piorar ainda mais.. pois doutor o que eu quero é que este sofrimento passe, completa o doente. Hoje em dia tudo é muito mais seguro, nada é como antigamente, no tempo em que muitas coisas ainda se estavam a experimentar, a estudar. Não lhe digo com toda a certeza que tudo vai correr bem, mas posso assegurar-lhe que temos muitas hipóteses para que não corra mal. Pronto Drº vamos a isso então, termina menos assustado.

Na verdade, como a Dr. L não era uma verdadeira cirurgiã, esperou que o Sr António dissesse que não queria ser operado e então, desta vez, termina ela "Olhe, mais eu durmo.." E será que dorme bem?! pergunto eu...FIM
Depois de uma primeira crónica um pouco extensa, finalizo com outra mais curta e com pouco enredo..
Doutor! chama ao longe, no corredor, o enfermeiro T. O que é que o doente da maca C vai fazer ao Porto? Não sei o que é que isso lhe pode interessar, responde o médico. Incrédulo, não ouvi como acabou esta crónica estapafúrdia, mas com tempo, sendo comigo, talvez lhe tivesse respondido que provavelmente interessaria, para puder explicar ao doente o que de facto vai fazer ao Porto.. por muitos defeitos que tenhamos acho que os enfermeiros evitam dizer: "Olhe Sr. Araújo, você tem uma PCR elevada, as enzimas estão normais, vamos ver...." é preciso ver, ver.. logo... E assim sem querer passou a 3ª crónica estapafúrdia... é a vossa vez!!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

(Dis)Stress em Enfermagem



Nota prévia: CAROS COLEGAS INTERVENIENTES! Gostaria de apelar à vossa imaginação! Se não se quiserem identificar, encontrem uma personagem como o Melga, CSI Viana, Guilherme, Soldado raso, Glosa, Shadow chronicle, etc.. torna tudo muito mais aliciante, curioso e organizado, como calculam.


Há dias, num jantar de amigos, estivemos a ver umas fotos dos tempos do curso. Reparei que uma razoável parte dos colegas estavam hoje mais magros, retirei-me e anotei a constatação no meu bloco virtual:"Enfermagem emagrece... exemplo: fotos do curso", já a pensar num futuro post. Magiquei sobre o assunto e associei este emagrecimento com o stress do dia a dia de trabalho.
Após discussão com a minha colaboradora especial, depressa exclui esta associação, ou seja, não posso generalizar. Todos temos as mais variadíssimas respostas fisiológicas ao impacto do stress, uns perdem o apetite, consequentemente o peso; outros comem desalmadamente logo dão trabalho à balança.
Poderíamos enumerar uma lista infindável das nossas formas de reagir ao stress. Pode ser um desafio interessante, enfrentem os vossos medos e confidenciem-se, (não! não sou pároco, condutor espiritual ou um ávido curioso, apenas alguém que às vezes tem ideias que podem ajudar). Eu começo: O (dis)stress provoca-me perda de apetite, torna-me menos paciente, por vezes áspero; o (dis)stress limita os meus movimentos, os meus pensamentos, aumenta negativamente a minha carga emocional. E a vós?

A expressão ajuda à emancipação!

Para complementar e finalizar deixo-vos com um interessantíssimo trabalho de investigação da Psicóloga Susana Cabanelas, cliquem aqui e garanto-vos que não vão perder o vosso tempo. Trata-se de uma síntese em power point, de rápida leitura, mas suficientemente esclarecedora. Apresento-vos apenas algumas conclusões do seu estudo: Stress ocupacional em profissionais de saúde: Um estudo com enfermeiros portugueses

"Elevada experiência de mal-estar e pressão profissional afectam percentagem significativa de trabalhadores"
Factores negativos:
  • Níveis elevados de stress e exaustão emocional.
  • Tomar decisões onde os erros podem ter consequências graves e a incompetência e/ou inflexibilidade dos superiores hierárquicos são os problemas que mais geram stress.

Factores positivos:

  • Baixos níveis de despersonalização
  • Elevado sentimento de competência e realização profissional
    Baixo desejo de abandonarem a profissão
  • A maioria dos enfermeiros voltaria a optar pelo mesmo curso

Como muito se tem discutido por cá, está provada então a nociva pressão que os nossos "chefes", sejam eles enfermeiros ou não, podem exercer. Portanto encaminhem este estudo para a caixa correio dos vossos chefes, pode ser que se mudem atitudes...

....para fugir um pouco ao stress recomendo este magnífico video, deixem passar cerca de 1 minuto e meio e disfrutem, clicando aqui


Cá estarei...Abraço!!

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Euro-milhões dos hospitais


O email que mais vezes tenho recebido esta semana intitula-se: "Quanto vale a nossa administração". Parece que está a circular a alta rotação! Até o Guilherme o recebeu!! Pra quem não teve a oportunidade de o receber pode clicar aqui . Leiam e indignem-se.
No post anterior falou-se dos enfermeiros chefes, agora dos nossos "patrões", que não se pense ser uma perseguição a quem manda. Simplesmente uma constatação de factos, uma exposição de verdades.
Nunca fui a favor da anarquia.. minto.. quando tinha 13 anos usava o pin anarquista... mas não sabia o que aquele A significava.. era radical. Hoje sei que em qualquer grupo, empresa, instituição tem que haver quem mande. Agora há aqueles (muitos) que mandam à maneira antiga, de forma ditatorial e mercantil e existem os outros(poucos) que mandam atendendo às opiniões dos seus trabalhadores/colaboradores, motivando-os, liderando-os, recompensando-os justamente e acima de tudo respeitando-os. Já justifico o porquê de salientar o respeito.

  • Temos administradores de fábricas/empresas que por obra do espírito santo se tornam administradores hospitalares e julgam que continuam a lidar com mercadoria.

  • Temos administradores hospitalares (AH) que acham os enfermeiros dispensáveis e que se estes reclamam muito, haverá outro tantos em lista de espera para os substituir (exemplo disso as tristes declarações off-record de um A.H. , que também muito circularam pela net).

  • Temos AH que acham que um aumento de 40 cêntimos mensais é justo. (H. Particular de Viana do Castelo)

  • Temos AH que, por "castigo", baixam os suplementos a enfermeiros contratados, reduzindo para 25% o valor das horas suplementares; o que significa, para ser mais claro, um ROUBO que ultrapassa os 200 eur. Onde estão os valores de justiça e igualdade supostamente conquistados com o 25 Abril?! (espantados pelo "castigo"?! leiam então esta circular, clicando aqui )

  • Temos AH que justificam este roubo face ao défice do hospital, ou seja os enfermeiros (contratados) são os que saem prejudicados pelos erros sucessivos de administrações passadas.

...podem continuar, se quiserem, pois já me cansei...
... e o pior, é que estas comissões de administradores são constituídas por enfermeiros. Enfermeiros que no passado lutavam pela evolução de enfermagem, lutavam contra a exploração, por melhores salários ou.. aguardavam o desenrolar dessa luta, passando o tempo talvez a.. limpar sapatos.. digo eu.. (hoje também é assim... há quem se mexa e há quem fique à espreita................................)
Enfermeiros que deveriam assumir um papel de defesa, mas pelo contrário mantêm posição de ataque, com reduções de custo a todo custo. Vão competindo para ver qual apresentará os melhores resultados no combate ao défice, isto através de ginásticas e artimanhas desmedidas, por exemplo na mobilização de enfermeiros e execução de horários (meses críticos sobrecarregam os horários sem pagamento de horas extraordinárias, nos meses não críticos, "dispensam", mandando os enfermeiros para casa vários dias seguidos. Nem de uso se classifica, mas sim de abuso.
Enfermeiros que compactuam com o roubo de 200 euros que referi acima, mas que auferem 52.067 euros de remuneração base e 13.389 euros de despesas de representação mais 891 eur de subsídio de refeição (anualmente), ou seja, remuneração base mensal de 3.719,08 eur 14 vezes por ano; despesas de representação de 1.115,72 12 vezes por ano


PAGUEM-ME EM DESPESAS DE REPRESENTAÇÃO POR FAVOR!


Este é o país em crise?! pudera...


Haja respeito! Exijo respeito!

SESSENTA E SEIS MIL E TREZENTOS E QUARENTA E SETE EUROS de rendimento anual??! deve ser um 2º ou 3º prémio do euromilhões anualmente!!

ok.. têm mais anos de serviço, há um investimento curricular (nós todos também investimos e nada..), há o jogo político, o factor C, gerem milhões, etc.. mas porra! nós colaboramos na "gestão" de vidas!! Mais uma vez o $$$$ prevalece.

Querem poupar dinheiro?? perguntem aos enfermeiros como! Todo os dias vejo dinheiro nos hospitais a ser jogado ao lixo. Lanço o desafio, enumerem formas de poupar num hospital. Eu começo com uma: médicos que fazem turnos de 48h?!? Sabem quanto eles ganham nesse fim de semana?! Não sabem?!.. nem eu... mas sei que são uma largas centenas de euros...e se despertam o seu precioso e valioso sono ui ui...
hasta la vitoria, siempre!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O inquérito obrigatório

Depois de uns dias de ausência, onde ocupei o meu tempo livre a tentar perceber (com ajuda), as potencialidades de um blog e funcionalidades até aqui desconhecidas, com o intuito de o tornar mais dinâmico (ainda não está como quero!), regresso com a promessa de abordar temas escaldantes!
Devo agradecer à colega Helena Neves que autorizou a publicação do seu inquérito sobre "Assédio Moral" aqui no nosso blog, pois foi assim que finalmente percebi como colocar um documento numa pagina web.. de facto a internet é uma coisa maravilhosa, é um dos acontecimentos do século.
Num dos posts anteriores foram abordados os temas "Agressão/Assédio Moral", nessa altura o Assédio moral ficou em 2º plano (para perceberem o porquê, leiam-no).

Tudo começou quando chega à minha caixa de correio um pedido para responder ao tal inquérito, de imediato o fiz, aproveitando claro para guardar o email desta colega, para ser mais um na minha ainda curta lista de destinatários para divulgação do blog.
Assim mantivemos um contacto, através do qual faz o seguinte comentário:

"Caro colega,efectivamente o assedio moral é uma praga que assola a enfermagem e que tem consequências devastadoras para quem é assediado. Interessante verificar que quem assedia mais os enfermeiros são os seus chefes, também enfermeiros. Despotismo destes e falta de consciência de quem é assediado nos seus mais básicos direitos humanos,leva a que se torne urgente DENUNCIAR, DENUNCIAR, DENUNCIAR todas as situações para acabar com a praga do século XXI.Helena Neves"

esta conclusão interessante e polémica, advém do seu trabalho de investigação.
Neste âmbito, podemos subdividir a AGRESSÃO em duas: a física e a moral. Agressão moral ou Assédio moral é uma forma de condicionamento, de repressão, de opressão, de discriminação em ambiente de trabalho.
Para a percebermos melhor, convido-vos, finalmente, a visitar:
este link
Além de ser oportuno e cativante, deu-me uma trabalheira criá-lo, por isso leiam e vejam se são vítimas de assédio moral.

Recentemente caracterizei o perfil do Guilherme de Carmo, referindo ser "ouvido atento". Principalmente agora, nada me escapa, por isso constato que enumeros são os colegas que por isso ou por aquilo, se queixam dos seus chefes.
O problema começa com o próprio conceito. Consultei o dicionário e reparei na definição de chefe: "o principal entre outros; o encarregado de dirigir um serviço; comandante; cabecilha; capitão; caudilho"
Sempre tive a conotação de que chefe é alguém que pode, quer e manda e que a sua ideia prevaleçe sempre.
De facto alguns levam à risca esta definição e conotoção, impondo as suas "políticas" sem diálogo, criando desagrado com o autoritarismo e arrogância.
Agora nesta nova reformulação da carreira deveriamos apelar à Ordem para mudar o "chefe" para Enf. coordenador ou Enf. motivador, sei lá.. sugiram!!
Temos bons e maus chefes assim com temos bons e maus enfermeiros.
É difícil, de facto, agradar a todos..
Agora ser justo e agir de igual forma com todos os elementos da equipa é fundamental, mas grande parte não o faz, na minha opinião.
Decididamente, não é surpresa a conclusão do trabalho de investigação da colega Helena...

Como nota final devo realçar a honra que foi receber um comentário do famoso administrador do blog "doutor enfermeiro". É gratificante perceber que o blog está a ser divulgado não apenas por mim. Não percebi foi o que ele quis dizer: "Ex.mo colega,a liberdade do outro acaba onde a deixar-mos acabar." Porém vou finalmente visitar o seu blog e ter a oportunidade de lhe perguntar.
Assim me despeço, com o desejo de vos ver por cá

sábado, 1 de novembro de 2008

Sala de pânico



Assim como nós somos vítimas, os utentes também o são.. e em maior número.
Não posso abordar a questão apenas num sentido.
Não tenho conhecimento de casos em que foram vítimas de agressão física, haverá decerto.. agora de agressão verbal.. todos temos conhecimento. Mais uma vez tenho que exemplificar com casos do meu dia a dia..

No meu serviço existem várias áreas/salas/gabinetes de trabalho, uma delas, a que eu vou retratar, vou denominá-la de "sala de pânico". Não vos vou dizer qual.. mas vão chegar lá. Quantas vezes, na triagem de Manchester, os utentes perguntam: "Sr. Enfermeiro, quem é o médico de serviço, não me diga que é o Dr. Q?!" eu respondo, fingindo-me de ingénuo: "por acaso não" ao que ele comenta: "ui que alívio!". Ou então respondo: "por acaso é.." e aí é fácil perceber o seu pensamento "já fui.." e algumas vezes vão mesmo.. vão pra casa. Outros arriscam a sua sorte e esperam não calhar nas mãos do Dr. Q.

Mas quem é o Dr. Q?! O Dr. Q é alguém que foi para medicina, mas detesta pessoas.
É alguém que trata as pessoas com desprezo.
É alguém que já classificou uma pessoa de animal (pelo menos que eu tivesse ouvido)
É alguém que não sabe o que é dor, nem sabe o que é aliviá-la ou pelo menos tentar (mas aqui não é o único)
É alguém que gosta de zombar com as pessoas, principalmente os indefesos.. porque com os outros pensa duas vezes.. às vezes!!
É alguém que se acha com piada..
É alguém que (naturalmente) já foi agredido.. portanto algumas das agressões têm um pontinho de justificáveis.. e eu sou anti-violência..
É alguém que frequentemente berra: "Esteja quieta c...lho..!!! f....da-se.."
É alguém que age como que se o utente fosse o culpado da situação, por vezes trágica, que o levou ao hospital...
Já chegaram lá?! Apesar de haver alguns que se assemelham nalguns pontos... este é caso único de brutalidade..
Felizmente a reforma avizinha-se.. felizmente, pra todos nós..... e para ele.. pois não deve ser de 200 euros.. tem mais uns zeros à direita.. deveriam ser à esquerda

Para descongestionar um pouco, recomendo-lhe, Dr. Q, o seguinte vídeo:

a mim tocou-me, a ver se a si lhe toca.. vai de encontro ao tema já falado, relações entre as pessoas e a distância, frieza, desprezo entre elas..
Continuando na sala de pânico.. havia também o Dr. Z que também era hábil no relacionamento e tratamento do utente..
Gostava de chamar os enfermeiros e pedir: "quero 2 ligaduras de 5, 3 de 10 e 2 de 15... e retire os invólucros" inteligente era o colega que enquanto o Dr. Z pedia as de 10cm já tinha abandonado a sala.. grande Filipe! (já agora obrigado pelo comentário.. as setas esquece-as, que não vale a pena).
Reconheço que não tive essa acertada atitude.. hoje já a teria, porque, sendo confrontado, era muito fácil argumentar o porquê da saída da sala.. os anos não nos trazem apenas cabelos brancos.. também trazem integridade
Outro colega igualmente inteligente, acrescentava: "desta vez retiro eu, mas na próxima retira o senhor"
Agora que o homem era poupado ai isso era... guardava sempre as luvas de doente pra doente, não vá o hospital ter despesas excessivas...

Por fim me despeço apenas salvaguardando que isto das agressões verbais não toca exclusivamente aos médicos... todos os outros, voluntária ou involuntariamente agridem verbalmente o utente.. conversas pra outros posts..
Até breve!

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

i have a dream!

Viram a reportagem da SIC sobre assédio moral/agressões? (ler o post anterior p.f)
eu vi.. grande parte..
Porém, pela parte que nos toca, fiquei desiludido.
Apenas no fim da reportagem quando um jornalista lê vários testemunhos, (apenas)um deles é de um enfermeiro. Queixava-se de já varias vezes ter sido agredido e que ainda por cima ganhava mal (era mais ou menos isto). Agora levanto varias questões:
Será que a comunicação social dá pouca relevância aos enfermeiros?
Será que nós (mais uma vez) ficamos indiferentes à problemática e não denunciámos?
Será que esta reportagem foi pouco divulgada?
Pode ser tudo verdade..
Ainda por cima o testemunho, a meu ver, foi infeliz.. pois, não se pode relacionar o facto de qualquer profissional (mais os enfermeiros) estar sujeito a levar um murro, com o facto de ganharmos mal!! que não haja confusões! Como diz um grande amigo meu "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa" palavras sábias...
O que depreendo e o que muito provavelmente o cidadão comum depreende das palavras do colega, é que: "ora já que levamos na trombeta, ao menos que nos paguem melhor" foi triste...
Mas ao menos denunciou e só por isso merece toda a minha consideração, apesar de ter confundido as coisas..
E o que é que se vai conseguir com um único testemunho, que foi misturado com outros N casos de assédio moral e violência das outras profissões??? NADA..
O poder politico, as administrações, talvez abrissem os olhos se houvesse um debate público ou uma grande reportagem sobre esta "epidemia" direccionada SÓ para as instituições de saúde, talvez voltassem a pôr um policiazinho no hospital.. se calhar é muito caro.. os polícias ganham muito dinheiro..

O meu sonho, desejaria que também vosso sonho, é que este blog funcione como um meio de transmissão, exposição de casos, discussão de ideias.. e quem sabe, quando ele tiver bem recheado, (o que por um lado seria mau sinal.. sinal que as agressões continuam) não chegará aos ouvidos de um repórter qualquer, de uma ministra qualquer, de uma bastonária qualquer!
Por isso, mais uma vez apelo à vossa intervenção: passem informação, exponham casos, deixem contactos, forneçam-me emails.. lutem pela mudança.. temos um grande aliado que é a Internet

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Agressões / assédio moral... uma nova epidemia

Sinto-me feliz.. começo a receber uns "feed-backs" que me dão ânimo pra continuar a reflectir, a levantar questões, a abrir polémicas sobre os "prós e contras" de enfermagem.. e é mesmo por estas que continuarei sempre no anonimato... como compreendem, se desejo um blog polémico, com total liberdade de expressão, nunca revelarei a identidade.. porque ainda não vivemos num mundo completamente livre..

Agora era meu desejo, que aqueles que pudessem, se identificassem, pra eu perceber a abrangência.. aqueles que não puderem.. não crise.. desde que participem, já é óptimo !

Relativamente fácil será perceber o meu local de trabalho.. a isso é impossível fugir.. pra meu regozijo, tem havido neste, reacções positivas e há até já quem arrisque a adivinhar o respectivo autor, mas continuam muito longe de o conseguir..

Bem há pouco tempo, via email, fui confrontado com dois temas críticos: "agressões físicas/assédio moral". Num dos emails perguntam se conheço alguém que tenha sido vitima de violência em contexto trabalho, para possíveis entrevistas numa reportagem da SIC. De imediato respondi, ainda revoltado com os recentes acontecimentos: " esta semana foi mordido e arranhado um colega de um serviço de Medicina, por um doente com alucinações/paranóia e com hepatite B. Há já algum tempo, alguém que não terá ficado satisfeito com a cor da pulseira atribuída na Triagem de Manchester do Serviço de Urgência, parte os óculos a um colega. Numa noite entram 3 indivíduos pelo S.U, amigos de um utente, partindo tudo à sua frente. São comuns as agressões no nosso hospital, mais frequentes, por razões evidentes, no S.U. Alguns são os colegas que levaram ou um murro, ou um estalo, ou uma patada, de de utente desorientado/com alterações de comportamento, ou não." E reparem, sem querer dar a imagem de vitima, são quase sempre os enfermeiros os alvos, pois são eles que estão nas enfermarias, nos corredores, junto dos doentes, não outros (alguns!) que estão sentados nos gabinetes, porque acreditem meus amigos (e aqui dou-lhes valor) se o problemas os abrangesse da forma que nos abrange eles teriam conseguido soluções.

Muitos destes episódios passaram-se após a nossa luminosa administração achar que estava a gastar muito dinheiro com UM policia permanente num posto, no SU. Seria melhor continuar a pagar balurdios a médicos que às vezes nem presentes em serviço estão" mas isso são outras conversas..
Na minha resposta não incluí as já conhecidas agressões morais, que passam despercebidas no âmbito de violência, mas não deixam de o ser. Estas ainda mais frequentes são.. quem não foi o colega que de uma forma ou de outra foi caluniado, insultado, ameaçado?!..
Não podemos andar sistematicamente a lamentar, é necessário denunciar! Desde já faço o apelo! Se foste, ou tens conhecimento de quem tenha sido, alvo de violência, relata aqui mesmo essa experiência, deixando nomes... contactos... emails... para assim reencaminhar à colega que fala da reportagem que uma jornalista da SIC quer fazer
Aproveito também para pedir aos leitores que divulguem o link deste blog a todos os colegas do CHAM, excluindo os da urgência, ou melhor ainda que enviem esses emails para guilhermedecarmo@iol.pt, prometo que apenas os utilizarei para divulgar assuntos relacionados com o blog.. pois o meu desejo era proporcionar uma discussão a todos os enfermeiros e não apenas alguns..

O outro email que recebi aborda o tema " assédio moral" que é uma forma de agressão moral.. um tema que finalmente começa a ser trabalhado e estudado no nosso meio. Parece coincidência mas não é.. pode ser um sinal.. esta poderia ser a "semana da agressão"
As agressões vão continuar, porque apesar de não ser considerada ou tida como, somos uma profissão de risco.. várias o são.. e no mundo em que vivemos cada vez mais o serão..
Mas temos o dever de as diminuir..enfrentando e combatendo este problema.. o dever de alertar o poder politico, alertar a população, exigir segurança, exigir meios..
Este blog poderá ser um pequeníssimo passo,o meu papel é de incitar ao movimento.. o resto é contigo.. convosco.. connosco. Não caminhem cada um para o seu lado, caminhemos no mesmo sentido
beijos e abraços

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Enfermagem multi-usos


Pois então desenganem-se aqueles que pensavam que este blog era exclusivo à sátira da classe médica! os principais culpados do elitismo dos Senhores Doutores, caros colegas enfermeiros, somos nós!! repito, somos nós! e isto está mais que provado.. enquanto continuarmos a julgar que tiramos o curso de "Enfermagem multi-usos" e que conseguimos e devemos fazer o nosso e o que não é nosso, não vamos longe.. porque não nos concentramos no domínio das nossas acções? ainda tanto temos a progredir.., .. enquanto continuarmos a servir de amparo sistemático aos médicos, não vamos longe.. (dou-vos um exemplo simples, inventado, mas com contornos reais : Dr W após alguns minutos de procura, pergunta ao Sr. Enfermeiro onde está o processo do Sr da cama 27, o senhor enfermeiro responde durante a massagem à zona de pressão no calcanêo do Sr Celestino, "Deve estar mesmo ai à sua beira doutor!" "Olhe que não" returque confiante. Enfermeiro interrompe a massagem e dirige-se ao processo que afinal estava mesmo ali à beira e entrega ao Sr Dr... PORQUÊ?? Por que é que não respondemos "procure! se tivesse disponível até o ajudava".. por que é que temos que servir de maezinha que encontra tudo em casa?!
..ou então após duas tentativas sem sucesso o Sr. Dr volta a pedir as folhas de internamento ao enfermeiro, mas desta vez como se tivesse a pedir ao seu filho de 6 anos pela 43ª vez pra ir lavar as mãos que eram horas de jantar "Eu quero as folhas de internamento!! ora aqui podemos ter várias hipóteses de resposta:
a) voltar a fazer de conta que não ouvimos
b) "vá ver se eu estou no messenger"
c) "quer ver que se calhar tão aqui no bolso! ahhh.. afinal não.."
d) "vá ver se eu estou com o Sr Celestino"
e) "será que eu tirei o curso de administrativo e estou aqui a cuidar de pessoas?! tu queres ver?!
ou então.. e parvoíces aparte, simplesmente:
f) "não é da minha competência"
por muito que me custasse e porque sou uma pessoa de bem, teria que escolher a f)
Agora por que é que não se consegue enfrentar o problema e não ir de facto buscar a merda da folha??! tiramos o curso para tratar pessoas doentes ou tratar das vontades de outros?! Mudemos de atitude! Sejamos inteligentes! Atitudes inteligentes mudam mentalidades..

Nós de facto regulamos todo um funcionamento do hospital, temos que ser realistas, sem qualquer tipo de presunção, o hospital vive dos enfermeiros, como o coração vive das artérias, recordo até uma mente médica brilhante que terá afirmado qualquer coisa deste género "O que seria deste hospital sem os enfermeiros?!" confirmo que sem qualquer ponta de ironia.. quando assim é, merece o elogio.. foi mesmo brilhante.
Mas podemos continuar a ser parte vital do funcionamento hospitalar sem nos rebaixarmos, sem que nos façam passar por humilhações.. não! não pensem que é termo exagerado.. é mesmo assim.. assisti.. experienciei..
Agora companheiros, o problema começa no nosso próprio meio! Vejo tanta amargura.. parece que às vezes estamos todos uns contra os outros.. parece não!! Estamos! Os de ortopedia mulheres contra os homens, os de cirurgias contra os de especialidades, os de medicina contra os da urgência, os intensivos contra o bloco, as de neonatologia contra as de pediatria........... e todos uns contra os outros.
Por que é que não fazemos uns jogos sem fronteiras?! Ou então uma liga de Serviços com respectivo totobola e tudo!.. ora, medicina p7 vs ginecologia 1, cirurgia 2 vs Unidade Exames x, Bloco vs Consulta externa x, Intensivos vs oncologia 2, Urgência vs Morgue 1, e resolvíamos a questão?

Por que é que ficamos ofendidos e decidimos participar uns dos outros quando recebemos um doente com a fralda suja? eu sei que não é fácil de digerir.. mas as falhas resolvem-se dialogando.. Será que alguém é verdadeiramente enfermeiro ao aperceber-se que o doente necessitava de uma higiene, mesmo antes de ir para outro serviço, por muito trabalho que tivesse?! eu acho que não é.. claro que isto leva à eterna discussão.. e é um pormenor.. mas é importante.. várias questões se levantam e desde aguardo-as (vá lá, confessem-se)
Agora que me digam que ponderaram "recambiar" um doente, porque ele tinha uma mancha de sangue no lençol?!.. não consigo perceber.. só demonstra a tal amargura que la para cima referi.. felizmente a colega ponderou bem.. mas nem devia ponderar!
Depois acontecem episódios tristes mas hilariantes, como quando um saudoso colega recebe um telefonema, onde questionavam o porquê de o doente recebido não estar algaliado e após discussão, prevalece ou deixa-se que prevaleça a ideia de que o doente deveria ser algaliado pelo serviço de origem.. e assim foi.. mas neste caso o serviço de origem foi ter com o doente.. ou seja este colega subtilmente, traz consigo o material e coloca no outro serviço a sondita ao doente.. mas no fim fez questão de passar pelo colega reclamador (que por acaso estava a relaxar na copa) e atirar: "Adeuzinho, está algaliado o senhor" eu acho que me iria custar a digerir.. e a vós?
Até breve
Aguardo os vossos comentários!! senão não tem piada!
G.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

As setas

Confesso que quando me contaram achei muita piada.. imaginei o cenário e pensei: "de facto o homem (às vezes) tem piada e.. tem coragem" não é qualquer um que desafia toda uma equipa de enfermagem!
Consta que, certo dia numa dada sala de enfermagem, o Dr X (mais uma vez.. mas é a ultima prometo! senão torna-se maçador), ao ver um poster oferecido por um enfermeiro no seu jantar de despedida, com as fotos de todos os ex e actuais elementos da equipa de enfermagem daquele serviço lança o seguinte comentário: "Eu gostava era de levar isto pra casa pra atirar uma setas!"
É engraçado... mas é grave! Outros até nem deverão ter achado piada nenhuma, o que é compreensível..
Com isto queria chegar a um tema crítico que é: relações entre as pessoas numa equipa multidisciplinar
Por que é que há tanto ódio?
Por que é que há tanta inveja?
Por que é que há tanta prepotência?
Por que é que há tanta má-educação?
Por que é que há tanta falta de humildade?
Por que é que há tanta falta de companheirismo?
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Uma das poucas coisas que realço na aprendizagem do curso de base é a abordagem de: equipa multidisciplinar... lembro-me de pensar: "olha que porreiro deve ser o ambiente de trabalho em saúde.. funciona tudo em equipa.. multidisciplinar.. que bonito.. vários em conjunto com diferentes funções mas mesmos objectivos.. fantástico! é isso mesmo que eu quero..
Desilusãoooo...
Como é que isso é possível, se (imaginem o cenário) um médico, um enfermeiro e um maqueiro no mesmo metro quadrado, vira-se o médico: "Sr enfermeiro peça ao maqueiro pra levar o doente Y ao Serviço P" diz o enfermeiro: "Mas ele está aqui mesmo ao lado, porque não pede o senhor?" ao que ele responde "Não! eu digo a si, você diz a ele".. parece uma anedota, não? mas infelizmente é a realidade..
O curso de medicina terá alguma cadeira: "introdução à mania das grandezas"? "A realeza no hospital II"? Não, a sério.. por favor! alguém que me explique se no curso de medicina ensinam a achar que os médicos são seres superiores.
Alguns foram nota 20 nestas cadeiras, felizmente sobram os que tiveram o bom senso e tiraram nota negativa..
A meu ver tudo também passa pela educação. Será que aqueles pais ensinaram estes filhos a não olhar só para os seus umbigos?! Por muitas lavagens cerebrais que possam fazer no curso, ( e digo possam, porque eu não sei e agradeço mais uma vez que me digam) tudo é uma questão de princípios, de educação... o saber ser (outras das poucas coisas que ficaram de positivo com o curso). Imaginem aquele maqueiro o que terá pensado após ouvir tamanha barbaridade?! Imaginem a situação em se deparou aquele incrédulo enfermeiro? Agora imaginem a revolta, a raiva que isso origina.. agora multipliquem por todos os outros episódios tristes.
Revolta, raiva, ódio, inveja, arrogância, falta de humildade/ companheirismo.. todas estas coisas fazem envelhecer,amigos.. pensem nisso.. e tudo me leva a crer infelizmente que todos vamos envelhecer muito rápido.. eu não quero, acho que ninguém quer.. eu cá vou fazer os possíveis pra não conviver com estes maus ideais
E, meus amigos, o sermão não toca só aos médicos.. toca a todos! a todaaaaaaa a "equipa multidisciplinar" (nunca pus umas aspas tão irónicas..) Assim como os médicos têm os seus defeitos, os enfermeiros, os AAM, administrativos,etcetce também os têm.. e não são poucos.. podem começar a enumerá-los, lanço o desafio.. cá vos espero!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Resposta às "novas oportunidades" (1º comentario ao 1º texto)

Realmente, colega, seria de pensar em "novas oportunidades", mas não me entendeste bem, ou então fui eu que não me expliquei como desejava.. como podes ler escrevi que ainda me sobra "algum gosto".. e enquanto há gosto, há esperança..
Não nego que gostaria de voltar a estudar e dedicar-me a algo completamente diferente, mas para as minhas perspectivas (ajudar o próximo), enfermagem é o que mais se adequa.. mas não neste formato.
Pode ser num próximo formato para o qual estamos (alguns) a lutar.. que é partires para uma especialização dentro daquilo que tu gostas e investes..
De certa forma mostrei o meu lado pessimista da situação.. o lado piegas, com o intuito de dar algum impacto ao blog.. o próprio título o demonstra, de facto..
Mas também tenho o meu lado optimista.. e luto para que cada dia este prevaleça
Agora não me venhas dizer que és um enfermeiro super feliz no dia-a-dia de trabalho, que eu não acredito.. porque meu amigo as estatísticas provam-no.. e mais tarde abordarei isso mesmo..digo-te só que na minha equipa se tiver 1% dos elementos satisfeitos com as suas condições de trabalho, motivados, nesta altura do campeonato, será muito..
Obrigado pelo teu comentário
Volta sempre