sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Trabalhar no Novo Hospital de Braga


Acho que seria importante que todos tivessem conhecimento acerca da realidade de um hospital Publico privado, ou melhor Privado (e muito pouco de ) público. Trata-se de um relato de um enfermeiro (anónimo) do hospital Escala-Braga, cujo objectivo será decerto difundir a sua mensagem ao maior número de pessoas possível. O meu comentário segue no final

“Trabalhar no Novo Hospital de Braga

Como Enfermeiro no novo Hospital de Braga, venho manifestar a minha insatisfação e preocupação, pela forma como foram calculados os rácios do número de doentes por Enfermeiro, em quase todos os serviços de internamento.
É humanamente impossível prestar cuidados de saúde de excelência. A Sr.ª Enfermeira Directora, com a conivência das Enfermeiras Chefes dos serviços de internamento, disponibiliza diariamente das 20:30 horas às 09:00 horas apenas dois Enfermeiros e um Técnico Operacional (Auxiliar de Acção Médica) para um total de 30 doentes internados. Durante a tarde, fins de semana e feriados, todo o dia, cada enfermeiro fica responsável por 10 doentes!
Gostaria de lembrar que somos um Hospital Central (do SNS), de doentes agudos e instáveis, que requerem muita vigilância e cuidados diferenciados. Para além de que é referência para toda a região do Minho (mais de um milhão de habitantes).
A agravar as condições de assistência médica tem sido prática recorrente, e por decisão da administração, encerrar alas completas de determinadas especialidades. Obrigando, consequentemente, à passagem dos doentes para outros serviços, muitas vezes, de especialidades totalmente diferentes, e com outras especificidades.
Isto acontece por motivos puramente economicistas, que colocam em causa os interesses primordiais do doente. Mas também os profissionais de Saúde são afectados com estas políticas da administração do Hospital. Muitos têm sido frequentemente mudados de serviço, dispensados, por vezes, acontece a meio de uma jornada de trabalho, etc. Isto traduz-se, obviamente, numa enorme instabilidade profissional e familiar (sim, porque, não se lembram estes senhores, mas também temos famílias, que também sofrem com toda esta situação). Obviamente, com todas estas ocorrências, os enfermeiros, nunca são integrados nos novos serviços (muitas vezes, radicalmente diferentes), e deparam-se com 10 doentes, ou mais, ao seu cuidado, com características e cuidados exigidos, com os quais podem os profissionais não estar tão familiarizados. Sofremos nós, os enfermeiros, mas sofrem ainda mais os doentes.
A agravar este cenário, assistimos mensalmente, a mudanças na organização do tempo de trabalho. Em poucos meses de vida, este novo hospital já nos proporcionou os mais diversos e engenhosos tipos de horários! Tudo para tentar economizar mais alguns trocos! Seja por omissão de passagens de turno ou por redução de elementos em determinadas sobreposições, mais uma vez, as opiniões e interesses dos profissionais, não são tidos em conta. E muito menos pensa o Hospital se estas constantes alterações nas rotinas de trabalho afectam os doentes.
Quase todos os dias confrontamos as nossas Enfermeiras Chefes com as dificuldades que enfrentamos: o número reduzido de profissionais (Enfermeiros e Assistentes Operacionais) nos respectivos turnos de trabalho; a dificuldade de vigilância dos doentes; a impossibilidade de prestar cuidados de saúde de excelência. Para espanto nosso, as nossas chefias (Enfermeiras Chefes) não nos apresentam soluções e “choram como Madalenas arrependidas”!
Custa-nos entender que tenham este tipo de atitudes, quando a maioria delas antes da Parceria Público Privado com o Grupo Mello eram reivindicativas e firmes quanto aos rácios do número de doentes por Enfermeiro. E, algumas delas, ainda têm a “lata” de responder agora que “temos de ajudar o Grupo Mello”.
Nós profissionais, pensava-mos que ia ser um orgulho inaugurar um Hospital novo, com condições de resposta muito boas para todos: profissionais e doentes. Enganámo-nos redondamente! Condições para os doentes e visitas, sim. Melhorou substancialmente. Embora já se comece a notar que a escolha, da generalidade dos materiais, foi de péssima qualidade. Já existem muitas coisas estragadas e partidas, ainda com tão pouco tempo de uso (o ar condicionado continua a não funcionar correctamente, o sinal nas TVs é vergonhoso, inúmeras fechaduras danificadas tal como o porta papel dos WC, etc.)
Quanto às condições de trabalho para nós profissionais, falta quase tudo… Só para dar dois exemplos: os gabinetes de Enfermagem são minúsculos (não cabemos todos, nas passagens de turno, quando transmitimos aos colegas que nos vêm substituir, toda a informação importante dos doentes que estão internados); e é inadmissível não haver uma televisão para que consigamos estar despertos durante a noite (já que passamos 24 horas por dia com o doente); mas em cada enfermaria de duas camas, existem duas televisões LCD).
É também preocupante, que em certos períodos (feriados e fins de semana), exista apenas um maqueiro para dar apoio a todos os serviços de internamento do Hospital. Por norma, e na melhor das hipóteses, um exame “urgente” pedido de manhã é realizado ao final do dia, ou então no dia seguinte. Tem sido, muitas vezes, a boa vontade dos Enfermeiros e dos Assistentes Operacionais a evitar que muitos doentes não agravem o seu estado clínico ou algo mais grave, porque não realizaram um determinado exame atempadamente. Tudo porque o Hospital não quer pagar a mais alguns maqueiros.
A alimentação dos doentes, é também uma situação embaraçosa. É recorrente faltarem dietas, outras vêm incorrectas. Muitas vezes a porção do peixe e /ou da carne, é minúscula, etc. Tudo isto, começou apenas a acontecer, e de forma sistemática, após a privatização da cozinha do hospital.
Não menos frequente, é o facto de muitas vezes, quando se pede medicação à farmácia para os doentes, aparecer uma nota a dizer que o fármaco está esgotado. O que obriga o médico, a prescrever uma alternativa, se existir. Outra solução, que tem acontecido, é pedir à família para ir comprar a uma farmácia do exterior. Só assim o doente que está internado num hospital do SNS, pode fazer convenientemente a sua medicação; para não falar da medicação diária para o doente internado (designada unidose), que chega aos diversos serviços “tarde e a más horas”, mal identificada e com inúmeras faltas, enfim uma “balbúrdia”, o que nos obriga a nós Enfermeiros a uma atenção redobrada, para não haver troca de medicação.
E que dizer do ultraje, que é o parque de estacionamento do novo Hospital para os funcionários?! Ser obrigado a pagar 40,00€, ou mais, por mês, para poder exercer a profissão, é no mínimo um abuso. Para um Assistente Operacional, por exemplo, representa num ano o subsídio de Natal.
Para terminar, quero ainda denunciar o facto de existirem neste Hospital muitas disparidades no que toca à remuneração de profissionais iguais, que desempenham as mesmas funções. Após a privatização, profissionais que já trabalhavam há muitos anos no Hospital de São Marcos, foram “forçados” a mudar o seu contrato e, consequentemente, a trabalhar mais horas (de 35h para 40h semanais). No entanto, passaram a receber menos dinheiro, pois os suplementos nocturnos e de fim-de-semana, foram reduzidos de 50 e 100% para 25% e 0%. Ora, se estes profissionais, continuam a desempenhar as mesmas funções e a trabalhar para o mesmo SNS, não se compreende a sua desvalorização financeira, quando outros colegas mantêm a mesma remuneração.
Com tudo isto, penso que os profissionais de Saúde e a população utente do novo Hospital de Braga, ficou a perder em relação ao “velhinho” Hospital de São Marcos. Os profissionais de Saúde sentem-se desmotivados com todas estas situações. Eu próprio, sinto vergonha de ser Enfermeiro (profissão que sempre adorei e adoro) no novo Hospital de Braga. Aqui não me considero Enfermeiro, mas sim um “Jornaleiro” (sem desprazer pelos jornaleiros), a prestar cuidados a doentes, que necessitam de atenção da nossa parte, e que não a têm, pois já não temos tempo para lha dar.
Este sentimento aqui expresso por mim, é comum a todos os profissionais desta Instituição.
Com tudo isto, eu espero que a nossa Ordem, os Sindicatos, a Entidade Reguladora da Saúde e os Líderes parlamentares dos vários partidos pelo círculo de Braga, tomem uma posição, para que se possa mudar algo no nosso Hospital. Temos de voltar a prestar cuidados de Saúde de excelência, e a ter orgulho de ser Enfermeiro e de trabalhar no Hospital de Braga.

Um Enfermeiro"

Apesar de haver um ou outro pormenor que achei irrelevante que o autor referisse, pois a maioria das pessoas não entenderão (como a TV para os profissionais poderem ver), são gritantes as mudanças para pior no nosso sistema de saúde, tanto para os doentes, como para os profissionais. Algumas delas já aqui no PDDSE têm sido referidas, mas nunca é demais voltar a lembrar. A ver se despertámos para a podridão em que isto se está a tornar. A crise não pode ser a desculpa pelas injustiças que se cometem desde muito tempo antes de se ouvir falar em crise.

sábado, 24 de setembro de 2011

Esgotaram os colares cervicais


Há uns dias atrás o Primeiro-ministro assegurava que a qualidade dos cuidados de saúde não ia ser posta em causa, com todas esta políticas de austeridade.
No nosso hospital de Viana consta que já não há dinheiro para pagar aos fornecedores de colares cervicais. Estes cansaram-se de não receber e cortaram com o fornecimento.
O estado tem fama de ser mau pagador.. Já toda a gente o sabe, já há vários anos ouço falar em dívidas a fornecedores, bombeiros, etc...
Agora não ter dinheiro para pagar um colar cervical, que é uma material relativamente barato e imprescindível, é algo que nos deve deixar bastante apreensivos.

Então Dr. Passos coelho? É esta a qualidade que assegura?
Vamos passar a fazer imobilizações cervicais com os olhos...

sábado, 17 de setembro de 2011

Curtas estapafúrdias Vol IX - O ecstasy e o psicopata


Na triagem geral

Entra no su um casal de adolescentes, queriam um médico urgentemente. Tinham tomado ecstasy e estavam em pânico.
Após observação o próprio médico oferece comprimidos de diazepan.
Um dos jovens agoniados questiona:

"E isto não me vai fazer mal Sr doutor??!" 

Na triagem Manchester….

"Dói-me as mãos, os punhos e este ombro. Ate já fui vista por um psicopata… "

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Só uma pergunta...



O conceito de auxiliar de acção médica (AAM) nos serviços de saúde vai (e bem) mudar.

Cada vez se ouve falar mais em formações, cursos, etc.

Agora pergunto, será que depois destas mudanças as AAM ou assistentes operacionais vão continuar a fazer e desfazer as camas aos médicos?

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Casarder



Um idoso chega de taxi à urgência e passados uns tempos, já lá dentro, entra em paragem cardio-respiratória. É entubado, ligado ao ventilador, efectuada uma série de cuidados emergentes e levado para a Unidade de cuidados intensivos.

Já na UCI, após melhorar acorda e diz: "tenho que me ir embora que tenho o taxi à minha espera..."

Faz-me lembrar o outro que tinha a casa quase a arder mas tinha q ir embora porque tinha uma consulta