segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O problema dos Maqueiros


Sou contra a designação MAQUEIRO. Ao maqueiro associamos maca, indivíduo no qual o seu trabalho gira em torno de uma maca. É um termo, a meu ver, um tanto ou quanto redutor. Até porque sabemos que, no caso deste SU, para alguns maqueiros, o seu trabalho não fica unicamente confinado a uma maca. Às vezes repõem material, uma vez ou outra, a muito custo, colocam um urinol a um doente e uma vez já vi um maqueiro a limpar um vomitado... minto, duas. Numa das vezes estragou tudo quando, após o elogio de UMA auxiliar de acção médica, disse, "Isto devia ser para vós". Ora, daqui só me ocorre um termo - MACHISMO em bruto.
A ideia de que o maqueiro só serve para desempenhar funções exclusivamente de carga, trabalho de peso, só para homens, já devia ter terminado há muito, até porque a categoria de MAQUEIRO, já há muito foi extinta, agora são todos e muito bem, assistentes operacionais. Pena é que só o são de carreira, na teoria, porque na prática continuam como maqueiros.
Da mesma forma que eu vejo uma auxiliar a "puxar" macas, por que é que não vejo um maqueiro a mudar uma fralda?! Por que é que eu vejo uma auxiliar a ser escalada como maqueira e não vejo um maqueiro a ser escalado como auxiliar?! As mulheres são mais que os homens, é??!
Claro que neste momento não estou a ver muitos maqueiros com perfil para Auxiliar de acção médica na íntegra, capazes de ajudar a prestar cuidados ao doente, participar nas limpezas, esterilizações, etc, mas com formação tudo se consegue.
É evidente que se houvessem mais assistentes operacionais por turno, este problema não se colocaria e as coisas talvez pudessem continuar como estão. Mas não há... Nas circunstãncias actuais e com um serviço atómico, não se justifica perder 5 minutos atrás de uma auxiliar para preparar o doente para o internamento e mais 10 minutos para conseguir um maqueiro para o levar (e no fim desses 10 minutos já não pode porque é a passagem de turno ou a divisão para a refeição). Seria 2 em 1, um elemento assumia estas duas responsabilidades, quer fosse maqueiro, quer fosse auxiliar... o tempo que não se ganharia...
Quando vou ao Porto ou a Braga transferir doentes já reparo noutra cultura, os auxiliares fazem todos o mesmo, quer sejam homens ou mulheres. Em Viana é que mais uma vez continuamos atrasados.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Opiniões - Carreira de Enfermagem


Recebi há dias este email. Trata-se da opinião de dois colegas enfermeiros sobre a Carreira que recentemente foi acordada. É importante salientar desde já que não concordo com algumas ideias dos autores, mas de certa forma entendo-as. Fica aqui o meu agradecimento por participarem, agora seria interessante iniciar-se aqui uma discussão sobre aquilo que mais nos interessa e incomoda - a carreira de Enfermagem. Deixo-vos então com o email:
Caro colega:
Sou leitor diário do teu blog e após reflexão com uma colega da mesma Instituição onde trabalho, gostaria de expor e ver publicado no teu blog a nossa opinião relativamente às negociações da carreira de Enfermagem. Ficamos sinceramente "comovidos" com a ingenuidade de alguns colegas (de enfermagem) quando só conseguem ver aspectos positivos na nova Carreira de Enfermagem... Uma carreira onde ninguém é premiado por ter mais formação, onde a progressão é feita a conta gotas e de forma arbitrária (leia-se não premiando o mérito!) e onde a remuneração nem se imagina o que será! Ficamos realmente, surpreendidos com o argumento (reunião do SEP em Viana do Castelo) de que a formação na área da investigação (mestrados e doutoramentos) nada acrescentam ao exercício, no âmbito de competências técnicas.
Para além de discordar desta posição, por considerar que toda a formação dá contributos para o exercício desde que quem a faça saiba mobilizar e colocar em prática esse conhecimento, parece-me que estamos a assumir a nossa incapacidade (de todos os ENFERMEIROS!) de conduzirmos a enfermagem para uma CIÊNCIA, criando um limite de progressão (os Curso de Pós-Licenciatura em Enfermagem), ou seja, a Enfermagem é uma profissão que não irá evoluir para ciência ficando confinada a um domínio puramente técnico! Face a tudo isto, deixamos a nossa proposta aos colegas do sindicato: Revejam o vosso trabalho, lutem pelo interesse de TODOS aqueles que vocês representam e não pensem somente nos vossos interesses particulares, caso contrário, permitam-me o conselho: "Assumam a vossa falta de visão, DEMITAM-SE e venham para a prática serem vítimas da desgraça que conquistaram!"
Fernando Ricardo Sousa

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Prémio Blog


Fiquei a conhecer esta iniciativa com o reconhecimento dos amigos blogistas do Coguitare em saúde, quando nomearam o PDDSE. Já fiz questão de agradecer internetemente o "louvor". O jogo consiste em premiar cerca de 8 blogs, explicando os motivos. Confesso que visito com pouca frequência outros blogs, (mal tenho tempo para o PDDSE), mas ao que vejo, constato que há por aí grandes artistas. Mas este foi um bom motivo para conhecer melhor alguns blogs que já estavam na mira. Sendo assim,
Nota: Esta escolha não tem nenhuma ordem, são apenas os oito favoritos,
"Kaputodeblog", um blog que nada tem a ver com enfermagem, que descobri por acaso e que algumas vezes faz-me chorar... de tanto rir. Cuidado que é um tanto ou quanto... como direi... pouco convencional talvez.
"Enfermeiro com CIO", despertou-me o título, a guideline assemelha-se muito com o PDDSE, ou seja, o conceito vai de encontro aquilo que eu acho interessante, que são reflexões do nosso dia a dia. Tem posts muito interessantes, aos quais, já tinha feito questão de deixar o meu comment.
Evidentemente o "Doutor enfermeiro", por ser pioneiro (julgo eu), por ser mega conhecido, por ser um dos mais visitados blogs de blogosfera nacional e claro, por ser interessante, polémico e inteligente.
Ao "Coguitare em Saúde", até ficava mal não reconhecer... mas nem é por isso. Excelentemente organizado e pensado. Um dos primeiros blogs ao qual dediquei atenção.
"Esse enfermeiro é..." descobri pelos autores anteriores, é recente e promete. Gostei muito do "Karting"
"Cheirinho a éter", despertou-me também pelo curioso título. Original, um sentido de humor muito interessante, uma escrita acutilante.
"A beira Lethes", o blog que originou, de certa forma, o PDDSE. Apesar de por vezes manter um ligeiro atrito (internetemente) com o seu autor, não posso deixar de reconhecer que por vezes publica posts interessantes, com observações perspicazes.
"Não compreendo as mulheres", o design é do melhor que vi, a temática também. O autor nota-se que tem muita experiência nestas coisas de conseguir atrair grandes audiências, com as suas "conversas" sublimes.
O último louvor vai para o blog de alguém que eu não posso identificar, pelo risco de perder o meu próprio anonimato, mas ela sabe de quem estou a falar. Tem bom gosto, bons conselhos, boa música e observações tal e qual como ela própria.
Agora quem quiser entra no jogo.

domingo, 23 de agosto de 2009

Porque deixei de ser português


Ontem, como sabem, aconteceu uma tragédia numa praia do Algarve, 5 pessoas perderam a vida depois de uma derrocada. É muito provável qualquer um de nós pensar que estes 5 infelizes não deveriam estar naquela zona, pois havia um sinal a avisar o perigo. Muito mais provável será, qualquer um de nós, indo a uma praia no Algarve, nem sequer reparar no sinal, pois o que quer é desfrutar de uma sombra, lá vai imaginar que aquela semi-falésia ou aglomerado de terra e pedras vai ruir.
Decerto que todos nós já fomos às praias do Algarve, não sei se repararam, mas grande parte delas são minúsculas, têm um areal muito limitado e estão repletas daquelas semi-falésias, género aquela que vitimou estas 5 pessoas. Para mim a culpa, ao contrário do que muitos devem pensar, não é destas 5 pessoas, a culpa é das entidades responsáveis!
Por que é que nesta treta de país só se tomam medidas depois das merdas acontecerem??!! Agora já veio pra aí um iluminado qualquer dizer que se vai fazer uma vistoria às praias todas da costa Algarvia. Quer dizer, sabiam do risco, mas estavam à espera que alguém morresse para agir. Porra! Doa a quem doer é mesmo assim!! Faz-me lembrar o episódio da ponte de Entre-os-Rios, em que dezenas de pessoas morreram, quando todos sabiam que aquela ponte estava por um fio. Depois todos se apressaram a remendar a de Viana e outras que tais.
Mas há tantos outros exemplos por esse país fora que me deixam fo#?&do e a desejar "Porque deixei de ser português, ou melhor por que é que às vezes gostaria de deixar de o ser".
Quem é que nunca ouviu nas notícias qualquer coisa deste género: "Criança morre atropelada, após atravessar estrada sem semáforo, junto à escola", "População fartou-se de exigir passadeira e semáforo no local onde idosa foi atropelada", " 3 pessoas morrem em acidente de viação no IP9 numa curva onde os acidentes são comuns", "Casal de idosos é colhido por comboio numa passagem de nível", etc, etc, etc, etc e etc
Vivemos no país da tolerância 0 e já agora da prevenção 0.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Ameaça de Bomba no piso 6


Aconteceu mesmo! Não é brincadeira! Ontem, dia 17, ameaça de Bomba no piso 6, serviço Medicina 1, 2ª fase.
Parece que a notícia foi abafada, mas deixo-vos aqui os pormenores em 1º mão,
Será que foi o Sr. Antunes que se fartou da comida do refeitório e decidiu por uma bomba no hall de entrada?! Ou será que a Al Quaeda anda por ai?! Deve ser o Ulsam Said...
Agora a sério...
A Brigada de Minas e Armadilhas foi chamada, após uma denúncia telefónica anónima. Com eles veio o Rex, o cão polícia (fonix não consigo parar de gozar... é que isto dá-me vontade de rir, desculpem...). Consta que levaram um embrulho e o assunto foi resolvido.
A ver se não é preciso chamar o CSI (lá estou eu...).

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Eduardo, uma criança anorética


Ao longo da nossa curta/longa experiência como enfermeiros decerto que já nos deparamos com situações que mexeram connosco de alguma forma. Umas deitam-nos abaixo, outras engrandecem-nos, umas deixam-nos enfurecidos, outras fortalecem-nos. Mas acima de tudo há situações que marcam, que sensibilizam. Esta é uma delas,
A mãe do Eduardo já o teve fora de tempo, mas não seria por isso que seria indesejado, muito pelo contrário. A mãe teve uma gravidez de risco, o período fértil tinha sido ligeiramente ultrapassado. O Eduardo nasceu prematuro e de saúde débil. Foi a partir desse momento que se tornou o protegido da família. Era o menino querido dos olhos da mãe. Também era o único macho de três irmãos. Tinha os olhos doces, cor de mel, de um sorriso fino e meigo. Tinha 14 anos e costumava ser titular nos juvenis do Fão, jogava a central com número 5 às costas, o do seu ídolo, Fernando Couto. Nos últimos tempos tinha perdido a titularidade, passava os tempos mais nos hospitais. Tinha perdido 12 quilos em 9 meses, sofria de anorexia.
A sua fragilidade e superprotecção tinham alimentado o distúrbio.
Permanecia sereno, deitado numa maca, com sua mãe em pé, a seu lado. O seu coração trabalhava lentamente, era a forma do seu corpo responder ao défice de proteínas. Tinha alturas que batia a 30 pulsações por minuto, mas com o estímulo da conversa que com ele mantínhamos, logo subia para valores razoáveis. A Pediatra adoptou uma postura radical logo desde o início, o que eu não condenei, achei que podia funcionar esta terapia abrupta, Eduardo, tu podes morrer, se o teu coração continua a bater desta forma, podes morrer. Sua mãe chorou de imediato e eu engoli em seco. Ele apenas comunicava com os olhos, dando a entender que percebia a gravidade da situação. A médica também se comoveu e moderou o discurso, Tu não tens amigos? Sim, respondeu. E então não queres continuar a ter?! Olha o mundo lá fora, tens tanta coisa a tua espera. O dia ajudou, amanhecia lá fora, e mesmo dali dava para saborear aquele dia de Verão perfeito.
Os raios de sol penetravam timidamente pela vidraça e o silêncio da manhã reinava quando o Eduardo também chorou. As lágrimas deslizavam pela sua face esguia, a sua expressão permanecia quase inalterável. Aquelas lágrimas poderiam ser a sua salvação, senti-as como o sinal de mudança.

Assim o espero Eduardo, o mundo espera por ti.

Enfermeiros atirados aos leões


Quando comecei a trabalhar recordo que o tempo de integração era sagrado. Aquele mês, mês e meio, ou até mais, consoante o serviço, era cumprido à risca. Nessa altura os tempos eram outros, de certa forma valorizava-se o bem-estar e adaptação do enfermeiro.
Depois chegou a crise, as EPE´s, as perdas de autonomia e poder dos chefes e a gestão anárquica de recursos humanos, porque afinal de contas o que interessa é o $$$$.
Eu quero lá saber que aquele enfermeiro esteja ou não integrado, tem é que começar a trabalhar apartir do momento que eu o contrato, tem o curso, é porque já sabe fazer tudo, preciso dele é agora e não daqui a um mês, (isto sou eu a imaginar o que deve ir na cabeça dos gestores quando atiram um enfermeiro para os leões).
Os leões não são só os doentes, são: os protocolos, os circuitos, os programas, as rotinas, os materiais, os arrumos, as características, as patologias, as terapêuticas, as equipas, a logística etc etc etc, de todo um serviço.
Como é possível alguém estar em integração 2 ou 3 turnos e no seguinte ficar responsável por 20 doentes e uma área de Reanimação?!! De quem é a culpa? Será dos gestores, será dos chefes?! Ou não será de ninguém... é o mais provável, é não ser de ninguém.
Nota: Este post nasce da sugestão de um colega do S.U, não interessa quem.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Crónicas estapafúrdias Vol. VIII - O Cunólogo


As luzes do corredor já tinham sido desligadas, a urgência já andava a meio gás. Pouco passava das 4h da manhã, hora de relativa paz, quando um jovem nos visita com uma ferida feia. Tinha-se zangado com a namorada e decidiu concentrar a sua fúria num copo, partindo-o com a mão. Dr.Q, ortopedista (não sei se se recordam) foi chamado, pois o flexor tinha sido atingido. Acompanhado pelo Dr. J, assiste o jovem azarado. Mais fo#$-se , menos ca%&lho, a história foi mais ou menos assim,
Dr.Q - Então, ca#$lho! Que é que você faz aqui a estas horas?! Questiona enfurecido.
Jovem azarado - Ahh.. Doutor, responde acanhado, Parti um copo com a mão.
Dr. Q - Fo#&da-se... e que é andavas a fazer com o copo, ca&$lho?!
Jovem azarado - Zanguei-me com a namorada.

Dr.J, explorava a ferida, enquanto Dr.Q continuava o interrogatório, cada vez mais minucioso. A revolta de ter sido acordado tinha-se atenuado devido aos contornos interessantes do infeliz episódio.

Dr. Q - A tua namorada deve ser fo%$da! O que é que ela faz?

Jovem azarado - Ahh... Tem um estabelecimento em Valença...

Dr. Q - Um estabelecimento em Valença?! Não me digas que tem uma casa de putas?!

Dr. J e o enfermeiro hesitaram entre a gargalhada e o silêncio, mas não aguentaram. Até o próprio interrogado esboça um sorriso, talvez fosse melhor não levar a mal, afinal de contas era a sua mão que estava em jogo. Responde, por fim, após a risota geral,

Jovem azarado - Ahh.. não.. É uma casa de meninas.

Dr. Q - Meninas... pois. Então o que é que tu fazes lá?

Jovem Azarado - Humm... estou lá...

Dr. Q - Estás lá?! returque pouco convencido. Não me digas que és o cunólogo.

E a gargalhada foi ainda maior... e a história fica por aqui... é melhor