quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Enfermeiros, o que é que dizem os vossos olhos?


Depois de mais de 25000 visitas ao post anterior, com a entrevista no Alta Definição de Daniel Oliveira ;) achei que deveria dar continuidade a esta ideia, que pelos vistos, para minha alegria, pegou.
Fica uma compilação dos "gostos" e "não gostos" de todos os colegas que aderiram. 
Ahhh! E hoje surgiu-me uma e acho que muita gente se vai identificar:


"Gosto muito de trabalhar quando joga o Benfica. Por duas razões: evito o sofrimento de ver o jogo e o serviço naquelas duas horas fica muito mais calmo, pois só lá estão os verdadeiros doentes."



Lembrem-se que tudo isto se trata de gostos e gostos não se criticam, quanto muito, comentam-se.



Então aqui vai:




Não gosto de depois de 3 dias seguidos com 17hr de trabalho em cada, fazer o meu melhor com os recursos que tenho e ainda ouvir:"não sei porque se queixam (os enfermeiros) afinal sou eu (com os meus descontos) que vos pago o chorudo ordenado"

Gosto da diferença que gestos simples, como OUVIR, fazem toda a diferença.

Não gosto de estar ausente em datas especiais.

Gosto de sentir, mesmo que de quando em vez, que vale a pena.

Não gosto de correr contra o relógio, e ainda assim sentir que muito ficou por fazer.
Gosto de sentir que, mesmo que não o consiga com todos, marquei diferença na vida de alguém.

Não gosto de querer estar com família e amigos, e não conseguir por horários constantemente contrários.

Gosto de GOSTAR DO QUE FAÇO... mas NÃO GOSTO NADA de sentir o que me vai na alma e que pode deitar por terra a vontade de ser ENFERMEIRA... e sim, não me pagam para ser Enfermeira...

Eu gosto de pessoas que fazem o seu trabalho de acordo com as suas competências. 


Não gosto de pessoas que criticam os outros mas não fazem uma reflexão profunda sobre o seu Eu... é mais fácil ter uma palavra negativa sobre os outros que uma positiva...

Não gosto de ver desperdiçar tempo e ouvir dizer "não tive tempo"

Gosto de sentir que dei tudo de mim nas situações mais complexas.

Não gosto de "empatas" e irresolutos nas tomadas difíceis de decisão.

Gosto das palavras "Bom dia" , "Como estão as coisas?", " Precisas de ajuda?" e "Obrigado"

Não gosto que me ignorem , fingindo que não me estão a ver e se esqueçam das minhas funções.

Não gosto quando enfermeiros, médicos e assistentes operacionais querem ou se vêm obrigados, ou obrigam a substituir-se em funções para as quais não estão qualificados nem mandatados.

Não gosto de arrogâncias nem manias de superioridade seja de quem for.

Não gosto de ouvir "eu é que tenho de andar a fazer o seu trabalho" especialmente dito na frente de utentes.

Gosto de entrar e sair nas horas estipuladas pelas escalas.

Não gosto de ver "fugas" ao serviço, incumprimento de escalas nem turnos continuados na impossibilidade de substituição de alguém por carência de recursos.

Não gosto quando tratam o doente por "oh meu amor" ou "oh meu anjo", ou quando dizem "vá-se queixar a...", "não há pessoal", "não há roupa", "cale-se, para fazer o filho não gritou assim" e detesto quando pura e simplesmente ouvem o doente a chamar e pura e simplesmente fingem não ouvir, viram as costas e ignoram.

Não gosto dos calaceiros que passam a vida a queixar-se quando está nas mãos deles parte da resolução dos problemas.

Não gosto de hierarquias prepotentes nem de compadrios oportunistas.

Gosto de respeitar as hierarquias quando se dão ao respeito.

Não gosto de pessoas que dizem coisas antagónicas em diferentes contextos, quer dizer não gosto de pessoas mentirosas.

Gosto de gerir conflitos retirando deles o melhor para a dignidade do relacionamento e para humanização das práticas.

Não gosto de ver o incumprimento das regras básicas de triagem de resíduos.

Não gosto quando as pessoas falam alto, excepto quando para alguém que ouve mal.

Não gosto de dar más notícias.

Gosto de receber elogios relacionados com a minha comunicação, desempenho, apresentação e organização.

Não gosto quando trocam uma fralda cheia de urina e não lavam a área detesto ver pessoas com fralda só por comodismo funcional porque não há pessoal suficiente para um atendimento humanizado. Detesto ouvir dizer "faça na fralda" a pessoas capazes de utilizar um urinol ou arrastadeira se lha chegassem.

Não gosto de "favores" porque as coisas devem funcionar dentro das competências profissionais num ambiente e espírito de partilha e colaboração profissional.

Não gosto que as chefias sejam as principais culpadas dos principais problemas que se vão passando nos serviços,

Não gosto de pensar que, além das chefias, pessoas que acham também que mandam no serviço vão causando conflitos com disses que disses e vão hostilizando os demais elementos da equipa, como bullying se tratasse. 

Não gosto que a televisão, e em especialmente numa determinada telenovela em horário nobre, dá a imagem de enfermeiros fornicadores com médicos/ enfermeiros maus como às cobras, prontos a lixar o próximo, devido ás suas frustrações, quiçá;

Não gosto de saber que colegas licenciados em enfermagem, mas nunca enfermeiros porque ainda não tiveram a oportunidade de o serem estejam a pagar 10 euros de cotas mensais;

Não gosto, não... detesto pensar que eles têm apenas oportunidades fora do país... e quando as têm, têm a certeza que Portugal é um destino de férias;

Não gosto que ostracizem colegas, que tal como eu, já não querem ser mais enfermeiros, como se de Judas nos tratássemos; 

Não gosto que ainda haja a mentalidade tacanha popular do que o enfermeiro não passa de um mero empregado do médico.

Não gosto do "ai não gostas das condições que te damos? Olha que há gente que não se importava nada de estar no teu lugar!"

Não gosto de ter noção que passámos quatro anos num curso com cadeiras "da treta" em vez de adquirir bases bem mais consolidadas em cadeiras bem mais importantes.

Gosto de um sorriso sincero como gratificação de alguém a quem disse “em que posso ajudar?” “Bom dia, sou o seu enfermeiro durante as próximas 8 horas, disponha…”; “A sua filha ligou e mandou-lhe um beijinho”; …

Gosto mais de fazer, mais do que mandar fazer;


Não gosto do egoísmo e do facilitismo;


Não gosto de pó, manchas e lixos nos cantos e brechas;


Gosto do material arrumado;

Gosto de falar baixo e ser ouvido e que me falem baixo.


Gosto de perceber o porquê de tomadas de decisão.


Não gosto de quem fala muito, mas não faz nada;


Não gosto da área da psiquiatria


Não gosto de horas extraordinárias programadas!


Gosto de quem ensina dando um bom exemplo


Não gosto de vassalagem;


Não gosto de errar, mas erro…


Gosto de uma morte tranquila;

Não gosto da dor, do pânico e da solidão;


Gosto da firmeza das decisões;


Não gosto da indiferença à pessoa (doente/família/colaborador)


Não gosto de por “bolinhas” em centenas de intervenções;


Não gosto de leite branco e achocolatado nas ceias, e do pão duro;

Gosto de pessoas que compreendem os momentos de maior fragilidade de quem está doente.


Não gosto de ver "cegueira" no cumprimento de procedimentos.


Gosto de pessoas que tomam os procedimentos como meios para atingir os objectivos e não como fins em si mesmo.

Gosto de pessoas que cumprem integralmente as suas funções mesmo nos locais mais ermos onde sabem que ninguém os está a ver.


Não gosto de pessoas bem comportadinhas só porque estão próximos do Big Brother.


Gosto de pessoas que se consideram em aprendizagem permanente.


Não gosto de pessoas que acham que sabem tudo e não têm nada para aprender.

Não gosto de pessoas que me atiram "cascas de banana" usando "má-fé"

Não gosto da cobardia daqueles que receiam confrontar as autoridades institucionais com os verdadeiros factos.


Não gosto de enfermeiros arrogantes que se servem da razão da força sem saber usar a força da razão.



O que é que dizem os teus olhos?

Dizem que estou momentaneamente infeliz pela forma como somos tratados pelo poder mas ainda tenho a esperança de ver dias melhores.

O que dizem os teus olhos?

Pessimismo...

A lista está aberta... quem quiser é só continuar

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Guilherme de Carmo no Alta definição!



Em dia do meu aniversário (já nem me lembrava... e por isso o meu muito obrigado a quem me felicitou, na minha página do facebook) ofereço-vos um excerto da entrevista que o Daniel Oliveira do Alta Definição me fez!
Fica aquela parte em que ele pergunta "o que é que gostas e o que é que não gostas" e eu acrescento... em contexto profissional.


Gosto de ter tempo para fazer com calma, aquilo que deve ser feito.

Não gosto da sensação de bloqueio em situações mais complexas.

Gosto das palavras "Bom dia" e "Obrigado"

Não gosto quando enfermeiros querem substituir o médico e quando enfermeiros se vêm obrigados a substituir o médico.

Gosto de sair às 8:30 da manhã e ver as pessoas ir para o trabalho e eu para a cama.

Não gosto quando tratam o doente por "oh meu amor" ou  "oh meu anjo".

Gosto do espírito de equipa.

Gosto de uma assistente operacional que se antecipe, que não seja necessário dizer-lhe o que é preciso fazer.

Não gosto de médicos indelicados ou arrogantes.

Não gosto daqueles que só se sabem queixar, mas que afinal de contas são uns verdadeiros calaceiros.

Gosto de ver uma boa liderança, no dia a dia e em situações de emergência.

Não gosto quando não se tem nenhum cuidado com reciclagem.

Não gosto de tricotomias

Gosto de trabalhar quando chove torrencialmente (excepto na área de trauma).

Não gosto quando as pessoas falam permanentemente alto, como se tivessem a falar para alguém que ouve mal.

Não gosto de comunicar por telefone, a morte de um doente, ao seu familiar.

Gosto de saber ter a capacidade de valorizar um bom trabalho.

Não gosto quando trocam uma fralda cheia de urina e não lavam a área.

Não gosto quando tenho que sugerir algo a um médico em benefício do doente e inconscientemente parece que estou a pedinchar algo... como se fosse para mim ou para os meus.


Guilherme o que é que dizem os teus olhos?

Dizem que não me pagam para ser enfermeiro.

E tu? Do que é que gostas e o que não gostas?