quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Eduardo, uma criança anorética


Ao longo da nossa curta/longa experiência como enfermeiros decerto que já nos deparamos com situações que mexeram connosco de alguma forma. Umas deitam-nos abaixo, outras engrandecem-nos, umas deixam-nos enfurecidos, outras fortalecem-nos. Mas acima de tudo há situações que marcam, que sensibilizam. Esta é uma delas,
A mãe do Eduardo já o teve fora de tempo, mas não seria por isso que seria indesejado, muito pelo contrário. A mãe teve uma gravidez de risco, o período fértil tinha sido ligeiramente ultrapassado. O Eduardo nasceu prematuro e de saúde débil. Foi a partir desse momento que se tornou o protegido da família. Era o menino querido dos olhos da mãe. Também era o único macho de três irmãos. Tinha os olhos doces, cor de mel, de um sorriso fino e meigo. Tinha 14 anos e costumava ser titular nos juvenis do Fão, jogava a central com número 5 às costas, o do seu ídolo, Fernando Couto. Nos últimos tempos tinha perdido a titularidade, passava os tempos mais nos hospitais. Tinha perdido 12 quilos em 9 meses, sofria de anorexia.
A sua fragilidade e superprotecção tinham alimentado o distúrbio.
Permanecia sereno, deitado numa maca, com sua mãe em pé, a seu lado. O seu coração trabalhava lentamente, era a forma do seu corpo responder ao défice de proteínas. Tinha alturas que batia a 30 pulsações por minuto, mas com o estímulo da conversa que com ele mantínhamos, logo subia para valores razoáveis. A Pediatra adoptou uma postura radical logo desde o início, o que eu não condenei, achei que podia funcionar esta terapia abrupta, Eduardo, tu podes morrer, se o teu coração continua a bater desta forma, podes morrer. Sua mãe chorou de imediato e eu engoli em seco. Ele apenas comunicava com os olhos, dando a entender que percebia a gravidade da situação. A médica também se comoveu e moderou o discurso, Tu não tens amigos? Sim, respondeu. E então não queres continuar a ter?! Olha o mundo lá fora, tens tanta coisa a tua espera. O dia ajudou, amanhecia lá fora, e mesmo dali dava para saborear aquele dia de Verão perfeito.
Os raios de sol penetravam timidamente pela vidraça e o silêncio da manhã reinava quando o Eduardo também chorou. As lágrimas deslizavam pela sua face esguia, a sua expressão permanecia quase inalterável. Aquelas lágrimas poderiam ser a sua salvação, senti-as como o sinal de mudança.

Assim o espero Eduardo, o mundo espera por ti.

10 comentários:

  1. Como enfermeiro sinto a necessidade de criar um fórum de debate, algo superior a "blogs de mal dizer".
    Gostava que me indicassem o sentido do blog que pretendo criar, bem como a vontade de participar, quis os temas e quais os conteúdos.

    Conto com todos
    enfpublico@gmail.com

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  2. o sentido do blog que pretendes criar so tu poderás saber. O que interessa é a originalidade, fóruns de debates é o que todos pretendemos... que o nosso blog municione discussao

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  3. Uma boa história. Deviamos tentar captar todos estes pequenos momentos que bem vistas as coisas são os maiores momentos da nossa vida

    Cumprimentos

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  4. Espero que o "Eduardo" consiga superar a sua doença.

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  5. Aprendemos todos os dias coisas novas...

    Muitas vezes, as lições de vida vem de onde menos esperamos....

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  6. Uma experiência forte esta que nos contas cheia de potencial positivo. São estes momentos que fazem a diferença e nos guiam no nosso dia-a-dia. A Inês (nome ficticio) aos 19 anos não pode voltar a ver o amanhecer daquele dia porque um tumor uterino lhe roubou os sonhos á nascença e as lágrimas que rolavam eram na minha face como sinal de revolta e desalento...

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  7. Estas histórias também ajudam a continuarmos a ser enfermeiros. Gostei do Teu Blog, vou seguir!

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  8. Seja bem vindo Vitor A., andavas desaparecido!

    Cara anonima, convido-te a contares a tua historia, parece-me algo a ser partilhado, se assim o quiseres

    Sall, obrigado, volta sempre!

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  9. Devem de ser estes pequenos grandes momentos, estas pequenas grandes pessoas que nos colocam a pensar na vida. Que nos fazem ver que por vezes os nossos ditos problemas não passam de futilidades...
    Acredito Guilherme que são estes 'Eduardos' que digam porque não deixas-te de ser enfermeiro...
    Abraços

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  10. A vida é uma passagem.
    Os nossos pais, com muito amor, ou sem amor, deram-nos a possibilidade de a viver.
    Devemos vivê-la um dia de cada vez, fazendo o nosso melhor, por cada um de nós e para com os outros que nos rodeiam.

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