quarta-feira, 3 de junho de 2009

Um dia na vida de um Enfermeiro da Admissão - Último episódio


Cenas do último capítulo,
(...) Tenho que render novamente a colega da Triagem que fica radiante por me ver. Começo a triar,
Episódio IV
Utente ySr Enfermeiro, desde a semana passada, enquanto estava a ver o festival Eurovisão da canção, que tenho um formigueiro neste braço e uma pontada nas costas…
Seguro a gargalhada, a Triagem às vezes também nos proporciona momentos deliciosos. À sexta triagem entra a vmer repentina para a sala de emergência, soa o alarme estridente, dirijo-me à sala e levo já na mão uma pulseira vermelha. Devido a esta hora crítica do jantar, apenas um colega se encontrava na sala, juntamente com a equipa do carro amarelo. Passados segundos tinham chegado os médicos. Senti-me no dever de ficar a ajudar, afinal de contas enfermeiros de urgência são para estas situações. Tratava-se de uma senhora de 80 anos, que de repente, em casa, tinha-se lembrado de deixar de respirar. Durante 20 minutos tentamos reverter o inevitável, o desfecho não tinha sido favorável. Volto à triagem, 20 minutos ausente, 20 utentes em espera.
E.ABoa noite! Então que se passa?
Utente XDoí-me a barriga.
E.ADesde quando?
Utente XDesde ontem, mas hoje já estou melhor.
ENTÃO QUE RAIO ESTÁ CÁ A FAZER??! Imaginei dizer. Aquele principio de que, quando temos uma dor, tentámos resolver em casa, se melhorarmos, tanto melhor, se as coisas piorarem é que começamos a pensar em ir ao médico, a esta (e a outras) pessoa(s) não se aplicava, ou melhor, aplicava-se ao inverso.
Mais umas queixas e regressa a colega da Triagem, não lhe deixo um panorâma muito agradável, explico que aconteceu algo (im)previsto. Preparo-me para o último sprint, 3 internamentos em espera, 2 folhas de terapêutica de doentes que iam ficar em OBS…Macas, ou seja, um “OBS” onde se encostam os doentes em maca a uma parede, que muitas vezes parecia interminável. A cada um destes é atribuída uma letra, seguindo o abecedário, já ia na H. Era comum a competição para ver quem tinha tido mais macas, havia uns tantos enfermeiros que já se gabavam, por ironia, de ter chegado a ter a Maca B’, ou seja, tinham dado a volta ao alfabeto.
Um dos internamentos tinha ficado esquecido na secretária dos cirurgiões somente há 5 horas. Bem achava estranho aquele doente que se encontrava na Twilight Zone, nem num lado, nem no outro, mas também, mea culpa talvez, não me tinha dado ao trabalho de ir ver o que é que se passava com ele, talvez por permanecer calmo, indiferente à confusão em seu redor, talvez fosse daquele tipo de doentes tão crivado de hospitais, que se tornara imune à impaciência da espera. Tratava-se de um doente reencaminhado do Hospital de S. João, nem se justificava por ali passar, nada foi feito por enfermagem, apenas uma nota de circunstância.
Seria uma sorte, com a quantidade de exames em espera, conseguir um maqueiro para levar pelo menos um internamento antes das 23h, hora de passagem de turno. O meu colega continuava tarefeiro, no trinómio análises/soro/medicação, ao mesmo tempo que barafustava com a lentidão dos computadores. Com a impaciência, clicava sucessivamente até que davam o tilt. Esta Admissão mais parecia uma mini-central de computadores arcaicos que bloqueavam sistematicamente devido ao uso ininterrupto, o ruído que emitiam era oco e desgastante. O sistema Alert (programa criado para coordenar todos os procedimentos num SU) anda a 100 rotações por minutos, os enfermeiros da Admissão andam a 200, claro que dariam o pifo.
E.AEntão leva-me este internamento, se faz favor? Está prontinho!
Maqueiro 2Está bem. Onde está o processo?
Uii, estarei a ouvir mal?! Entrego-lhe o processo surpreendido e digo adeus e as melhoras ao senhor que estava esquecido. E assim terminava o tempo dos internamentos, senão ouvíamos das boas dos colegas lá de cima. Pego numa das folhas de terapêutica, escolho a de baixo, provavelmente a primeira a ser deixada na banca. Um senhor que tinha tido um pós-operatório complicado, tinha estado nos Intensivos e depois terá tido uma alta precoce. Continuava a perder sangue sabe-se lá por onde. Onde iria ficar? “OBS” Macas.
Tentámos numa última arfada, deixar o painel menos cintilante. Conseguimos finalmente atingir a meta, desta feita seria um atraso de 20 minutos. Nada mau…
Chega o colega da noite para receber o turno.
E a história termina da mesma forma que tinha começado,
E.AComo é tão bom ver-te! Deixa-me passar o turno que já estou saturado.
Casa, banho, cama… para a minha princesa.
Princesa - Então amor trabalhaste muito?!
E.A - Trabalhei…
Princesa - Também respondes sempre o mesmo, e adormece no meu peito.
FIM
Retiro-me com a escolha do Dj, espero que gostem,

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Um dia na vida de um Enfermeiro da Admissão - Episódio III


Cenas do último Capítulo,
(...) Vejo o Colega de turno com cara de poucos amigos
E.A - Então que se passa?
Episódio III
Colega de turnoAli a tua amiga (médico 1), entrou aí a mandar vir por o doente do AVC ainda ai estar.
Respiro fundo e relembro os ensinamentos do yoga, utilizar as energias negativas, convertendo-as em positivas.
E.ADeixa lá isso, eu vejo a doente, continua tu no painel.
Doente 1Sr. Enfermeiro já chegaram as minhas análises?
E.AIsso é com o médico, respondo áspero.
Volto ao AVC, planeio ver temperatura, tensões e glicemia capilar, só encontro o termómetro, mais uma volta ao serviço para encontrar o aparelho para ver tensões e a maquineta para a picada no dedo, resultado 5 minutos perdidos. Mais 5 a corrigir as alterações, febre, hipertensão e hiperglicemia, ou seja tudo. Deixo a senhora pronta para o internamento, mais uma volta para encontrar maqueiro, desta vez com sucesso.
E.ASr. Maqueiro leve-me aquela senhora ao internamento.
Maqueiro 3Não posso, estou nas fichas.
E.APode, pode, eu falo com o enfermeiro das fichas.
E lá vai ele contrariado, remoendo umas palavras pouco agradáveis. É por isso que nunca se deve dizer “Não posso”, poder, podemos sempre, agora, “Não devo” é mais correcto, de facto não deve, mas pode. Tal como há falta de enfermeiros, também faltam maqueiros, já para não falar de auxiliares. Muitos são aqueles que dizem,
“Seria bom que aqueles que mandam, estivessem cá neste dias, talvez colocassem mais pessoal”.
Pois é caro cidadão (e esta é para ti Ângelo Miguel!) o enfermeiro não se queixa exclusivamente por ser mal pago, queixa-se, entre inúmeros aspectos, das más condições de trabalho, muito devido à falta de pessoal e que têm implicações directas no seu atendimento. Avaliem bem, Senhores gestores, os sítios onde não se faz nenhum – onde o pessoal poderia ser reduzido e transferido para onde efectivamente se faz. Bom… isto era um pequeno desabafo, já me estava a perder… voltando à série,
Nem tudo era mau na Admissão, este era o momento em que efectivamente estavam dois enfermeiros, onde se conseguia ter um pouco mais de controle da situação.
Colega de turno - Só análises, só análises!... A todos os doentes pedem análises.
E.AÉ mesmo! É impressionante!
Qualquer utente que queira uma análise de rotina, basta ir ao Serviço de Urgência e dizer que sente… qualquer coisa, é garantido que faça umas análises ao sangue, até mesmo que diga que sente que o futuro dos portugueses vai melhorar! Bom… aí é mesmo melhor pedir umas análises, pesquisa a opiáceos..
Várias são as vezes em que vejo esta urgência como um laboratório de análises. Por falar nisso, colho sangue a mais dois utentes, é melhor deixar um cateter, o mais provável é daqui a pouco estarem a pedir medicação.
Já não há macas para deitar doentes, nem muito menos cadeiras. Uma equipa de bombeiros espera há largos minutos, à entrada do corredor, uma vaga para deixar um doente. Mais duas corporações estão lá fora, se esses doentes precisarem de maca, vai haver engarrafamento, ou melhor, já há.
E.ASr. Amílcar, não se importa de levantar um pouco, para sentar esta senhora, para fazer umas análises? O Sr Amílcar era um velhote todo janota, marido da Dona Zulmira, tinham vindo à urgência por razões pouco específicas.
Sr. AmílcarCom certeza, com certeza, Sr. Enfermeiro .
Finalmente subia para o internamento a senhora do lenço na cabeça, não sei se recordam, pelo menos era paciente. Volto-me para um doente que estava sob a responsabilidade de Neurologia, estava suado, com o pulso oscilante. Reúno o material, abro o armário, já não havia o soro pretendido, mais uma volta ao outro extremo para buscar. Tenho que falar com o médico sobre este doente. Onde está?! Não está… Neurologia tinha saído às 20h. Vou ter com o médico de Medicina interna.
E.ADoutor, está ali um doente de Neurologia que está mal.
Médico 3 – NÃO QUERO SABER! SE É DE NEUROLOGIA! Responde, mais uma vez aos berros, como se eu fosse o culpado.
E.A – Pois, mas Neurologia não está.. Só lhe estou a comunicar, faça o que entender.
Médico 3 – ISTO É INSUPORTÁVEL, AMANHÃ VOU FALAR COM O DIRECTOR CLÍNICO! Desabafa, um pouco menos irritado.
E.AMeta-lhe uma cunha para ver se metem mais enfermeiros, acrescento, a tentar descongestionar o ambiente.
E lá foi ele, a ferver, ver o doente…
Aproximava-se a hora do jantar e com ela o tormento da colega de Pediatria que teria que se tornar omnipresente, estando em dois sítios ao mesmo tempo – Pediatria e Admissão. Em dias de caos, dificilmente alguma área escapava, como é habitual Pediatria estava recheada, para passar por lá era preciso fazer uma gincana. Encontro a colega no meio de uma miscelânea de brufens, brinquedos, sondas, pais, seringas, tabuleiros, biberons, desenhos, enfim numa encruzilhada. Digo-lhe com lamento,
E.ATemos que dividir para ir jantar…
Colega da PediatriaPodem ir, é certo que não vá lá, isto está impossível.
Volto costas e com o colega da Admissão, tentamos limpar um pouco mais o painel, ao fim de 5 minutos percebemos que era impossível, tínhamos que ir, continuavam a chover pedidos.
Fomos jantar, desta vez não numa hora, mas em meia. O tema de conversa eram as aventuras e dissabores durante este e outros turnos, o costume, conversa de enfermeiro.
Voltamos ao Vietname, país muitas vezes designado em tempos de crise. Passo uma olhadela pelo painel, atraso superior a uma hora, 3 painéis repletos de pedidos, podia ser pior, naturalmente a colega de Pediatria mal tinha conseguido vir à Admissão, ou seja, 37 doentes tinham sido vigiados por uma equipa de… fantasmas. Tenho que render novamente a colega da Triagem que fica radiante por me ver. Começo a triar,
Final do episódio III

quarta-feira, 20 de maio de 2009

A quebra de confiança


Parece que circulou pelos lados do reino ULSAM, uma Circular, passando o pleonasmo, que destituía um certo enfermeiro chefe do seu cargo devido a quebra de confiança perante os elementos da Direcção. Parece também que esta reforçou bem a ideia de que a Direcção de Enfermagem está em 2º plano, numa posição subalternizada.
Este novo nome para o nosso hospital - ULSAM, só me faz lembrar o nome de um Sultão árabe ULSAM SAID, por exemplo. Na maioria dos países árabes, ou reinos/monarquias/ditaduras, como lhe queiram chamar, não impera a democracia, o diálogo, nem muito menos o bom senso.
Bom senso foi o que faltou ao senhor que teve a brilhante ideia de distribuir esta circular pelo hospital. Como é possível?!
Não estou aqui a defender chefes, não faz parte das minhas prioridades, estou a atacar a falta de respeito e a falta de consideração entre indivíduos.
Enfermagem cada vez mais perde a sua autonomia. Vejo nos chefes autênticas marionetas que dançam pelos serviços ao dispor das direcções, mediante pressões exercidas por médicos, que não vão com a cara de determinado enfermeiro. Onde é que chegamos?!
Vou mas é escrever o 3º episódio de um dia na vida de um enf. na admissão, para me acalmar...

domingo, 17 de maio de 2009

Um dia na vida de um Enfermeiro da Admissão - Episódio II


Cenas do último capítulo,
Médico 1 – ENTÃO O DOENTE AINDA NÃO ESTÁ EM OBS ???!!!
Final do Episódio I

Episódio II (O post anterior é o 1º episódio)

E.AJá comuniquei ao maqueiro, mas está ocupado.
Médico 1Não quero saber, quero o doente em OBS já!
Ouvindo a gritaria, lá aparece outro maqueiro para levar o senhor. E assim se ocupa a única vaga em OBS, com mais 2 ou 3 candidatos.
Colega de turnoSão 18 horas, convém lanchar, já tou a desfalecer.
E.AVai lá, rápido, e pede pra me reservarem 2 croissants e uma empada de marisco.
Colega de turnoA sério?!
E.ANão! Tou a brincar! Duas empadas antes.
Familiar 1Sr. Enfermeiro, já chegaram as análises do meu pai?
E.AVá ao gabinete do médico e pergunte, as análises são com ele.
NeurologistaSr Enfermeiro preciso fazer não uma, mas duas P.L’s.
E.ADoutor, estou sozinho aqui, quando puder…
NeurologistaEu fico à espera na sala do chefe de equipa.
Vai ser bonito… Vou adiantando o painel, atraso passa uma hora.
Avio 5 utentes, lombalgias, cólicas abdominais, dor de garganta, etc.. poderei dizer aviar, porque actuo em série, como nas fábricas, mal dá pra falar com as pessoas. Chega a senhora da Gastro, não tenho lugar para ela em OBS, não está muito estável, e agora?! Tenho que passá-la para a frente, os colegas vão me comer vivo. Vejo uns sinais vitais, confirma-se. Faço uma nota à pressa, ponho o soro mais pingado, inicio uma transfusão de sangue e levo eu mesmo a senhora para a frente, pois tinha conseguido finalmente o maqueiro para me fazer o internamento que agora já deveria estar pronto há 4 horas, o da peixeira terá que esperar. Rezo para que o doente não leve nenhuma surpresa desagradável para os colegas lá de cima, senão serei trucidado.
E Rezo, Avé Maria, cheia de graça, livrai-nos dos nossos pecados e fazei com que as onze horas cheguem depressa, obrigado e Amén!
Durante a reza, chega mais um internamento, este de cirurgia, tratava-se de uma senhora que estava apenas há 9 horas na admissão, vestida de negro, lenço à cabeça, permanecia sentada, imóvel, num cadeirão. Tinha pedra na vesícula.
NeurologistaEntão enfermeiro! As minhas PL’s?! Não posso esperar mais!
E.AOlhe vamos lá… Seja o que Deus quiser, Ele Olhará por os doentes que cá ficam!
Começamos a P.L, não era fácil. Estávamos na Sala de Agudos (fora da Admissão), até que alguém interrompe,
Médico 2Onde está o enfermeiro da Admissão?
E.A Está a olhar para ele.
Médico 2Preciso de um enfermeiro na Admissão!! O seu colega?
E.AFoi lanchar.
Médico 2Então vocês entram às 16h e vão lanchar!?
Pensei em fazer ao senhor um ensino sobre a necessidade de uma alimentação saudável e intervalada, a importância do lanche na dieta do indivíduo, designadamente naqueles que trabalham a sério, mas apenas respondi,
E.ANão Doutor, entrámos às 15:30. O meu colega já deve estar na Admissão.
Lá se conseguiu a P.L, corro pró lanche, já estou atrasado, engulo as empadas em dois minutos e sigo para cima. Ao contrário da fama conhecida, os enfermeiros da urgência também comem em dois minutos.
Regresso, tenho que ir prá Manchester, apenas 1 utente para triar. A colega que lá estava ainda não tinha parado de atender pessoas, foge num ápice e em silêncio, talvez tivesse em transe.
Trio dois, trio três, tiro liro, . Aproveito e levo um doente para Ortopedia, o maqueiro das fichas estava a fazer outro serviço, ou não. Passo pela Admissão, o colega continuava na correria, o atraso surpreendentemente era de 30 minutos. Vou picar um jovem, tinha dores de cabeça. Plano tipo: Análises, paracetamol na veia e soro. Dilema: perco o meu precioso tempo a questionar o médico sobre a necessidade das análises, paracetamol na veia e soro, ou seja, todo o plano?! Para isso teria que questioná-lo 40 vezes, não podia ser… Se calhar tem tido vómitos, será esse o motivo.
E.AVou-lhe dar uma pica, tiro um pouco de sangue para análises e ao mesmo tempo deixo um soro, pode ser?
JovemSim, responde franzindo o sobrolho, como que a estranhar a necessidade.
E.AEntão também tem vómitos?
JovemEu não… Só me dói a cabeça… há dois dias.
Questiono-me, revoltado, se este e outros médicos saberão da existência da “circular” que diz que neste tipo de situações, sem que o doente tenha tido vómitos, é preconizado dar paracetamol comprimidos. Abro a gaveta, já não há sistemas de soro, vejo o maqueiro, peço delicadamente para me ir buscar. Espero 10, 20, 30 segundos, como diria a minha mãe, “manda e faz serás servido”, lá vou eu então procurá-los. Volto a Manchester, mais valia Londres, cinco doentes em espera. Ao terceiro regressa a colega, volto para a frente da batalha. Vejo o meu colega da admissão com cara de pouco amigos,
E.AEntão que se passa?
Final do episódio II

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Um dia na vida de um Enfermeiro da Admissão - Episódio I


Nota prévia,

Para quem não sabe, o enfermeiro da Admissão, actua numa sala minúscula, com 4 cadeirões, 1 marquesa, 4 macas mais o amontoado de macas e cadeiras que se emparelham numa parte de um corredor, que se estende talvez por 10 metros. Escusado será dizer que os cadeirões e macas são ocupados por utentes. Utentes que advêm das diversas especialidades médicas: Medicina, cirurgia, clínica geral e às vezes também Neurologia. Fazendo contas e alguém que me corrija se estiver enganado, passam pela admissão cerca de 60 a 70% dos utentes que fazem “ficha” no nosso serviço de urgência, isto para um enfermeiro e meio. Meio porque quase nunca estão lá dois enfermeiros permanentemente, pois têm que assegurar outras áreas e têm que comer… sim, porque ao contrário do que alguns médicos acham, os enfermeiros comem (mas comem no hospital, se houver uma catástrofe estão lá e não num Restaurante tipo Camelo).
Apetecia-me estender aqui em cálculos do número aproximado de utentes que passam pela admissão, para este 1,5 enfermeiro, mas convido alguém mais entendido em números a fazê-lo. Tenho ideia que diariamente fazem ficha de urgência 400 a 500 utentes, é só fazer as contas.
E agora a aventura propriamente dita,

15:40 Chego à Admissão
Que é isto?! Mais parece o Kosovo em tempo de crise.
Colega - Como é tão bom ver-vos! Deixem-me passar o turno que já estou saturada.
Enfermeiro da Admissão (E.A)Força!
ColegaCadeirão 1 temos o Sr. Costa, cadeirão 2 Sr. Fernando, dor abdominal, colheu, medicação, triagem, cadeirão 3 Susana, reacção alérgica, medicação…
E.AEi, ei, ei! Parou! Não nos vais passar 50 doentes, pois não?! Passa aquilo que está pendente.
ColegaPois… É capaz de ser melhor. Maca 3, Sr. Euclides aguarda urina, talvez seja preciso algaliar, maca 4 está pronta para subir para o internamento, espera um maqueiro há 2 horas. Passando para o corredor, ali na 3ª maca à esquerda à beira do carrinho está um senhor pronto para o Bloco. Sentada naquela cadeira à saída do wc está uma senhora que aguarda um enema, não se conseguiu, desculpem lá… temos um senhor no wc lá ao fundo que está a fazer um, chama-se Aníbal… quando sair… hoje temos feito fila prós enemas. Na 2ª maca à esquerda está a Dona Joaquina, por hemorragia digestiva, tem que ir a Gastro e depois OBS. Aqui esta maca em frente já devia ter ido para OBS, dor torácica, medicina, tudo feito, ainda faço uma nota antes de sair. Ali na 2ª maca à direita está um jovem, Pedro, por convulsões, consciente, assintomático, aguarda Neurologista. Na 3ª maca à direita está a Dona Prazeres, por febre e prostração, precisamos de um sítio para lhe fazer uma P.L. À entrada da Pediatria está o Jaime, e… acho que é tudo… Tudo o resto ou ainda não foi visto, ou espera. No painel chegamos a ter uma hora de atraso, agora temos 50 minutos, menos mal.
E.AOk… Bom descanso, vai lá. Bom, bora lá, vou tratando destas coisas pendentes, vais vendo o painel?! Dirigindo-me para o colega de turno.
Colega de turnoSim… Coragem, bora lá!
Ao telefone,
E.AOBS? Boa tarde! Vagas?
OBSTemos uma vaga, cama 13
Uii, azar… Vou ter seleccionar bem…
E.A - Sr. Maqueiro!! Chamo no corredor, Leve-me este senhor para OBS!
Maqueiro 1Estou de RX, tou com muito serviço.
E.AQuem pode então?
Maqueiro 1É o meu colega, mas foi à morgue com uma auxiliar.
Ok… começa bem. Bem vou algaliar ali o Sr Euclides que espera uma colheita há 3 horas. Auxiliar, onde estará?
E.ASr. Auxiliar?! Procuro pelo corredor
Maqueiro – Foi à morgue com o meu colega.
Óptimo! Bom, lá terei que algaliar sozinho… Algálias n.14?! Procuro na gaveta, não encontro, está aqui uma 12, siga. Água bidestilada? Não há, Sacos colectores?! Não há… lidocaína, compressas , ba lá temos aqui. Sigo para a Sala de Agudos, procuro o material em falta, não encontro água bidestilada, sigo para OBS, remexo no “armazém dos soros” Eureka! Encontrei um, finalmente vou conseguir algaliar! No caminho vejo um maqueiro,
E.A - Preciso que me leve aquele senhor para OBS!
Maqueiro 2Já me pediram aquele senhor pró Bloco, só tenho dois braços!
E.AOk! Não se enerve! Vá lá, depois não se esqueça.
Médico 1Sr. Enfermeiro, deixo aqui um internamento para Unidade AVC.
E.AOk… deixe ficar.

Vou mandar este jovem das convulsões pra frente. Maqueiro?! Não encontro… bom, levo eu senão fico sem espaço para por doentes. Passa por mim a voar o colega de OBS MACAS, passo-lhe o doente de soslaio. Regresso à base, vou preparar a senhora para a Unidade de AVC, vislumbro a Auxiliar, mudo de estratégia.
E.AVenha comigo, vamos ver um senhor que está a fazer um enema há x horas
Encontro o doente revoltado, indignado, queixava-se que já estava há mais de uma hora com a sonda no intestino.
E.APois… Tem toda a razão… tem que se queixar ao Administrador do Hospital a ver se contrata mais enfermeiros.

Volto e preparo a doente para o internamento, aproveitando a sorte de ter a Auxiliar comigo (encontrar uma auxiliar disponível é um achado nestes dias), vejo entretanto o meu colega da Admissão corado e já a bufar. Passados 5 minutos, consigo encontrar o maqueiro.
E.AEntão já me leva o senhor para OBS?!
Maqueiro 2Agora já não posso, pediram-me urgentemente a senhora para a Gastro, posso levar?!
E.ATou… ok vá lá, volte rápido, já começamos a ficar entupidos com internamentos.
Ajudo entretanto o colega nos cuidados que se multiplicam no painel do computador, parece uma árvore de Natal com tantas luzinhas vermelhas. O atraso voltou para uma hora.
Aparece de repente o médico 1 aos berros, à entrada da Sala de Admissão, perante todos os espectadores,
Médico 1 – ENTÃO O DOENTE AINDA NÃO ESTÁ EM OBS ???!!!
Final do Episódio I

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Reunião negocial 7 de Maio - Um desastre!

Nota à Comunicação Social

Reunião negocial 7 de Maio “UM DESASTRE”!

Depois de na última reunião, tendo em conta a forma como decorreu e as aproximações registadas, que a CNESE publicamente valorizou, esperava-se que esta reunião seguisse o mesmo caminho. Pelo contrário, o Ministério da Saúde recuou relativamente a algumas questões:
. nomenclatura do Enfermeiro Gestor - pretende encontrar uma nomenclatura redutora da exigência das funções que estes enfermeiros vão exercer,
· volta a propor a introdução de um artigo sobre os deveres dos enfermeiros quando já tinha aceite retirar tendo em conta que os deveres dos enfermeiros decorrem do seu Código Deontológico e do Regulamento do Exercício Profissional,

Quanto ao âmbito da aplicação da Carreira apesar de se aplicar a todos os enfermeiros, independentemente do vínculo, retira a GRELHA SALARIAL QUE NÃO SE APLICARÁ AOS ENFERMEIROS COM CONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO o que significa que o Ministério da Saúde pretende continuar a patrocinar a exploração de mão
de obra qualificada que já hoje existe nos Hospitais EPE’s.

Quanto à Grelha Salarial, apesar de afirmar que continua a ponderar, mantém tudo na mesma, ou seja:

· mantém o inicio na posição 15 = 1201, 48 sem que, até ao momento, apresente qualquer justificação para a discriminação a que pretendem sujeitar os enfermeiros quando comparados com outras carreiras especiais e de Licenciados, por exemplo, Carreira de Inspector o inicio é na posição 20 =
1458,94 e Professores na posição 21 = 1510,43 euros
· 10 posições remuneratórias na categoria de Enfermeiro - poucos serão os que o conseguirão atingir já que para isso são necessários 50 anos de exercício profissional;
· A proposta de topo desta categoria é a posição 44 = 2694,75 passível de atingir ao final de 50 anos de serviço quando na actual carreira, ao final de 27 anos se atinge os 2228,00, ou seja, apenas menos 442 euros;
· Para os actuais enfermeiros chefes e supervisores mantém a proposta de permanecerem na actual grelha até que atinjam a remuneração do inicio da categoria de Enfermeiro Gestor (posição 44 da futura grelha) QUE NA REALIDADE NUNCA IRÁ ACONTECER ou o concurso, o que é profundamente INJUSTO tendo em conta que estes enfermeiros já se sujeitaram a concursos para ter acesso a qualquer uma daquelas categorias. Esta proposta só pode ser qualificada como INTELECTUALMENTE DESONESTA.

Neste contexto, de indefinição, de recuo e de ponderação “sem fim à vista”, o apelo para que os enfermeiros participem, no próximo dia 12 de Maio na Greve e na Manifestação que se deslocará do Ministério da Saúde para a residência oficial do Primeiro-Ministro, vai ser reforçado.

Lisboa, 7 de Maio 2009
Contacto: Enfª Guadalupe Simões – 91 945 89 83

terça-feira, 28 de abril de 2009

Crónicas estapafúrdias vol. VI - intoxicação mental


A crónica seguinte é igual a tantas outras. A parte estapafúrdia não é assim tão habitual, mas é usual. Quando chegar à parte estafafúrdia eu aviso.
Mais uma noite atribulada como quase todas as outras. Pouco passava da 1h quando vem para a Sala de Agudos a jovem Alice. A Alice desde os 12 anos que, segundo a irmã que a acompanhava, tenta pôr fim à vida.
Tinha tomado mais de meia centena de comprimidos de um antipsicótico qualquer. Eram quase meia centena de episódios pelos mesmos motivos, já a reconhecia, não era a primeira vez que a recebia.
Por muito frenético e impaciente que me torne nos turnos da noite, nestes momentos atingue-se-me sempre uma aura de compaixão e compreensão. Há quem defenda a estratégia da "agressividade" moderada enquanto lidamos com este tipo de situações, para tentar evitar futuras recaídas e novas tentativas de suicídio. Dar uma liçãozita de moral, deixar ficar a sonda após a lavagem e o carvão, como uma forma de dizer, Não faças isto outra vez! Tás a ver como é dificil ter essa sonda do nariz, vê lá não repitas.
E depois há quem defenda a estupidez em bruto, como já vão perceber. Eu não defendo nem uma coisa nem outra, apenas faço o que me compete, explico com calma o que vou fazer e faço. Tudo o resto vem depois; perceber os motivos, encontrar alternativas, será mais fácil com a pessoa acordada.
E agora a parte estapafúrdia:
Eu já tinha saído da sala, mas soube mais tarde (já vão perceber como) o que se passou:
Entra o Dr I (de Imbecil) e pergunta Então o que é que aconteceu? A Alice estava em coma, quem respondeu foi a irmã, que segurava o choro,
A minha irmã tentou suicidar-se.
Aí foi?! Para se matar atira-se de uma ponte ou põe-se em frente de um comboio.
Como?! Está a brincar comigo?! Pergunta a irmã incrédula, Se fosse um familiar seu gostava que falassem assim consigo?
Não, respondeu ele. Fim da conversa.
Eu continuava no vai vem quando vejo a irmã a chorar fora da sala, afinal não tinha conseguido segurar o choro, ele era ininterrupto tal como todas as outras vezes que a Alice, quase da mesma idade, tentava matar-se. Ela pressentiu-me e virou o olhar escondendo as lágrimas, eu consternado, fingi que não notei a sua mágoa e passo ligeiro... talvez ela quisesse ficar sozinha.
Passados uns dias, vem ter comigo a irmã da Alice. Educada, pede desculpa por incomodar, relembra-me a situação e agradece-me desde logo os cuidados.
Reconhecia-a de imediato, senti-me feliz por aquele agradecimento e perguntei como estava a irmã.
Passou o dia a chorar, estão a dar-lhe medicamentos no soro, respondeu. Posso fazer-te uma pergunta, espero não trazer-te problemas com isso. Tratou-me por "tu", não levei a mal.
Sim, claro.
Quem era o maqueiro que a dada altura esteve comigo e com a minha irmã? Fez-me a descrição dele, contando depois o que se tinha passado, achei aquilo um pouco estranho, não fazia a mínima ideia a quem ela se estava a referir. Continuou com a descrição, até que eu percebi,
Esse senhor não é maqueiro, é médico.
Bem me parecia, observou, Achei estranho ele estar a registar tensões no computador.
Enquanto me contava tudo isto os seus olhos voltavam a segurar o choro, disse-me, Eu sei que para vós (profissionais de saúde) que lidam com estas situações enumeras vezes, isto se calhar não é nada, não é motivo para reclamação, mas é minha irmã, sangue do meu sangue.
Se no início talvez compreendesse minimamente a estupidez do Dr. I, talvez pelo cansaço das horas seguidas, pelo stress que leva à hipoxigenação cerebral e consequentemente a actos estapafúrdios, passei logo a condenar profundamente.
Ela foi para casa pensar a reclamação.
As melhoras Alice

Nota: Alice nome fictício, carvão (para não prof. de saúde) - neutraliza a acção dos medicamentos ingeridos em excesso em casos de intoxicação

G.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Carreira de enfermagem no Iraque/Portugal

É disto que eu gosto II


Tal como tinha prometido vou dar algumas indicações sobre o passeio a Serra Amarela, que se vai realizar no dia 1 de Maio. Fui abordado por alguns colegas que gostavam de ir, mas ficaram assustados porque eu classifiquei o passeio com grau de dificuldade Médio/Alto. É verdade que não é nada fácil para quem não está preparado, mas o percurso permite fazer um trajecto alternativo. Os menos preparados vão fazer 7.5KM a subir, bom piso com vistas fabulosas, e depois é sempre a descer (É mesmo verdade).
Os restantes vão continuar até ao cimo da montanha, é para sofrer um pouco, mas vale pela paisagem, que se o tempo estiver bom é extraordinária. Os que quiserem podem vir ter a minha casa às 7.45h, posso eventualmente ter lugar para duas pessoas e respectivas bicicletas.
O ponto de encontro vai ser às 8.30h na Aldeia de Entre Ambos-os-Rios.

Quem vai de Viana pela IC 28, até P. da Barca, passa a ponte sobre o Rio Lima, e no primeiro cruzamento à esquerda apanha a estrada Nº203 que dá para Lindoso, anda 7.100Km. Depois da ponte de Entre Ambos-os-Rios para no cruzamento que dá para a Ermida. Aqui vamos combinar com o restaurante o almoço lá para as 16 h. Depois seguimos para o castelo do Lindoso, e entre as 9h e as 9.30 h, vamos dar inicio ao passeio.

Algum material necessário:
  • Bicla para BTT devidamente afinada, principalmente travões
  • Capacete, e luvas
  • Uma câmara de ar
  • Roupa que não seja muito leve pois pode estar frio.
  • Se possível levar corta vento
  • Água, barras energéticas e umas sandes. Mas se alguém quiser lavar algum "mimo" que esteja à vontade que não vai faltar transporte
  • Uma toalha e muda de roupa (banho não há)
  • Maquina fotográfica
  • Alguns trocos para o Almoço, e combustível da carrinha (motorista é de borla) e para extras
  • Boa disposição, e algum sacrifício.
O Guilherme de Carmo já confirmou que vai estar presente, e vamos ter o apoio da carrinha do Grupo BTT Rampinhas de Viana, conduzida pelo Grande amigo SIMAS e que tem a amabilidade de nos aturar nestas andanças. Penso que estão reunidas as condições para se fazer um bom passeio e convívio. Quem tiver vontade de aparecer, não tenha medo, ninguém vai ficar pelo caminho.

M. Abreu
Nota: Lamentavelmente, para minha infelicidade, não deverei estar presente. Mas nunca se sabe.
Desejo profundamente que este seja o inicio das muitas iniciativas de camaradagem e aventura.
O inicio nem sempre é fácil, mas daqui a uns meses decerto haverá mais participantes
G.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Ehhh toiro lindo!!


Ontem vi o debate na sic sobre o direito dos animais e realmente confirmo que, numa discussão, quem está a perder é sempre aquele que aumenta desnecessariamente o tom de voz e ao mesmo tempo baixa o nível…
Gostei particularmente de um jovem toureiro da irmandade Ribeiro Telles, (esses nobres cavaleiros que veneram o touro bravo) quando disse que só vai à tourada quem quer, exemplificou iluminadamente, Eu também não gosto da praia e não vai ser por isso que a praia há-de acabar… Tem razão sim senhor, eu cá sou a favor do aborto e não gosto de francesinhas, mas não vai ser por isso que hão-de acabar com as francesinhas. E também não gosto de idiotas, mas não vai ser por isso que os idiotas vão acabar. Não tenho palavras para descrever tamanha estupidez comparativa deste jovem "artista".
Dizem que tratam o touro como um rei, questiono-me assim, se o D. Afonso Henriques era frequentemente torturado, humilhado e sacrificado… bom, talvez… pelos mouros… Adiante.
A vedeta sénior Ribeiro Telles também não prima muito pela inteligência, assegurava que o touro não tinha qualquer sofrimento ao ser espetado sucessivamente, mesmo depois da confirmação científica do veterinário convidado, de que, de facto aquele espigão dói. Justificava que, se infligisse dor, o touro virava as costas à luta. Realmente o touro não é tão inteligente como este senhor, senão mandava aqueles sujeitos em collants darem uma curva, mas também não fica muito atrás deste outro iluminado que se baseia que a dor não existe, porque uma tourada envolve muita adrenalina, suficientemente capaz de camuflar a dor e o trauma. Será que terá sido touro noutra vida?! Pena é que ainda ninguém lhe explicou que os animais normalmente atacam para se defenderem.
A Maria Vieira, talvez por ser pequenina, teve pouco tempo de antena, mas disse uma das coisas mais inteligentes que ouvi naquele debate, Então e o meu sofrimento quando por erro apanho uma tourada na TV e vejo aquela barbarie?! E o do cavalo?! Dizem que é tradição, mas para mim tradição é a evolução humana, como também alguém comentou.
Apesar dos infelizes monumentos, ao menos orgulho-me de ter um presidente de câmara corajoso ao ponto de acabar com as touradas. Só em Viana!


Por Robin dos Hospitais

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Desabafo de um Enfermeiro


Tomei a liberdade de publicar este texto que chegou à minha cx de correio electrónica. Desconhece-se o seu autor, decerto não levará a mal.

A UMA BOA CARTA PARA FAZER CHEGAR À MINISTRA DA SAÚDE.

Como Enfermeiro, estive hoje de greve assegurando cuidados mínimos. Revejo-me integralmente nas reivindicações da classe. Mas pergunto-me como as outras pessoas vêm a nossa classe, a nossa profissão, a nossa posição na sociedade. Será que não seremos o parente pobre de um sistema de saúde que só tem olhos para outros interesses…

Sou licenciado. Ganho como bacharel ou nem isso. Deveria fazer 140h por mês e trabalho 160 ou mais. Não recebo nada por essas horas a mais, acumulando horas. Tenho colegas com quase 200h positivas, ou seja, 200 horas que prestaram serviço de qualidade e que não viram compensado o esforço, e porque não dizê-lo, dedicação à causa pública, fazendo os possíveis todos os dias para não faltar nada em termos de cuidados de enfermagem. Essas 200 horas deveriam ser pagas como extraordinárias, ou melhor ainda, deveriam ser realizadas por um dos 5mil enfermeiros que actualmente não tem emprego. No meu serviço devem-se mais de 2000h. No meu hospital há umas dezenas de serviços e a média é nalguns casos superior. Devem-se no país, talvez um milhão de horas de cuidados. O que daria trabalho a mais 7000 Enfermeiros. E já nem estou a falar no aumento do numero de enfermeiros por cada turno, senão o número teria de ser ainda maior. No meu serviço, para 32 doentes, podem estar apenas 2 enfermeiros de serviço. E ao contrário do que por vezes pensamos (os enfermeiros pensam) só temos 2 mãos, 2 olhos, 2 pernas e 1 cabeça. E não somos omnipresentes.

Sou contratado há mais de 4 anos, trabalhando um pouco à margem da lei com contratos de 6 meses 'miraculosamente' renovados. Mas será que algum dia deixarão de precisar realmente dos enfermeiros para termos um contrato tipo 'hipermercado' ou pior? Depois, nestes 4 anos vi o meu ordenado ser aumentado pouco mais de 40€, ou seja 10€ ano. Não subi nenhum escalão, grau, etc, porque simplesmente não há carreira de enfermagem definida, e como contratado a coisa complica-se. Qual é o meu estímulo todos os dias? Apesar de ainda adorar o que faço, trabalho porque preciso do €€€€. É frustrante pensar que todos os anos ao contrário do que deveria ser, ganharei menos. Deveria ganhar como licenciado e ganhar horas extras se me fossem exigidas. Eu que ganho 6,5€ à hora, bem menos que alguns funcionárias da limpeza (sem desprimor para o seu trabalho), não me pagam horas extra. Mas pagar 2500€ por 24h de um médico, já é moralmente e legalmente aceite. Deixemos de ser hipócritas. Sou mal pago. Sinto todos os dias na pele, o peso e o risco desta profissão, que não é dar injecções e medir tensões. Está redondamente enganado quem dessa forma pensa. Somos um elo central nas relações clínicas, um peça chave. Quem esteve internado e já precisou de nós saberá a que me refiro. Formação adicional é sempre condicionada pelos serviços e instituições, num país que quer ter miúdos com computadores por todo o lado, num país em que se não formos doutores não somos ninguém, mas apelar a uma formação contínua, tendencialmente gratuita, é só para outras classes. A qualidade afinal é para outros verem. O doente que se trame.

Se tenho um curso de suporte básico de vida, devo-o a mim. 200€ e tem de ser renovado em 2-3 anos.
Se tenho um curso de suporte avançado de vida, devo-o a mim. 400€ e renovado em 2-3anos.
Se quero ser especialista, terei de ter pelo menos mais 6000€ de propinas para pagar. E depois, esperar que me aceitem numa instituição, que abram concursos, que se desbloqueiem verbas, etc. Um médico depois de médico torna-se especialista praticamente sem ir à escola em 6 anos. A prática é quase tudo. Nós seremos muito diferentes? Se quero tirar uma pós-graduação ou mestrado, arrisco-me a queimar as pestanas e tirar tempo à família, não esquecendo mais 3000€ ou 6000€ de propinas. Em troca recebo mais 0€ ao fim do mês. É isto um estímulo ao desenvolvimento? É assim que a profissão está. É assim que nos sentimos.

sábado, 11 de abril de 2009

terça-feira, 7 de abril de 2009

Voltei pelos piores motivos…


É por tudo isto que este blog surgiu… Por tudo o que vejo, por tudo o que sinto, por tudo isto que me revolta e faz pensar “porque é que às vezes gostaria de deixar de ser enfermeiro”. A temática, o ponto de partida seriam as nossas lamentações, no fundo tudo isto que por aqui se vê não passa disso… lamentações reprimidas de fúria, revolta, indignação, ódio. A mágoa, a desolação ocupa-me a alma quando penso na nossa “classe” que, com o passar dos tempos constato cada vez mais, de classe tem muito pouca.
Mas de quem será a culpa? Na minha opinião é da crise existencial que há já 6 ou 7 anos assola enfermagem, desde que estagnámos, e porquê?! Porque deixamos. Perdemos autonomia, perdemos poder, identidade, ganhámos desalento, desmotivação, desesperança e depois?!… Depois todos se atacam, todos se odeiam.
O post anterior é a verdadeira análise da enfermagem actual, poderia e deveria ser tema para tese: Quem “cuida” afinal dos enfermeiros?!
Por tudo isto faço um apelo, transformem toda esta vossa energia negativa, em energia positiva, para colaborar no processo de mudança em enfermagem, que tanto exigimos. Sei que é difícil e revoltante viver num meio que cada vez mais se assemelha a um armário de cozinha. Mas se pensarem, um dia o mundo poderá ser bem mais justo, evitem esforços em vão ao remar contra os poderes e lobbys instalados, basta canalizar essa tal energia para a luta certa, a luta por uma carreira digna e acima de tudo autónoma, o resto virá depois...

G.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Quem cuida quem

Caro G.
Há uns tempos, no meu hospital, Ponte de Lima existiu uma Enf.ª Directora de Enfermagem, que ainda hoje deixa saudades, pelo seu empenho em ir de encontro às necessidades dos enfermeiros e dos doentes e não da Administração e dos seus números.
Ela sempre disse o seguinte: "Os enfermeiros, cuidam dos doentes, As Direcções de Enfermagem cuidam dos Enfermeiros da Instituição, A Ordem e Sindicatos cuidam da carreira, da dignificação da profissão, da regulamentação da mesma."
Agora, Os enfermeiros continuam a cuidar dos doentes com a certeza que cuidam melhor hoje do que antes, e irão cuidar amanhã melhor do que hoje. A Ordem continua a "regulamentar" a Classe (discutível, dependendo das perspectivas e das expectativas de cada um). Os Sindicatos continuam a tentar, bem, (na minha opinião) ou menos bem, (dependendo das perspectivas e das expectativas de cada um), a Carreira de Enfermagem!
Agora, as Direcções de Enfermagem, essas deixaram de cuidar do enfermeiros e passaram a cuidar dos Números, dos Conselhos de administrações, pois agora são por nomeação politica e não por eleição, tal como sabemos. Assim têm que provar a sua competência em gerir uma classe perante o CA e não mostrar a sua competência perante uma classe de enfermagem que agora anda defraudada, enganada, desiludida, e com uma questão sempre na ponta da lingua! "Quem cuida dos enfermeiros?
À Ordem, que diz que "regulamenta" a enfermagem, pedia que apenas cuide de nós de foma holística, tal como nos pede que cuidemos o doente da mesma forma, mas bem vistas as coisas, o grosso dos elementos da ordem são docentes com a carreira definida e salvaguardada, ou pertencem às direcções de enfermagem ou chefias e estas apenas cuidam dos interesses dos conselhos de administrações, APESAR DOS NUMEROS DIZEREM O CONTRÁRIO, deixando de cuidar dos enfermeiros! Excluo aqui alguns colegas que são chefes e que lutam para cuidar da equipa de enfermagem que tem! Tenho a sorte de ter uma assim, (enquanto não for mobilizado ou ela ser mobilizada)! A classe de enfermagem sempre foi uma classe de alguém que cuida de alguém de forma holística! É e foi o que nos ensinaram nas escolas! Porque será que esses profissionais não cuidam da enfermagem de forma holística?
Por Mais um que Enfermeiro Não Vota PS.

domingo, 29 de março de 2009

Passeio de bicla - "É disto que eu gosto!"


Caro Guilherme, como anunciaste que ias de ferias, pensei em dar-te uma ajuda. Não, não te vou tirar o lugar, nem por sombras, estamos muito bem representados, que não te faltem forças, nem coragem para continuar.
Nos últimos tempos o ambiente no nosso serviço está um pouco pesado, os temas do Blogue também. Penso que será oportuno lançar novos desafios e pensar em tratar do nosso bem-estar físico e mental, alias, é o que eu faço. Como eu me dou bem com o tratamento quero convidar todos os colegas, e não só, desde que venham por bem, para algumas sessões.
O primeiro desafio, e que já tenho na minha agenda há muito tempo, é um passeio em BTT no dia 1 de Maio com subida a serra Amarela, em pleno Parque Peneda Gerês e passagem pela Ermida.
O ponto de encontro vai ser em Entre Ambos-os-Rios às 8,30h, estrada Ponte da Barca Lindoso, para depois ir até ao ponto de partida que vai ser no Castelo do Lindoso.
Para começar, eu sei que não é a melhor oferta, o percurso é de dificuldade média/alta, mas vale a pena, e os aventureiros menos preparados tem muito tempo para se preparar.
Mais lá para a frente dou mais informações. Boas pedaladas !!
AH! Para os mais curiosos aqui em cima fica a foto da "gaja" que me põe no espeto.

Para mais informações, visitem o site da nossa equipa do SU http://sites.google.com/site/surgenciahsl/ (site que surge no contexto de ?ruptura? divisão da equipa do SU, criado por Abel Campos, com o intuito de criar pontos de união e convívio entre os membros do SU).
Por Manuel Abreu

terça-feira, 24 de março de 2009

A nossa equipa ruiu


Tenho pena a nossa equipa desmoronou... Ruiu.
A vontade ou o jeito de uns prevalece em detrimento ao desejo, à razão de 50, ou seja toda a equipa de enfermagem. É tudo uma questão de dinheiro, diz-se por ai! Outros dizem que é tudo uma questão de "poleiro". (engraçado dinheiro rima com poleiro... )bom, adiante..
Meus amigos, isto vai acabar por dar tudo ao mesmo! E quem vai pagar?! Quem lá está... ou seja nós. Quero ver quando chegarem as transferências, dois enfermeiros a ir para Braga e para o Porto ao mesmo tempo, expliquem-me senhores do piso 8, como vai ser depois! Acho que vamos ficar pelo apelo... Da Urgência vocês só sabem que fica no piso 2 e pouco mais. Que experiência, que contacto é que têm com a Urgência para tomar uma decisão tão complexa (mas sem sentido neste contexto) como esta?
O espírito de cooperação entre os colegas de OBS e Urg. Geral vai afrouxar, se não extinguir. Acho que já não vai haver aquele: "Vou-te mandar um doente com tudo por fazer!!" "Como!? Também não mandas um doente com tudo por fazer para o Bloco, pois não?! Serviços distintos meu amigo! Desimerda-te! Tu és um dos escolhidos, preferidos do chefe… as rivalidades que se podem formar… a inveja. E quem permitiu tudo isto?
Vai ser bonito... tenho pena... a minha equipa, a minha super-equipa ruiu
Agora dividiram-se, giro não é?... Salve-se quem puder, o barco está a afundar! Uns com receio da esfrega constante, do espaço restrito, escolhem Urg. Geral, outros preferindo a estabilidade escolhem OBS, outros ganham coragem e escolhem chefes, outros gostam de emergência e fogem a sete pés de um OBS que se assemelha a um internamento (rotina), outros nem se pronunciam, indignados, com a (des)esperança que notem nas suas revoltas, no seu descontentamento, outros tentam comprar os chefes, neste caso o chefe, a fugir do que se sabe. Outros dizem que é indiferente, já resignados, vencidos.
Depois há aqueles que escolhem uma coisa, mas calha na rifa a outra, os chefes assim o entenderam... será que o vão justificar?! Agora venham as baixas e mais baixas, já são poucas! Ahhh ! Mas há mais dinheiro, assim paga-se melhor as horas extraordinárias. Venham os pedidos de transferência também, já agora!
Mas o Robin anda por aí a roubar aos ricos para salvar os pobres! Ajuda-me Frade Tuck, João Pequeno... sniff, tou deprimido, sinto-me impotente, estou preso pelas garras do maquiavélico Príncipe João! Será que vem o Rei Ricardo, coração de leão em nossa defesa?!
Por Robin dos Hospitais

quinta-feira, 19 de março de 2009

Caros Srs. Bombeiros


Caros Srs. Bombeiros,
Para mim um bombeiro é um colega de trabalho, companheiro de alegrias e tristezas. É alguém que valorizo, pela coragem, pela atitude, pela vontade de servir sem esperar contrapartidas. Concordo com o anónimo que disse que às vezes os enfermeiros são arrogantes para os bombeiros, não passará do mau humor acumulado devido ao stress da urgência, mas posso-lhe garantir que os enfermeiros respeitam o vosso trabalho.
O post anterior não se trata de um "bilhete para o circo", quis dar tempo de antena a todos, ninguém "abusou", realmente lavou-se alguma roupa suja, o que também é importante, apenas um ou dois comentários foram eliminados, mas agora é altura de parar, reflectir e agir (se assim o desejarem).
Muito do que por aqui se leu é polémico, nunca imaginei que este post ("Chamem o 112 para os BVVC") do senhor Oliveira originasse esta "rebelião". Sinceramente acho que deviam agradecer e não condenar, podem tornar tudo isto uma grande ajuda, pensem bem nisso!
Já reparei que poucos devem ser os bombeiros da corporação que não vieram dar a sua opinião, agora façam-no na vossa casa, no vosso meio, na vossa família, entre os vossos camaradas.
Solicitem uma reunião, falem com o vosso comandante, provavelmente ele espera ser abordado e concerteza vai ter em conta as vossas opiniões.
Critiquem de uma forma construtiva. Na vida, o que mais se valoriza é a humildade, exponham os problemas de uma forma assertiva, não procurem o conflito, unam-se.
Vejo tanta vontade, tanta energia, frustração, utilizem-na da melhor forma. Cada um deveria apontar num papel o que está mal, reflectir sobre isso, corrigir, voltar a escrever, reflectir mais uma vez e só depois expor.
Um apelo ao Senhor comandante, que provavelmente também deve ler o que por aqui é escrito, (se não lê, deveria, porque estão mencionados factos do seu interesse) utilize tudo isto como um contributo, não censure os seus bombeiros por se querem exprimir, reivindicar, melhorar. A culpa não é sua, nem deste ou daquele, é do vosso orgulho, da vossa competitividade exacerbada, mais uma vez canalizem toda esta energia para definitivamente colocar os bombeiros no lugar que merecem, que é lá bem no alto.
Para terminar, de facto ninguém valoriza quando se faz um bom trabalho, só quando algo corre mal é que se apontam os dedos, mas isto, meus senhores, é um mal geral, não pensem que é exclusivo dos bombeiros.
Good night and good luck
G.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Chamem o 112 para os Bombeiros Voluntários de Viana



Caro administrador do Blog, dado o seu apelo à escrita decidi usar o seu blog para expor um assunto que me doi na alma e que muito tem a ver com a nossa Cidade e com a "nossa Saúde" espero sinceramente que o publique

Cumprimentos

António Oliveira

Título:Chamem o 112 para os Bombeiros Voluntários de Viana do Castelo

Não sendo eu profissional de saúde...fui obrigado pelas circunstancias da vida a entrar um pouco no vosso mundo...a doença da minha mulher, fez com que a minha vida passasse a ser: lidar com médicos, enfermeiros, maqueiros, bombeiros e toda a comunidade que gira em torno da saúde...nesta infelicidade da doença são muitas as vezes que recorro ao 112 para levar a minha mulher ao hospital quando a sua doença agrava...e meus caros amigos foi ver como anda o nosso socorro em Viana do Castelo que me fez ir procurar mais informação à cerca deste mundo que desconhecia totalmente...e foi nesta busca pelo abençoado mundo da Internet que no meio de muita coisa má tem a capacidade de nos abrir os olhos que cheguei a este maravilhoso blog e me vi tentado a contar as minhas peripécias com os Bombeiros Voluntários de Viana do Castelo.

Longe vão os anos em que associamos às Corporações de Bombeiros Voluntários o estereótipo que os seus membros eram Homens humildes com pouca formação, mas com um dever de missão único associado à vontade em ajudar o próximo...talvez por isso era com orgulho que víamos a sua missão, pois sabíamos que o faziam sem pedir nada em troca...Hoje em dia as exigências da evolução dos cuidados associado à profissionalização do sector da Emergência fez esta filosofia mudar...e em muitos caso ainda bem, pois veio trazer qualidade ao socorro em Portugal...ou não! Portugal tem evoluído em muitos campos, nomeadamente nos sistemas de combate a Incêndios, quer em meio Rural quer em meio Urbano, no sistema de Emergência Médica, com a criação de meios mais diferenciados pondo equipas médicas a ir ao encontro das vítimas e não o velho conceito de levar rapidamente a vítima ao encontro dos meios médicos, apostando na formação dos elementos que tripulam ambulâncias, numa tentativa de unificar e criar uma só língua na emergência pré-hospitalar...ou não! Pois continuamos a assistir a dois tipos de socorro...o de Primeira classe, praticada nas grandes cidades, em que o próprio Instituto Nacional de Emergência Médica possui meios próprios de socorro, nomeadamente, ambulâncias de Suporte Básico de Vida tripuladas pelos Técnicos de Emergência Médica (TAE), Ambulâncias Suporte Imediato Vida (Medicalizadas) tripuladas por um TAE e um Enfermeiro e em fim de linha as Viaturas de Emergência Médica e Reanimação tripuladas por um Médico e Enfermeiro para os casos mais graves...No socorro de segunda classe temos o praticado nas regiões mais recondidas do nosso País em que apenas podemos contar com a boa vontade de pequenas Corporações de Bombeiros com escassos meios que prestam o socorro conforme podem...ou não!!!Pois aqui mesmo bem na nossa Cidade de Viana do Castelo, por sinal Capital de Distrito, por sinal à beira mar, por sinal inserido num meio urbano e industrial vasto, o nosso socorro está CAÓTICO!!!! A Ambulância do Instituto de Emergência Médica para a área de Viana do Castelo está entregue aos Bombeiros Voluntários de Viana do Castelo...estes por sua vez são responsáveis por assegurar as tripulações 24h horas por dia, 365 dia por ano...para além disso são responsáveis por assegurar a formação dos seus tripulantes devendo estes possuir o curso de Tripulante de ambulância de Socorro...

Pelo que apurei o serviço de Ambulância de INEM dos Bombeiros Voluntários de Viana do Castelo é assegurado de dia por dois elementos...e agora entendo porquê que sempre que chamava o 112 de dia eu pensava "Que azar calham-me sempre estes dois!" Pudera! Para começar por estes dois elementos um casal maravilha que a rapidez deve ser a alma do negócio, pois quer a minha mulher esteja bem o mal é sempre empurrada para ambulância dando a ideia que eles devem ganhar à peça e quantas mais pessoas socorrerem mais ganham...muitas vezes a minha esposa está aflita com falta de ar...sou obrigado a pedir por favor para lhe colocarem oxigénio...mas por incrível que pareça não são os piores...pois à noite e ao fim-de-semana a coisa complica...

Numa dada noite acordei sobressaltado com a minha esposa a dizer que não estava bem...lá rezei...e chamei o 112! Aparece-me dois elementos em que o Tripulante que vinha socorrer a minha mulher não sabia trabalhar com o Medidor de Pressão Arterial ( não sei se é assim que se chama), quando me cheguei junto dele para o ajudar é que entendi o porquê de tanta dificuldade...o senhor estava alcoolizado! É verdade! Para além de ter uma imagem física acabada com falta de alguns dentes e sujo...não estava sequer capaz de levar a minha esposa na maca....

Caros leitores deste blog...estava aqui horas a escrever as pripécias que já me aconteceram...eu pergunto-me é quem é que orienta, selecciona estes elementos?Os bombeiros?O INEM? Isto assim não pode ser! não é essa imagem que quero ter dos Bombeiros...mas sinceramente neste momento julgo que eles é que precisam de ajuda!!!!


Por António Oliveira

domingo, 8 de março de 2009

Carta aberta à Sr Enfª Directora


O meu nome é Robin e sou enfermeiro do serviço de urgência.
Quando soube que desejava reunir com os enfermeiros do SU, para escutar as suas opiniões e discutir o que os enfermeiros poderiam fazer para melhorar o serviço, fiquei impressionado, digo-lhe mesmo maravilhado. Nunca ninguém o tinha feito. Falou-se que seria necessária uma mudança, mas toda a gente foi da opinião que a mudança não dependia exclusivamente da enfermagem, a enfermagem, como muitos médicos afirmam, é quem “segura” este serviço de urgência. Mesmo assim alguma coisa teria que mudar nos enfermeiros, fiquei com a sensação que seria obrigatório mudar qualquer coisa, só porque se tinha que mudar. A mudança, Srª directora, é um dos pressupostos de uma boa gestão e eu sei que é isso mesmo que pretende, porque de facto vejo-a com competência, mas garanto-lhe que a mudança nem sempre é benéfica e muito menos o será se a totalidade dos enfermeiros não a deseja.
Passo a explicar, foi dito à equipa que a decisão já estava tomada, era irreversível, aí o tumulto instalou-se… “Então para que é que nos quiseram ouvir?!”, “Afinal já estava tudo decidido!” e os enfermeiros uniram-se e fizeram um documento onde estão claras todas as razões que desacreditam neste projecto.
Esta ideia de separação do SU em unidades funcionais OBS e Urg. Geral, o propósito de tudo isto, é uma ideia muito interessante, mas só quando se construir uma nova urgência, a nova urgência que todos desejamos!! Por enquanto não Srª Directora. Com todo o respeito, ainda não tem a perfeita percepção da realidade desta Urgência, acabou de chegar, vem de outra realidade, apesar de conhecer os seus créditos. E é bom que venham pessoas de fora conhecedoras de outras realidades e com outra mentalidade, mas ainda não conhece a urgência, nunca lá trabalhou, nunca lá passou umas horas seguidas naqueles turnos alucinantes que todos, os que lá estão, conhecem. Não sabe que não há ninguém que deseje ser enfermeiro unicamente do OBS, já para não falar dos que não desejam ficar unicamentamente na urgência geral. Todos querem continuar com a polivalência, que é o que caracteriza um enfermeiro de urgência. O trabalho tornar-se-ia extenuante apenas num sítio em exclusivo. É evidente que tenho em conta que muitas decisões tomadas pelas gestões, em qualquer que seja a área e contra o desejo dos trabalhadores, possam ser muito válidas. Agora quando 100% dos trabalhadores estão contra e apontam justificações é porque alguma coisa não está bem. E afinal de contas somos nós quem lá está, dia a dia, hora a hora, ano após ano.
Por Robin dos Hospitais

sexta-feira, 6 de março de 2009

Manifestação de enfermeiros dia 13


Caro Guilherme, aproveito o teu blog para lançar um apelo a todos os enfermeiros, se assim o permitires.
Colegas,
Atravessamos uma crise, não se trata da crise que por aí se fala, é a crise em enfermagem.
Querem-nos impor uma carreira miserável, com uma posição remuneratória inicial de 1000 euros, quando temos licenciados, que não são mais que nós, com um início de carreira a rondar os 1400 euros. Os professores fizeram os seus complementos e foram de imediato reposicionados de acordo com o seu novo grau… e os enfermeiros?! Querem-nos impor uma avaliação de desempenho estupidamente injusta, onde se vai beneficiar muito provavelmente os lambe-botas. Querem-nos impor uma carreira estratificada, onde nem todos têm a possibilidade de atingir o topo, querem acabar com os suplementos, enfim … quem andar atento facilmente perceberá o atentado.
A luta tem sido difícil e já longa, mas meus amigos a guerra está a terminar, as eleições aproximam-se, senão nos mexermos agora, depois vai ser tarde. Pensem que é o nosso futuro que está em causa, participem em todas as formas de reivindicação, façam-se ouvir!!
Dia 13 de Março, estão todos os enfermeiros convidados para a Manifestação em Lisboa, junto aos aposentos da Ministra, não esperem que os outros lutem por nós!!
Tens transporte gratuito, convívio garantido, só não te pudemos ir buscar a casa..
Organizem-se nos serviços, façam trocas, passem a palavra, pensem que agora é o momento!!
Inscrições estão abertas nos serviços, ou então liguem para 914869019 ou 963168306

Por "um colega"

segunda-feira, 2 de março de 2009

Porque deixei de ser médico


Não sei como era a medicina há umas décadas atrás mas sei no que transformou… São anos e anos de estudo, afogados em teoria e em que a prática e o contacto humano são postos de lado. Depois há um exame teórico, um único exame, duas horas de vida que nos dão uma nota, como se de uma etiqueta se tratasse e deixamos de ser pessoas para ser números… Com esse número escolhemos uma especialidade, na maioria das vezes sem saber o que nos espera… Se me perguntassem hoje se voltava a escolher a mesma coisa a resposta seria não. Se me perguntassem se tinha escolhido tirar o curso de medicina a resposta também seria não. Porquê? Tenho vergonha do que vejo no dia-a-dia hospitalar…
Há vários tipos de médicos e a sua forma de trabalhar é bem visível no serviço de urgência:
-O Sr. Dr. A, que já nasceu cansado, por isso não vê doentes, independentemente do tempo de espera, até porque o trabalho não faz bem á pele;
- O Sr. Dr. B, que vê essencialmente os seus doentes da privada, será que depois lhes cobra a consulta?!
- O Sr. Dr. C que sai 3 horas para almoçar e 2 para jantar porque, afinal, tem de estar com a família ou já tinha aquela almoçarada marcada há algum tempo com os amigos;
- O Sr. Dr. D que anda sempre de um lado para o outro a tratar de “questões logísticas” e que por isso não tempo para ver doentes;
- Por fim o Sr. Dr. E, a excepção, aquele que trabalha, que se preocupa realmente com os doentes, que não gosta de os deixar à espera porque não gostaria que lhe fizessem o mesmo… Este tipo de médicos, em vias de extinção, são os mais criticados, olhados de lado pelos outros colegas.
Os internos ainda vão a tempo de fazer a sua escolha, mas quantos vão preferir o caminho fácil ao tortuoso? Será que num futuro próximo ainda vamos encontrar alguém que se dedique realmente ao trabalho? Será que este tipo de médico vai conseguir remar contra a maré ou também, um dia, vai desistir dos princípios que o fizeram escolher a profissão?

Por “In determinado”
(ESTA FOI A 1ª RESPOSTA AO DESAFIO, CONTINUO À VOSSA ESPERA! - Guilherme de Carmo)

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Desafio


10000 visitas… apesar de achar estes contadores estatísticos estranhos ou pouco fidedignos, é com orgulho que o menciono. O blog atingiu um nível e repercussão que eu não estava à espera, muito se elogiou, muito se falou, pelo bem e pelo mal.
Algumas pessoas atribuíram demasiada importância a alguns acontecimentos, posts, ao blog em si. Tinha idealizado algo restrito, quase como familiar, mas a internet de restrito não tem nada e depois algumas pessoas assustaram-se…
Não se trata da morte anunciada, como se vaticinou, acho que é o momento oportuno para fazer uma pausa, um retiro reflexivo. Mas o blog, o conceito continua e agora lanço um desafio. Escrevam um post, há por aqui pessoas muito criativas, com espírito crítico, com sentido de humor, conjuguem tudo isto e surpreendam-me, surpreendam-nos. Escolham uma foto para o post, se quiserem escolherei eu, identifiquem-se, nem que seja um nome fictício… estas são as regras, agora é a vossa vez. Podem falar do que quiserem (da mesma maneira que eu falo de música e cinema, etc), do que sempre quiseram falar, não se esqueçam que este se tornou um bom meio de divulgação, mas entendam que se achar o post inadequado, não o publicarei, são esses os riscos. Um conselho útil, não sejam extensivos, um post curto é muito mais facilmente lido. Enviem para Email: guilhermedecarmo@iol.pt, ou através dos comentários.
Até um dia

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O Brutus, o Sr. Serafim e a Dona Lurdes


O Brutus é um cão de grande porte, este tipo de cães geralmente não dura mais que 7 ou 8 anos. A veterinária suspeita de uma encefalite ou uma neoplasia cerebral. Os donos estão tristes, o Brutus já não se acha capaz de ser aquele cão de guarda imponente, que quando ladrava fazia tremer o intruso mais incauto, perdeu a sensibilidade proprioceptiva e em momentos de maior stress, como idas ao veterinário, perde o controle de esfíncteres esvaíndo-se em merda. Merda pra isto, mas que vida de cão é esta? Pensará ele.. A médica de animais, prudentemente sugeriu aguardar uma semana para avaliar a evolução, mas avisou que eutanasiar poderá ser a melhor solução para terminar com o sofrimento do cachorro. O mundo animal parece estar mais avançado, eutanasiar já é palavra do vocabulário.
O Sr Serafim trabalhou toda a vida, homem sério, de bom trato. Pelas minhas contas há mais de 5 anos foi-lhe diagnosticado neoplasia intestinal, neste último ano perdeu por completo a pouca qualidade de vida que ainda lhe restava, a metastização do tumor, deteriorou por completo a sua condição física e mental, é completamente dependente em todas as necessidades básicas. A família agoniza com o seu sofrimento, exaspera com os seus gritos que aumentam apenas com um toque.
A D. Lurdes criou os 2 netos que hoje têm 14 e 11 anos. Apesar de passar os sessenta, aparenta menos dez. Calma, mas eléctrica, mulher de sete ofícios, teve uma vida difícil, mas rica e farta, nasceu na Venezuela e chegou a estar emigrada no Canadá, agora dedicava-se ao campo e às oliveiras. Foram estas inocentes árvores que a atiraram para o suplício, caiu de uma e fracturou a coluna cervical. Passa os dias entre o serviço de Ortopedia e cuidados intensivos. Estabiliza, ortopedia, pára de respirar, intensivos. A fractura é superior, atingiu a vértebra C4, a função respiratória está seriamente comprometida, o que ainda a mantém viva é uma traqueostomia. Mantém o seu perfeito juízo e já manifestou o desejo de morrer. Os filhos amam-na, daquele jeito de amar, que apenas os mais afortunados têm a possibilidade de perceber, revezam-se para, sempre que permitido, permanecerem junto dela e depois choram e desacreditam no Deus que trouxe ao mundo os seus filhos e o pão para as suas mesas.
A vida para ela já não faz qualquer sentido e sem o manifestar condena quem a prolonga, reanimando-a sucessivamente, Perdoai-lhes senhor, porque eles não sabem o que fazem, reza ao Salvador. Para ela e ao contrário do parecer dos filhos, já não tem vida de relação, não os encara, mal lhes fala. A única relação baseia-se no alívio disfarçado dos filhos de ainda puderem ver a mãe querida viva. Tamanho egoísmo que só pensam no seu pseudo-conforto.
Muitas vezes vejo escrito em diários clínicos e notas de enfermagem, “sem vida de relação”, a verdade nua e crua e a garganta entala-se-me. A vida vive do afecto e da relação, que é o seu verdadeiro motor. O resto é conversa. Quando médicos e enfermeiros escrevem “sem vida de relação” apesar de cair mal, procuro ser realista e penso, É um facto. O desenlace ideal, seria uma morte junto da família, do lar, da terra, morte serena, em paz, com a família consciencializada que é o melhor a fazer. Agora quem não passa por elas não compreende, nem muito menos sabe o que significa eutanásia. A igreja traça-lhes as ideias e o juízo.

E se o Sr Serafim fosse o papa, e a Dona Lurdes mãe de um ministro? Talvez apressassem o debate público, esclarecessem e constituíssem a eutanásia como um direito constitucional (evidentemente sustentado em princípios bioéticos) desembrulhada de preconceitos e ignorância. Sabemos que a realidade do país, o próprio sistema de saúde não estão ainda preparados para lidar com a eutanásia, comecem a trabalhar nesse sentido.

G.

Nota: recomendo o filme Mar Adentro, vejam um pouco em cima

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

As socas carpe diem


Nem todas as aquisições podem ser um fiasco, encontrem o médico das socas Carpe diem e perceberão o que digo. Tem uma escola enriquecedora, onde se aprende a valorizar a dor do doente, o sofrimento da doença.
Viver o dia é o seu lema. Uma grande ajuda para neste meio triunfar. Médico de convicções, educado e ponderado. Capaz de passar horas da madrugada no bloco a operar e vir depois à urgência resolver situações inacabadas. Frontal e preciso, disse a quem de direito que este era o pior serviço de urgência em termos organizacionais em que alguma vez tinha trabalhado. É alguém que admiro, porque ao contrário de muitos, tem prazer e orgulho no seu trabalho. Outros que têm, não o deveriam.
G.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Crónicas estapafúrdias vol. V - Tragédias


Plagiando o Capitão, durante 8 horas consecutivas ouvimos o matraquear de maleitas. Sr. Enfermeiro dói-me o peito, Sr. Enfermeiro falta de ar, Sr. Enfermeiro vomitei, Sr. Enfermeiro dei cabo dos dedos, Sr. Enfermeiro ando triste, Sr. Enfermeiro dói-me a barriga, perco sangue, é a febre, é a alergia, é o pé, são os dentes, é a tosse, são os ouvidos, são os gazes. Sr. Enfermeiro não come, não mija, Sr. Enfermeiro bebeu demais, comeu demais, não bebe, não come. Caiu de 5 metros, caiu de 10, de 20. Sr. Enfermeiro partiu o braço, a perna, o queixo, as costelas, os dentes… chegaaa!! Mit tausend Teufeln!! Só tragédia porra. Por que é que de vez em quando, não nos vêem visitar só pra dizer:
Sr. Enfermeiro hoje não me queixo de nada, sinto-me mesmo bem;
Sr. Enfermeiro você é impecável;
Sr. Enfermeiro onde é que você arranjou tanto estilo?!
Sr. Enfermeiro trago-lhe aqui estes chocolates.. gosta do negro ou de leite?
Sr. Enfermeiro ganhou o 3º prémio do Euromilhões;
Sr. Enfermeiro sou o homem mais feliz do mundo, hoje fui pai;
Sr. Enfermeiro, vim aqui de propósito só pra dizer que os enfermeiros são pessoas excepcionais;
Sr. Enfermeiro, trago-lhe aqui um capuccino, gosta de vanila ou moka?
Sr. Enfermeiro o Benfica ganhou a liga dos campeões;
Sr. Enfermeiro a Juventude de Viana é campeã nacional;
Sr. Enfermeiro o Cavaco mandou o Sócrates de frosques...
Mas não… é só tragédia…
G.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Ben X, um dos filmes da minha vida

Recentemente vi o filme Ben X.
Há filmes que marcam e este é um deles.
A história (verídica) gira em torno de um jovem com síndrome de Asperger, uma s. do espectro autista e que consequentemente é vítima de bullying.
Mas a história tem muito mais que estes temas complicados e anexados pelos automatismos da sociedade egocêntrica e preconceituosa.
Let's look at the trailer