Cenas do último capítulo,
(...) Tenho que render novamente a colega da Triagem que fica radiante por me ver. Começo a triar,
Episódio IV
Episódio IV
Utente y – Sr Enfermeiro, desde a semana passada, enquanto estava a ver o festival Eurovisão da canção, que tenho um formigueiro neste braço e uma pontada nas costas…
Seguro a gargalhada, a Triagem às vezes também nos proporciona momentos deliciosos. À sexta triagem entra a vmer repentina para a sala de emergência, soa o alarme estridente, dirijo-me à sala e levo já na mão uma pulseira vermelha. Devido a esta hora crítica do jantar, apenas um colega se encontrava na sala, juntamente com a equipa do carro amarelo. Passados segundos tinham chegado os médicos. Senti-me no dever de ficar a ajudar, afinal de contas enfermeiros de urgência são para estas situações. Tratava-se de uma senhora de 80 anos, que de repente, em casa, tinha-se lembrado de deixar de respirar. Durante 20 minutos tentamos reverter o inevitável, o desfecho não tinha sido favorável. Volto à triagem, 20 minutos ausente, 20 utentes em espera.
E.A – Boa noite! Então que se passa?
Utente X – Doí-me a barriga.
E.A – Desde quando?
Utente X – Desde ontem, mas hoje já estou melhor.
ENTÃO QUE RAIO ESTÁ CÁ A FAZER??! Imaginei dizer. Aquele principio de que, quando temos uma dor, tentámos resolver em casa, se melhorarmos, tanto melhor, se as coisas piorarem é que começamos a pensar em ir ao médico, a esta (e a outras) pessoa(s) não se aplicava, ou melhor, aplicava-se ao inverso.
Mais umas queixas e regressa a colega da Triagem, não lhe deixo um panorâma muito agradável, explico que aconteceu algo (im)previsto. Preparo-me para o último sprint, 3 internamentos em espera, 2 folhas de terapêutica de doentes que iam ficar em OBS…Macas, ou seja, um “OBS” onde se encostam os doentes em maca a uma parede, que muitas vezes parecia interminável. A cada um destes é atribuída uma letra, seguindo o abecedário, já ia na H. Era comum a competição para ver quem tinha tido mais macas, havia uns tantos enfermeiros que já se gabavam, por ironia, de ter chegado a ter a Maca B’, ou seja, tinham dado a volta ao alfabeto.
Um dos internamentos tinha ficado esquecido na secretária dos cirurgiões somente há 5 horas. Bem achava estranho aquele doente que se encontrava na Twilight Zone, nem num lado, nem no outro, mas também, mea culpa talvez, não me tinha dado ao trabalho de ir ver o que é que se passava com ele, talvez por permanecer calmo, indiferente à confusão em seu redor, talvez fosse daquele tipo de doentes tão crivado de hospitais, que se tornara imune à impaciência da espera. Tratava-se de um doente reencaminhado do Hospital de S. João, nem se justificava por ali passar, nada foi feito por enfermagem, apenas uma nota de circunstância.
Seria uma sorte, com a quantidade de exames em espera, conseguir um maqueiro para levar pelo menos um internamento antes das 23h, hora de passagem de turno. O meu colega continuava tarefeiro, no trinómio análises/soro/medicação, ao mesmo tempo que barafustava com a lentidão dos computadores. Com a impaciência, clicava sucessivamente até que davam o tilt. Esta Admissão mais parecia uma mini-central de computadores arcaicos que bloqueavam sistematicamente devido ao uso ininterrupto, o ruído que emitiam era oco e desgastante. O sistema Alert (programa criado para coordenar todos os procedimentos num SU) anda a 100 rotações por minutos, os enfermeiros da Admissão andam a 200, claro que dariam o pifo.
E.A – Então leva-me este internamento, se faz favor? Está prontinho!
Maqueiro 2 – Está bem. Onde está o processo?
Uii, estarei a ouvir mal?! Entrego-lhe o processo surpreendido e digo adeus e as melhoras ao senhor que estava esquecido. E assim terminava o tempo dos internamentos, senão ouvíamos das boas dos colegas lá de cima. Pego numa das folhas de terapêutica, escolho a de baixo, provavelmente a primeira a ser deixada na banca. Um senhor que tinha tido um pós-operatório complicado, tinha estado nos Intensivos e depois terá tido uma alta precoce. Continuava a perder sangue sabe-se lá por onde. Onde iria ficar? “OBS” Macas.
Tentámos numa última arfada, deixar o painel menos cintilante. Conseguimos finalmente atingir a meta, desta feita seria um atraso de 20 minutos. Nada mau…
Chega o colega da noite para receber o turno.
E a história termina da mesma forma que tinha começado,
E.A – Como é tão bom ver-te! Deixa-me passar o turno que já estou saturado.
Casa, banho, cama… para a minha princesa.
Princesa - Então amor trabalhaste muito?!
E.A - Trabalhei…
Princesa - Também respondes sempre o mesmo, e adormece no meu peito.
FIM
Seguro a gargalhada, a Triagem às vezes também nos proporciona momentos deliciosos. À sexta triagem entra a vmer repentina para a sala de emergência, soa o alarme estridente, dirijo-me à sala e levo já na mão uma pulseira vermelha. Devido a esta hora crítica do jantar, apenas um colega se encontrava na sala, juntamente com a equipa do carro amarelo. Passados segundos tinham chegado os médicos. Senti-me no dever de ficar a ajudar, afinal de contas enfermeiros de urgência são para estas situações. Tratava-se de uma senhora de 80 anos, que de repente, em casa, tinha-se lembrado de deixar de respirar. Durante 20 minutos tentamos reverter o inevitável, o desfecho não tinha sido favorável. Volto à triagem, 20 minutos ausente, 20 utentes em espera.
E.A – Boa noite! Então que se passa?
Utente X – Doí-me a barriga.
E.A – Desde quando?
Utente X – Desde ontem, mas hoje já estou melhor.
ENTÃO QUE RAIO ESTÁ CÁ A FAZER??! Imaginei dizer. Aquele principio de que, quando temos uma dor, tentámos resolver em casa, se melhorarmos, tanto melhor, se as coisas piorarem é que começamos a pensar em ir ao médico, a esta (e a outras) pessoa(s) não se aplicava, ou melhor, aplicava-se ao inverso.
Mais umas queixas e regressa a colega da Triagem, não lhe deixo um panorâma muito agradável, explico que aconteceu algo (im)previsto. Preparo-me para o último sprint, 3 internamentos em espera, 2 folhas de terapêutica de doentes que iam ficar em OBS…Macas, ou seja, um “OBS” onde se encostam os doentes em maca a uma parede, que muitas vezes parecia interminável. A cada um destes é atribuída uma letra, seguindo o abecedário, já ia na H. Era comum a competição para ver quem tinha tido mais macas, havia uns tantos enfermeiros que já se gabavam, por ironia, de ter chegado a ter a Maca B’, ou seja, tinham dado a volta ao alfabeto.
Um dos internamentos tinha ficado esquecido na secretária dos cirurgiões somente há 5 horas. Bem achava estranho aquele doente que se encontrava na Twilight Zone, nem num lado, nem no outro, mas também, mea culpa talvez, não me tinha dado ao trabalho de ir ver o que é que se passava com ele, talvez por permanecer calmo, indiferente à confusão em seu redor, talvez fosse daquele tipo de doentes tão crivado de hospitais, que se tornara imune à impaciência da espera. Tratava-se de um doente reencaminhado do Hospital de S. João, nem se justificava por ali passar, nada foi feito por enfermagem, apenas uma nota de circunstância.
Seria uma sorte, com a quantidade de exames em espera, conseguir um maqueiro para levar pelo menos um internamento antes das 23h, hora de passagem de turno. O meu colega continuava tarefeiro, no trinómio análises/soro/medicação, ao mesmo tempo que barafustava com a lentidão dos computadores. Com a impaciência, clicava sucessivamente até que davam o tilt. Esta Admissão mais parecia uma mini-central de computadores arcaicos que bloqueavam sistematicamente devido ao uso ininterrupto, o ruído que emitiam era oco e desgastante. O sistema Alert (programa criado para coordenar todos os procedimentos num SU) anda a 100 rotações por minutos, os enfermeiros da Admissão andam a 200, claro que dariam o pifo.
E.A – Então leva-me este internamento, se faz favor? Está prontinho!
Maqueiro 2 – Está bem. Onde está o processo?
Uii, estarei a ouvir mal?! Entrego-lhe o processo surpreendido e digo adeus e as melhoras ao senhor que estava esquecido. E assim terminava o tempo dos internamentos, senão ouvíamos das boas dos colegas lá de cima. Pego numa das folhas de terapêutica, escolho a de baixo, provavelmente a primeira a ser deixada na banca. Um senhor que tinha tido um pós-operatório complicado, tinha estado nos Intensivos e depois terá tido uma alta precoce. Continuava a perder sangue sabe-se lá por onde. Onde iria ficar? “OBS” Macas.
Tentámos numa última arfada, deixar o painel menos cintilante. Conseguimos finalmente atingir a meta, desta feita seria um atraso de 20 minutos. Nada mau…
Chega o colega da noite para receber o turno.
E a história termina da mesma forma que tinha começado,
E.A – Como é tão bom ver-te! Deixa-me passar o turno que já estou saturado.
Casa, banho, cama… para a minha princesa.
Princesa - Então amor trabalhaste muito?!
E.A - Trabalhei…
Princesa - Também respondes sempre o mesmo, e adormece no meu peito.
FIM
Retiro-me com a escolha do Dj, espero que gostem,
OS MÉDICOS ASSINARAM O ACORDO PARA A NOVA CARREIRA, contemplando uma carreira única.
ResponderEliminarAQUI:
http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Portugal/Interior.aspx?content_id=1252830
E AGORA, SRS. ENFERMEIROS...
Para bom entendedor…
ResponderEliminarhttp://www.sep.org.pt/images/stories/sep/accaosindical/2009/06/manifesto.pdf
A Directora da ULSAM anda na "boca" do Mundo.
ResponderEliminarVejam o Blog do Doutor Enfermeiro:
http://doutorenfermeiro.blogspot.com/2009/06/um-enfermeira-directora-e-subalterno-do.html
Deixem andar, qual é o problema? E o escorpião que carrega às costas, é uma questão de mais dia menos dia e já lhe espeta o ferrão.
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