Nota prévia: Convém mais uma vez relembrar que esta e todas as outras histórias/crónicas são baseadas em factos reais e que todos os nomes nelas contidos são fictícios. Isto para não se pôr em causa questões de sigilo profissional, como de forma injusta e injustificável se mencionou num anterior comentário. Será importante realçar que esta e todas as outras histórias nunca têm como objectivo denegrir a imagem de quem quer que seja, (muito menos a dos utentes). Apenas pretendem alertar e consciencializar o leitor para situações de funcionamento inadequado, neste caso, dos serviços de saúde. Todos sabemos que os mesmos dificilmente serão perfeitos, mas podemos tentar que sejam cada vez melhor. Se qualquer uma destas histórias contribuir de alguma forma para isso, tanto melhor.
Acabou o turno, saio desgastado após triar 207 utentes. Triar é um trabalho mecanizado, de rápida sistematização, comparável ao de um operário fabril. Às vezes, quando vejo chegar as “fichas” em catadupa, penso, maldita a hora que a triagem foi atribuída aos enfermeiros, mas tenho que reconhecer que é útil e que os enfermeiros serão os mais aptos para tal.
Foi um pequeno desabafo, o que me traz aqui nem é isso, voltando atrás.
Foi um pequeno desabafo, o que me traz aqui nem é isso, voltando atrás.
Acabou o turno, passo em passo rápido pelo corredor, olho para o lado e reparo com surpresa e comoção no senhor que esperava por otorrino.
O senhor Jorge tinha chegado às 9h, tal como lhe tinha sido indicado no dia anterior. Nesse mesmo dia anterior também esperava por otorrino e esperou… todo o dia. Fazia parte daqueles doentes que são encostados, atirados para o esquecimento. Doentes que chegam para uma especialidade que não está presente ou até nem sequer escalada, ficando assim atribuídos a uma outra que está em presença física e que pouco ou nada se vai interessar. Justo será mencionar que o excessivo volume de doentes neste (e outros) Serviço de Urgência agrava esta situação, pois os profissionais de saúde dificilmente conseguem atender aqueles utentes que estão sob a sua responsabilidade directa, quanto mais os outros. Foi outro pequeno desabafo, continuarei com a história que me fez meditar.
O senhor Jorge tinha cancro da laringe, o que consequentemente lhe provocava uma alteração de imagem. O que me despertou atenção e o sentido de reflexão, foi a sua evidente serenidade, como vos disse, esperava por otorrino há já um total de 24 horas, eu repito, 24 horas de espera e continuava sentado no corredor apinhado, com o olhar distante e de aparente indiferença ao seu infortúnio e espera prolongada. Parecia esse mesmo pescador tranquilo no paredão sob o reconfortante pôr-do-sol, aguardando paciente, o morder do anzol.
Agora questiono-me, porque outros de saúde plena, chamam uma ambulância sem necessidade, exigem atendimento imediato e destabilizam o ambiente pelo gosto do protesto sem razão?!
O senhor Jorge tinha chegado às 9h, tal como lhe tinha sido indicado no dia anterior. Nesse mesmo dia anterior também esperava por otorrino e esperou… todo o dia. Fazia parte daqueles doentes que são encostados, atirados para o esquecimento. Doentes que chegam para uma especialidade que não está presente ou até nem sequer escalada, ficando assim atribuídos a uma outra que está em presença física e que pouco ou nada se vai interessar. Justo será mencionar que o excessivo volume de doentes neste (e outros) Serviço de Urgência agrava esta situação, pois os profissionais de saúde dificilmente conseguem atender aqueles utentes que estão sob a sua responsabilidade directa, quanto mais os outros. Foi outro pequeno desabafo, continuarei com a história que me fez meditar.
O senhor Jorge tinha cancro da laringe, o que consequentemente lhe provocava uma alteração de imagem. O que me despertou atenção e o sentido de reflexão, foi a sua evidente serenidade, como vos disse, esperava por otorrino há já um total de 24 horas, eu repito, 24 horas de espera e continuava sentado no corredor apinhado, com o olhar distante e de aparente indiferença ao seu infortúnio e espera prolongada. Parecia esse mesmo pescador tranquilo no paredão sob o reconfortante pôr-do-sol, aguardando paciente, o morder do anzol.
Agora questiono-me, porque outros de saúde plena, chamam uma ambulância sem necessidade, exigem atendimento imediato e destabilizam o ambiente pelo gosto do protesto sem razão?!
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