terça-feira, 1 de março de 2016

A Bastonária tocou na ferida... com a mão toda


A Bastonária dos enfermeiros, Ana Rita Cavaco cumpriu a sua promessa eleitoral de maior visibilidade para a enfermagem. Conseguiu numas semanas aquilo que o anterior senhor bastonário não conseguiu num mandato inteiro, protagonismo... mas protagonismo pelos piores motivos. Congratulo-a porque trouxe à baila um assunto emergente, polémico e delicado, como é a eutanásia, "tocou na ferida", mas tocou com a mão toda, não se preparou adequadamente para tão ilustre debate e painel da Rádio Renascença, meteu os pés pelas mãos com o "coma insulínico", com o "estas coisas acontecem por debaixo do pano" com os "médicos sugeriram administrar insulina". Os médicos sugerirem? O que quis dizer com isso? Os médicos não sugerem! Foi um desabafo de algum médico?
Coma insulínico??! Alguma vez proporcionar o coma insulínico é uma forma de eutanásia?!! Parece-me mais uma forma de tentativa de homicídio. "Estas coisas"?! Que coisas?  Administração de fármacos para provocar deliberadamente a morte ou interrupção de medidas invasivas e não invasivas que sustentam a vida? É que estas duas premissas conduzem à morte, mas reflectem conceitos distintos e o último sim, o último existe no SNS, talvez fosse por aqui que a Senhora Enfermeira Bastonária deveria ter começado. Foi infeliz, quis ser frontal e assumir uma posição corajosa, pró-eutanásia, que é aquela que eu defendo, mas falhou e envergonhou a classe, por muito menos já vi demissões, depois lançou um remendo, mas talvez já tenha ido tarde, porque a polémica já chegou ao Ministério Público, Ministro da Saúde e até ao ainda não empossado PR.
Acho até estranho como é que alguém que trabalhou em Centros de Saúde, Saúde 24 (saiu após um processo disciplinar) e Centro de Anti-dopagem, ou seja, um percurso profissional fora dos hospitais, fora de cuidados diferenciados, possa ter uma experiência, um conhecimento, uma abordagem de algo que se passa em hospitais ou Unidades de Cuidados. 
Eu defendo de forma inequívoca a eutanásia, como já em anos anteriores defendi neste post. Defendo-a depois de um debate público, defendo-a como última medida, após estruturadas e esclarecidas reuniões ou uniões entre profissionais de saúde - doente - família, para que não haja sequer a ínfima dúvida do que é que se pretende, como vai ser feito, com que finalidade e quais as repercussões. 
Defendo-a para que na morte, assim como na vida, haja dignidade.

Ana Rita Cavaco depois de ter criado algum mal estar entre a Ordem e Sindicatos ao querer entrar em "terrenos" sindicais inicia, inconscientemente ou não, uma guerra com a classe médica, com estas polémicas declarações. O que poderemos esperar? Uma Bastonária arrojada, corajosa, que ajude a proporcionar uma evolução na Enfermagem, ou uma Bastonária descuidada, inapropriada e perigosa? O tempo dará uma resposta. Apesar de tudo desejo-lhe sorte, pois é o que nós precisamos.

7 comentários:

  1. Não sendo enfermeiro reconheço que a Sr.Bastonária o fez deliberadamente porque tanto alarido por ser verdade

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    1. O problema é que não é verdade. Pelo menos na minha realidade não há o exercicio da eutanasia. Se houver um quem o faça é grave, é um crime, não podemos andar a brincar aos médicos e enfermeiros, como se a vida do doente fosse uma série televisiva dramática. Queremos a eutanásia? Então há que discutir, esclarecer, decidir e legislar..

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    2. Claro que é verdade. Não servem para isso os cuidados continuados?
      Gostaria de relembrar que estamos a falar de eutanásia...
      Mas o pior nem é a eutanásia, é toda a distanásia, a que já nem ligamos por lidar com ela todos os dias.
      Sejam profissionais adultos e conscienciosos. Por favor e não se deixem levar por guerras politica e "interprofissionais".

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  2. Quando um doente em fase terminal é"sedado",prática mais que comum na maioria das instituições de saúde,não será esse o principio da eutanásia a que a Srª Bastonária se queria referir? o problema é que todos sabem mas ninguém assume......

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  3. http://sersindicalista.blogspot.pt/2016/03/a-revolta-dos-unilaterais.html

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  4. Concordo com o colega, solidariedade é algo que estamos "impedidos" de fazer quando o "ofendido" é o médico. Médico endeusado pelos enfermeiros-da-velha-guarda que incutem essa doutrina aos que querem ser enfermeiros.
    Sabemos que existe corporativismo na classe médica, e a quase impunidade subjacente aos seus atos negligentes. A verdade custa caro para quem está acomodado. A verdade é mais facilmente sorrio para o "Sr.Doutor" do que ajudo o colega que está sobrecarregado de trabalho.
    Somos enfermeiros formados para cuidar e louvar a qualidade de vida, valorizando-a. Se a Bastonária quis protagonismo, se foi um pouco precipitada nas afirmações, é porque o debate foi demagogicamente ilusório. Confundir eutanásia com homicídio é algo que os políticos\ juristas adoram sofismar.
    É triste a ideia de liberdade desde à quê...40 anos e tal e ainda não existe equidade entre médicos e enfermeiros. Ah, como adoro os mestrados e doutoramentos de enfermagem, que na prática valem muita liberdade de expressão. Espera deve ser noutro país! Porque em Portugal o "SôDoutor" é Rei, e ninguém contraria o rei sem castigo.

    Auditem, mas tenham ações visíveis. Fiscalizem, mas imponham regras. Neste momento há mudanças a surgir, não condenem quem quer melhorar. Queremos segurança para utente, queremos qualidade de vida.
    Realidade institucional: Colocar utente a sofrer de dores num quarto isolado para não incomodar os da restante enfermaria. Sim colegas não se pratica eutanásia, "porque o sofrer faz parte da vida" disse o sr. bastonário da ordem dos médicos.
    "Até porque penso que a Sr Bastonária da Ordem dos Enfermeiros é inteligente", disse elemento do ministério Publico. Bolas porque não é uma dessa enfermeiras de saia travada,salto alto e decote acentuado que gostam de se prostrar aos tecnocratas enquanto eles fumam um charuto!
    E então onde anda a comissão de ética para a Saúde? Hum, tem medo do castigo do "Rei"?

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  5. Estimado Guilherme, nada como o olhar distanciado: todas as instâncias que histericamente, deram caça à Bastonária reconheceram que não havia matéria e arquivaram; a Galriça Neto, que ouviu tudo de fio a pavio, reconheceu que muito foi descontextualizado e, realmente, não participou da caçada.
    Quer um exemplo de manipulação de informação ? "Saúde 24 (saíu após um processo disciplinar)" pois saíu, porque fez queixa de práticas desse serviço, incompatíveis com a qualidade e a dignidade dos enfermeiros e DEPOIS FOI PARA TRIBUNAL, GANHOU E FOI INDEMINIZADA.
    Outro exemplo de ignorância: quem lhe disse que ela só trabalhou nesses dois Serviços ? Que não goste dela ou do estilo, vá, mas não invente nem manipule, olhe diga como a Ana Rita na Comissão Parlamentar: "falemos verdade". Damiana

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