Tenho reparado num fenómeno muito preocupante para a enfermagem e por inerência, para a população em geral. Nos últimos anos aumentaram significativamente os "casos psiquiátricos" nos enfermeiros. Não é preciso muitas investigações e estatísticas para chegar a esta conclusão, está aos nossos olhos.
Vemos enfermeiros em estados de depressão, cabisbaixos e deprimidos, outros em estados de "negação crónica", onde tudo está sempre mal, onde um simples diálogo com quem quer que seja, será uma discussão, um conflito, outros em estados de loucura... loucura mesmo (*); vemos baixas prolongadas e recorrentes e eu questiono-me, quando é que chegará a minha vez?? Sim!... Não tenham dúvidas que há uma grande probabilidade de chegar a nossa vez, não tenham dúvidas que com o aumento dos anos de serviço, aumentam as probabilidades de enlouquecer-mos. Até aqueles que nós vemos como exemplo da pureza e integridade mental não escapam.
Temos uma profissão de desgaste rápido, de risco e absentismo elevados e todas estas más notícias para a profissão (desde há uns anos a esta parte), não ajudam em nada para a harmonia, paz de espírito, qualidade de trabalho, satisfação e motivação profissional que tanto se deseja e necessita, em enfermagem... e não só.
Fico preocupado porque penso demasiadas vezes que a minha sanidade mental enquanto profissional de saúde, não vai ser eterna. Fico preocupado porque custa-me ver estes enfermeiros doentes a "cuidarem" de outros doentes.
Vocês já pensaram por que é que rapidamente esgotam os stocks de comprimidos de diazepan no Serviço de Urgência??? Ok, o povo também anda a enlouquecer e muitos são prescritos, mas muitos outros vão para consumo da casa, para consumo próprio de enfermeiros e médicos.
Posto isto, deixo-vos uma questão,
Como anda a vossa sanidade mental?
(*) loucura mesmo é quando não se bate mesmo nada bem da cabeça, com aqueles comportamentos a razar o obsessivo-compulsivos e/ou paranóico, para ser mais científico.
Sabe Colega, um destes magníficos gestores que temos perante a questão que lança: "Vocês já pensaram por que é que rapidamente esgotam os stocks de comprimidos de diazepan no Serviço de Urgência???" olharia para ela e diria logo: cá está mais uma fonte de desperdício como que olhando para o dedo em vez de olhar para onde aponta esse dedo. De vez em quando lá surge na TV uma reportagem a falar do "burn-out" dos profissionais de saúde e toda a gente fica indignada, toda a gente se compadece mas rapidamente tudo passa. E com o desvalorizar da Saúde, enquanto serviço, tem contribuido muito para essa situação, explico-me repare que fala-se da crise e logo se vem falar da Saúde, como se fosse o grande bicho-papão do Orçamento que tudo leva e há que acabar com ele. E isto inevitavelmente se reflete naqueles que nela trabalham pois a somar à sua precariedade começam a ver-lhes colado um estigma do "luxo", do "exagero",absolutamente falso pois se este País está em crise não é devido à Saúde que por muitos milhões que leve e muitas aldrabices que tenha custa nem 10% do nosso orçamento, dos que menos cobra aos seus cidadãos e dos que mais lhes retribui e mesmo assim os profissionais de saúde continuam nem a ser remunerados nem a ser acarinhados como o são nos países realmente desenvolvidos. Temos pois uma daquelas situações como diz o povo "de pobre e mal agradecido".
ResponderEliminarCoragem Colega, mesmo não nos conhecendo fica aqui o meu apoio, a minha solidariedade.
Beijo, Ana
Meu Amigo, por ter constadado que a minha sanidade mental estava a ser beliscada logo comecei a pensar em mudar de caminho ... e acho que foi o melhor que me aconteceu ... antes da enfermagem, eu ser um ser humano e quero viver a minha vida, o que resta dela, em paz e sossego .........Beijo,uma colega!
ResponderEliminarCaríssimos,nem percebo as razões de tantas lamúrias. O nosso enfermeiro chefe não para de dizer que é inteligente,(será que se trata de algum complexo?) então isto não nos alimenta o ego. As mudanças que ele tem conseguido, o estímulo que nos tem dado,os doentes que já não estão no corredor, a recusa que afirma de visitar este blog, mas que todos sabemos que não é verdade, são razões mais que suficientes para vir trabalhar todos os dias de astral levantado.Deprimidos, só podem estar a brincar. Mas na realidade invejo os colegas da UP, porque esses sim sabem o que é uma verdadeira chefe, que na sua humildade consegue mudanças, gera proactividade e satisfação e, sabe o que é Enfermagem. Até podem não concordar, mas pela minha parte só tenho a dizer: bendita a hora que a equipa foi mudada.
ResponderEliminarSaiu hoje o mapa de vagas para o Ensino Superior. O Enf. Germano Couto que tanto dizia (dizer e realmente querer são coisas diferentes) que era necessário reduzir o número de vagas, que inclusivamente se reuniu com o Ministro da Educação e depois da reunião disse que as vagas teriam que ser reduzidas em 10% (só 10%????)... afinal tanta conversa e o número de vagas é o mesmo!
ResponderEliminarAonde estão os 10% de redução tão apregoados? Foi tudo conversa para calar os Colegas.
Nesta matéria está tudo visto, com jeitinho os porteiros da urgência de tanto verem doentes a entrarem qualquer dia são lhes dadas equivalências e...são Enfermeiros.
O pior é que essa insanidade mental passa muito para os alunos, eu ja vi gestos e discursos verdadeiramente incompreensíveis, que traduzem verdadeira insanidade.
ResponderEliminarEu como aluno adoro vos ver a perderem essa insanidade , pois levais com burn out do meio intermédio e institucional, e cuidado com o meio intermédio!!! dizem que é o que mais leva na tola, eu cá acredito bem nisso tendes enf. chefes com muita esquizofrenia indiferenciada.
A 1ª vez que utilizei a palavra "burnout" para justificar a mudança de serviço, denotei a ignorância que a maior parte dos nossos colegas detinham acerca deste tema. Se foi sarcasmo ou pura arrogância, cada vez que existia uma crítica ou um conflito esporádico era da boca dos colegas que ouvia-se "Ai vou para outro sítio por causa do burnout", desvalorizando o conceito e simultaneamente descredibilizando quem tivesse a ter essa situação. Desisti de mudar, porque inclusivamente até as chefias ridicularizavam e transmitiam essa imagem as outras categorias profissionais, criando os tais famosos "rótulos" que ainda nos deprimem mais. Acomodei-me (temo até dizer que "estupidificei-me") perante este ambiente, observando discriminações profissionais serem aceites perante superiores hierárquicos e até sindicato que remete para o "não somos Deus" para resolver as questões, porque se sentem ameaçados.
ResponderEliminarRecentemente houve uma mudança no método de trabalho, iniciou-se reuniões, criaram-se objetivos, apenas para os enfermeiros, porque o que se verificou foi uma sobrecarga de tarefas para os enfermeiros antes destinadas a outros grupos profissionais. Ficamos reduzidos de vários elementos desde da mudança devido à autoritarismo e imposição. "É normal, habitua-se!" Passamos a ser mais subservientes não só para os médicos, como para o secretariado clínico e assistentes operacionais "É normal, habitua-se!" Passamos a ser constantemente interrompidos nas consultas, e a sem critério científico "víamos" (avaliar pressupõe método sistematizado!) 30\40 pessoas em 3h "É normal, habitua-se!" A competição de desonrosa de maldizer o outro para aumentar a autoestima; de divulgar para outras categorias profissionais erros dos colegas que facilmente realizamos em situação de pressão como forma de autovalorizarão "É normal, habitua-se!" O sorriso fácil sem sentimento no dia à dia perante a equipa para ludibriar a falta de comunicação "É normal, habitua-se!"
ResponderEliminarMas e então quando alguém decide terminar a vida e trabalha ao nosso lado? Mas e então quando esse alguém pensa que tem colegas-amigas-confidentes e está à meses a fazer chamadas de atenção através dos discursos repetitivos dos seus problemas? Mas e então quando todos podem intervir, mas optam por o silêncio e a inépcia? Mas e então quando coloca a vida em risco e tem a responsabilidade de avisar o sucedido ao superior hierárquico? O que agir a partir daqui?
ResponderEliminar"A- Sabes como ela está?B- Não sei.A- Mas estará bem, precisa de ajuda, alguém já telefonou?B- Não sei. Mas o C já falou...(olhar arregalado e indicando outro elemento)A- Mas se calhar convínhamos saber se ela...C- Vem comigo ( zona afastada) Aconteceu isto...... A - Era de esperar, então fica em caso ou no hospital?C- Em casa é pior, acho melhor ela vir trabalhar para esquecer.A- Mas ela precisa de estar num ambiente diferente e acompanhada, não aqui exposta a olhares....C- Em casa é pior, e no hospital não quer ficar, e espero que esta informação não seja divulgada pelo sigilo e ética que temos de assistir (tom prepotente).
No dia seguinte veio trabalhar a arrastar as pernas e olhar mortiço, veio para o local onde se sentia segura... A exaustão física induzida pela medicação, fazia tropeçar no próprio andar. Alguns ainda tentaram evitar que viesse trabalhar e expor-se assim, mas e negação é uma arma irredutível. Ainda falou com as pessoas que respeitava e tinham alguma influência na sua opinião. "F- Já viram o que fiz, estava completamente louca, mas também o que preciso é ir para outro sitio, vender tudo, largar isto tudo M- Acho que deve porque aqui você está muito prejudicada J- Vá vem comigo para casa, é melhor que estares aqui F- Não só preciso de descansar e deitar, estou muito cansada é da medicação" Passa por mim a arrastar os pés e questiono onde vai assim, nem me responde logo vem outra colega que insiste que ela fique em sua casa, dá um "NÃO QUERO" que todos se afastam.... "J-Não sei o que fazer dela, já vistes? A - Já... Apenas pergunto o que nos garante de ela não repetir ainda pior o que fez?"
E fez... agora a artificialidade suporta a sua vida, com frases "Ela era enfermeira, devia saber o que fazer!"; "Por ser técnica de saúde soube como o fazer".
Ninguém viu, ninguém sabe, até nós que cuidamos dela questionamos, como se fossemos uma "raça" diferente imune a problemas psiquiátricos. E esta questão fica em silêncio, porque nem o sigilo é supremo.
O pai bate na mãe e ameaça os filhos se falarem, vão à missa como se nada fosse. "Ai que casal tão lindo" Até que um dia acontece...."Como foi possível ele ter feito" É assim a nossa classe profissional, a OE, Sindicatos são os pais que nos abraçam na missa, a mãe é a nossa dignidade, é a nossa vida.