segunda-feira, 2 de março de 2009

Porque deixei de ser médico


Não sei como era a medicina há umas décadas atrás mas sei no que transformou… São anos e anos de estudo, afogados em teoria e em que a prática e o contacto humano são postos de lado. Depois há um exame teórico, um único exame, duas horas de vida que nos dão uma nota, como se de uma etiqueta se tratasse e deixamos de ser pessoas para ser números… Com esse número escolhemos uma especialidade, na maioria das vezes sem saber o que nos espera… Se me perguntassem hoje se voltava a escolher a mesma coisa a resposta seria não. Se me perguntassem se tinha escolhido tirar o curso de medicina a resposta também seria não. Porquê? Tenho vergonha do que vejo no dia-a-dia hospitalar…
Há vários tipos de médicos e a sua forma de trabalhar é bem visível no serviço de urgência:
-O Sr. Dr. A, que já nasceu cansado, por isso não vê doentes, independentemente do tempo de espera, até porque o trabalho não faz bem á pele;
- O Sr. Dr. B, que vê essencialmente os seus doentes da privada, será que depois lhes cobra a consulta?!
- O Sr. Dr. C que sai 3 horas para almoçar e 2 para jantar porque, afinal, tem de estar com a família ou já tinha aquela almoçarada marcada há algum tempo com os amigos;
- O Sr. Dr. D que anda sempre de um lado para o outro a tratar de “questões logísticas” e que por isso não tempo para ver doentes;
- Por fim o Sr. Dr. E, a excepção, aquele que trabalha, que se preocupa realmente com os doentes, que não gosta de os deixar à espera porque não gostaria que lhe fizessem o mesmo… Este tipo de médicos, em vias de extinção, são os mais criticados, olhados de lado pelos outros colegas.
Os internos ainda vão a tempo de fazer a sua escolha, mas quantos vão preferir o caminho fácil ao tortuoso? Será que num futuro próximo ainda vamos encontrar alguém que se dedique realmente ao trabalho? Será que este tipo de médico vai conseguir remar contra a maré ou também, um dia, vai desistir dos princípios que o fizeram escolher a profissão?

Por “In determinado”
(ESTA FOI A 1ª RESPOSTA AO DESAFIO, CONTINUO À VOSSA ESPERA! - Guilherme de Carmo)

8 comentários:

  1. Brilhante.. fiquei sem palavras quando recebi este email. Um retrato triste mas sublime e real. Felizmente nem todas as especialidades serão assim. Um abraço aos Dr. E's

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  2. Guilherme quando li que ias de 'férias' por tempo inderteminado fiquei a pensar e agora??... este blog tem abordado temas mt interessantes, variados e muito pertinentes, temas que muitas pessoas têm medo de falar e debater em público com receio que lhe apontem o dedo...assim aqui podemos debater sem medo do nos apontar o dedo...
    Agora mudando de assunto...
    Bem para primeira mensagem recebida para post...GRANDE POST...
    PARABÉNS a qm o escreveu...
    Por mais triste que seja e por mais que custe, tenho de admitir que os Dr E's estão em extinção, cada vez mais trabalho com médicos que são tudo menos E's...descarregam nos pacientes as suas frustações, independentemente do estado do doente; que se esquece que tem doentes a espera; que se esquecem que estão a lidar com pessoas...
    Por vezes, os médicos deviam de pensar que aquela pessoa doente que precisa dele poderia ser um dos seus ente queridos, ou pensar que se fosse um dos seus ente queridos se gostava de os ver ser tratados cm ele está a tratar o doente...
    aos Dr A, B, C e D coloquem os olhos nos Dr. E
    Abraços

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  3. Ainda faltou uma classe a que a Ministra chamou de "mercenários" - os que vão fazer só urgência a vários hospitais para ganharem 2500 € por banco. E têm que ser os enfermeiros a integrá-los porque senão nem no computador para passar a receita saber mexer...
    MM

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  4. Bom post...eu ja lhe mandei outro desafio espero que o aceite...

    Cump

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  5. Há muito que venho acompanhando este Blog, os meus parabens pela pertinência e qualidade quer dos temas quer dos respectivos textos e comentários!
    Os meus médicos favoritos, os do tipo E - claro! E deixem-me trazer alguma esperança - conheço alguns!! Mas não foi a medicina que os tornou humanos, foi a educação - o berço - que evitou que se transformassem em automatos! É que, os médicos da outras categorias deixaram-se impregnar pela cultura profissional!
    Não me custa nada apoiar e ajudar os médicos de categoria E, ensiná-los, aprender com eles, sentir-me da mesma equipa, porque é isso mesmo... trabalhamos para o mesmo objectivo - as pessoas!
    Espero que continuem a manter a qualidade! :)
    Com os melhores cumprimentos

    A Silva

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  6. Há ainda outro tipo de médicos os que vieram do estrangeiro, que no seu pais de origem não entravam em nenhum internato que fomos nos (contribuintes) que lhes pagamos a dita especialidade, e agora não querem nem fazem nenhum. Assim anda espe pais.

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  7. A GUERRA contra a descriminação da enfermagem começou!


    NÃO VOTEM PS!! NÃO VOTEM PS!!

    NÃO VOTEM PS!! NÃO VOTEM PS!!

    NÃO VOTEM PS!! NÃO VOTEM PS!!

    NEL.

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  8. Concordo de uma forma geral com o que foi comentado em relação a este tema e, principalmente, quando alguém refere que e problema da questão está na educação. Sim, penso que esse é o grande problema. Independentemente da classe, seja médico, enfermeiro... outra área qualquer, ou até político, pelo modo que o nosso país caminha, podemos verificar que a maioria das pessoas perdeu os princípios de actuação, de responsabilidade e de dignidade. Já não interessa defender determinados valores e actuar com responsabilidade, e isso começa dentro dos alicerces de qualquer família. Basta olhar para as nossas lindas crianinhas, que de boa educação nada têm e todos lhe acham piada. E o resultado???? Uns anos mais tarde são esses Drs A, B, C e D. São Drs ou outras classes quaiquer. Os bons valores e responsabilidades foram perdidos. E quando aparece o individuo E que os quer praticar é crucificado pelos vários grupos que o envolvem, quer pelos colegas d trabalho porque acham que "fura o esquema" e só chateia, quer pelos amigos e até família que acham que transporta demasiados problemas e preocupações para a vida social. O que me entristece é que este pequeno grupo de Srs E ainda existentes estão em vias de extinção, mas existe um grande número de outros indivíduos que se intitulam Srs E e batem com a mão no peito para o mostrar aos outros, mas que mais fazem se não protestar e reclamar? Muitos desses somos todos nós e era bom que pensassemos nesse aspecto. Deviamos lutar mais em vez de reclamar e apontar o dedo sem olhar para o espelho.
    Parabéns pelo tema

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