terça-feira, 5 de setembro de 2017

A arte de vender tapetes - a propósito da notícia do JN


A propósito da notícia polémica do JN, sobre os "enfermeiros que querem ganhar mais que os médicos"  ver aqui os artigos () e ()

Provavelmente vou comprar mais uns tantos inimigos e mais uns tantos colegas a ofenderem-me, como quando foi o caso recente da minha opinião sobre o protesto dos EESMOS, mas é mais forte que eu... é o meu pensamento e esse comanda a minha vida. Espero é não ser expulso pela 3ª vez da página do facebook "ENFERMEIROS"! 

Há várias formas de negociar. Há quem seja um pouco mais comedido e realista e há quem seja um aventureiro arrojado. Não condeno nenhum destes estilos, todos eles têm as suas vantagens e desvantagens. 

Quando estamos, por exemplo, a negociar um tapete em Marrocos, atirámos um preço lá para baixo a ver se cola. Corremos o risco do vendedor ficar ofendido, mas muito provavelmente, se ainda houver condições para tal, inicia-se a negociação, normalmente há, eles são muito persistentes. Ele pede 3000, eu ofereço 400, ele 2500, eu 1000, ele 2000 e por aí adiante. Isto é uma negociação arrojada, mas com riscos. 

Com a proposta dos (cerca de) 2000 eur do SE para início de carreira, passa-se mais ou menos o mesmo. Neste caso o SE é o vendedor de tapetes e disparou o preço lá para cima, o comprador é o governo que assustou-se com o preço, achou ridículo e estagnou a negociação. 

Como em tudo na vida, há um concorrente directo, há um outro vendedor de tapetes mais realista - SEP. Quem venderá o tapete? Na  minha opinião por muito má que seja a relação de vendedores, talvez a solução seja mesmo sentarem-se todos à mesa e talvez tentar vender dois tapetes a preço de saldo... digo eu com os nervos... sem prejuízo para os vendedores, nem comprador.

A proposta foi de facto arrojada e irrealista e quem a lançou decerto deveria estar ciente dos riscos, ou não. 

Os riscos eram estes, a opinião pública virar-se contra nós, através de opinion makers como esse senhor Domingos de Andrade (não sei se foi ele a escrever o artigo original, mas é o director-executivo do JN e por isso assumiu a responsabilidade e as consequências) e, recentemente do Marques Mendes. E reparem, são opiniões que vão de uma esquerda provável a uma direita, politicamente falando, por isso, falar em manipulação política da notícia, não sei se será precipitado.

Sejamos francos, a notícia do JN é sensacionalista e injusta, mas ele não mentiu, foi despropositado é certo, mas não mentiu. Com os 2000 eur para início de carreira, ficaríamos a ganhar mais que os (cerca de) 1800 eur dos médicos em início de carreira. Poderão dizer-me - mas são internos! Ok, mas já estão a ser remunerados pelo Estado, já estão a descontar e isso aos olhos de quem procura notícia, pouco interessa, é um pormenor.
Se gostava de ganhar 2000 EUR? Claro que sim, para as responsabilidades que tenho, seria justo. Se acho adequado, na nossa realidade, no nosso país? Não, não acho. Se o propunha para negociação? Talvez não, talvez encontrasse um meio termo entre o arrojado e o realista.

É evidente que esta notícia, pelo ambiente que se vive, traz revolta, mas sejamos inteligentes e tenhamos bom senso. Somos enfermeiros, não somos mercenários, não insultem o homem, não o ameacem. Nem a ele, nem à sua família!!!! Haja classe e respeito! Algo que há muito nos falta.

ps. reparem que o tapete não foi escolhido ao acaso. Feita a analogia com o nosso trabalho, que é o que está em causa, poderemos dizer que é extraordinariamente belo. Quem o faz é sem dúvida um artista.

7 comentários:

  1. Respeito mas não concordo. Talvez tenhas perdido uma uma boa oportunidade para estar calado....não se pode comparar o incomparável, primeiro porque o valor dos médicos que referes !não é inicio de carreira mas sim de formação, a responsabilidade está no seu tutor ou supervisor, no enfermeiro responde ele é só ele.

    Quanto ao SEP, desculpa mas# nem pode nem deixa poder#, e é tão realista que lhe podem agradecer a carreira que os enfermeiros têm.

    Já em tempos os enfermeiros na progressão chegavam a ganhar mais de que os médicos, pois subiam mais rapidamente e foi por pouco tempo.....e mais digo com ou sem subida dos enfermeiros os médicos vão subir dentro de pouco tempo o seu salario quer no inicio quer no restante...

    Mesmo com 2000 euros de inicio, não serão os enfermeiros a ganhar muito, talvez os médicos é que estarão a ganhar pouco, mais isso seja muito ou pouco ao dirigente sindical enfermeiro, não lhe diz respeito.

    Os enfermeiros tem que se habituar a reivindicar o que lhes é devido não olhando para o lado, dignifiquem assim a vossa carreira.....o povo começa a compreender que há profissões que ganham muito pelo seu grau de complexidade e responsabilidade e outras pela sua disponibilidade, penalidade, etc e outras pelo espetáculo como por exemplo o futebol...

    Quanto aos tapetes costumo ir com um amigo que também faz a negociata com o marroquino e claro apesar de até não ser nada comigo, para o bem ou para o mau estou sempre do lado do meu amigo,até quando parece que está a exagerar...

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  2. O SEP oferece o tapete e ainda paga a entrega... Depois vai à falência e não percebe porquê!

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  3. Mais do que o valor monetário de início de carreira, o nosso problema é mesmo a carreira que o SEP negociou. Sem categorias para os especialistas, sem hierarquias claramente definidas, sem avaliação de desempenho que funcione, ... A estrutura da carreira antiga funcionava e todos a compreendiam! Enf, Enf graduado, especialista, chefe, supervisor e diretor. Fizeram uma revolução em algo que era Pacífico. Era trabalhar em cima do estava e não mandar tudo para lixo deixando um tremendo vazio...

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    1. Com a sede que a OE tem aos Enf Diretores, Supervisores e Chefes, lá se vai a hierarquia...
      É mais do mesmo: quando o SEP era "basista" acabou com as categorias pois era uma medida popular: ninguém protestou.
      Agora a OE ataque desenfreadamente as chefias hierárquicas: quando outros como administradores ou diretores de serviço vierem mandar nos enfermeiros vão dar conta e começar a quer de novo valorizar as chefias.
      Haja bom senso!

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    2. Protestaram sim... embora sem perceberem bem as consequências da revolução na carreira. Havia coisas a mudar, mas não para o trabalho indiferenciado...

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  4. Concordo com os valores exageradamente elevados, que dá argumentos ao governo para tentar colocar a opinião pública contra os enfermeiros, mas a verdade é que quase ninguém concorda com esta carreira! Nesta carreira se abrirem concursos para principais podem existir um muito, muito pequeno grupo de sortudos que passa de 1200 para 2900. Chamam a isto justiça? Se o SEP não gosta da categoria de especialista que invente outro nome. Chamem sénior (para só quem tiver a especialidade) e depois sénior principal ou sénior graduado ...A função dos séniores seriam assim também gerir equipas. Como isto está é o CAOS!

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  5. Realmente o enfermeiro que nunca foi, não merece o valor que se está a reivindicar. Realmente, por aquilo que escreve o seu valor deveria ficar abaixo do valor hoje estipulado. Mas o Sr é uma excepção!.... não faça disso regra. Todos os outros colegas tem noção que merecem o que está a ser reivindicado. Não seja patético....
    ao dispor
    Manuel Oliveira

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