segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Os incentivos


Outro dia tive uma conversa com um colega de uma USF. Dizia-me a propósito das 40h semanais, que já há muito que as faziam, às vezes ultrapassavam-nas até. Pelo que percebi, não lhes eram pagas as horas que faziam em acréscimo, mas recebiam ao final do mês aquilo que todos conhecemos pelos denominados "incentivos". O seu ordenado (e falámos de alguém com poucos anos de carreira) por vezes chegava aos 1400 eur "limpos"!

Dizia-me também que trabalham num forte espírito de equipa, pois só assim conseguem atingir os objectivos que são propostos e só assim, recebem os tais "incentivos" ao final do mês.

Desconheço em pormenor estes objectivos, mas passa mais coisa menos coisa, por atingir uma determinada percentagem de consultas a grávidas, por exemplo, conseguir chegar a um x de consultas de planeamento familiar, ou prevenção de hipertensão, diabetes, etc.

O grau de satisfação dos utentes, pelo que estou a ver na minha curta pesquisa, também entra para as contas e no final, se todos trabalharem bem, há a recompensa, há o tal "incentivo".

No final da conversa desejei - Também quero trabalhar com incentivos! E senti um misto de orgulho e revolta. Orgulho porque vejo um colega de profissão receber um ordenado compatível com aquilo que é a sua formação, competência e responsabilidade, um ordenado de um licenciado em enfermagem e REVOLTA porque eu sou um enfermeiro com a mesma formação, competência e responsabilidade que ele e recebo ao final do mês BEM menos. REVOLTA porque sou um enfermeiro do Estado, tal como ele e sou descriminado.

A única diferença entre nós é que ele trabalha em cuidados de saúde primários (centros de saúde) e eu em cuidados de saúde secundários (hospital), o que me leva a pensar que, por parte do Estado, há uma indiferença pelos hospitais, rejeição até (talvez seja por isso que os estejam a privatizar) e uma predileção pelas USFs, o filho querido das reformas em saúde.

No final da conversa questionei-me, eu também trabalho numa equipa que se une para atingir objectivos, onde estão os nossos incentivos? 

Os nossos objectivos são, por exemplo: minimizar a dor de um doente, aliviar a falta de ar, corrigir desequilíbrios graves, contornar incapacidades e limitações agudas e crónicas, cuidar de doentes vitimas de enfartes, avc´s, vítimas de acidentes de viação graves, entre muitos e muitos outros objectivos. 

O nosso objectivo principal é salvar vidas! Será que não temos direito também a incentivos ?
Se calhar não. 

3 comentários:

  1. A questão é: deve-se acordar a prestação de um conjunto de serviços por um valor X. Se concordo que depois desse limiar a produtividade aumentada deve ser remunerada, também concordo que quem não faz o contratado inicial devia ser despedido. Ora não acontece nem um nem outro, pois o conjunto de serviços é pago a um valor Y, bem inferior a X, ninguém é despedido e depois dão-se alguns incentivos que ajudam uns quantos, mas ao fim e ao cabo ajudam o Governo: são um instrumento de criação de inveja e de divisão da classe. ;)

    bom post! abraço

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  2. Sabe qual é a ordem profissional que não quis esse modo de trabalho e pagamento?
    Os objectivos que tem são válidos e certos, mas como os contabiliza? o que é o proposto e quais as metas?
    Deixo-lhe um pouco de conhecimento sobre a contratualização, que embora inviezada pelo nosso [des]governo, continua a ser o mote das USF's:

    http://www.usf-an.pt/index.php/partilha

    Abraço

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