Há um programa interessante na cabo onde um chef de renome, dono de cadeias de restaurantes famosos, vai tentar
relançar restaurantes que estão em pré-falência.
Gordon Ramsey, o chef, é
implacável na crítica e ríspido no relacionamento, mas o que é certo é que
o homem consegue reanimar aqueles restaurantes. Trata-se de um excelente gestor
pois não está com rodeios para eliminar os obstáculos para o sucesso.
Num dos episódios alertou o patrão para o desperdício, para o exagero de
comida confecionada. Rapidamente percebeu que esse seria um dos motivos para o
insucesso do restaurante em “crise”, ensinando ao patrão que um dos segredos para
uma boa gestão passava por evitar o desperdício.
E perguntam-me vocês, mas por que carga de água está este lunático a falar
em culinária, chefs e gestão de
restaurantes, num blog de saúde?!
Eu explico, tudo isto foi para chegar ao ponto-chave deste post, que é o Combate ao desperdício. Portanto fui dar uma
grande volta e no fundo o post começa
agora. Peço desculpa, às vezes dá-me para estas coisas.
Em qualquer sistema empresarial que se preze, o desperdício é evitado, caso
contrário alguém vai acabar por sofrer as consequências.
A minha realidade, que como vocês sabem é um Serviço de Urgência, pertence
a um grande sistema empresarial de nome, ULSAM. A ULSAM é uma Unidade de Saúde,
que tal como muitas outras Unidades de Saúde, luta para evitar o défice e diminuir
os milhões de eur de prejuízo do estado, responsáveis pela crise do país.
O combate à crise depende exclusivamente de uma boa gestão e uma boa gestão
começa nas pequenas coisas, como por exemplo a eliminação do desperdício.
Muito haveria por fazer para se poupar num hospital e mais ainda se poderia
fazer com os gastos na saúde de uma forma geral, alguns desses temas já foram
cá discutidos e brevemente voltarão a ser, mas hoje falaremos apenas no
desperdício.
No meu serviço, lamentavelmente, vejo muito desperdício. O local onde ele
se torna absurdamente evidente é na Triagem Geral. Alguns médicos de clínica
geral prescrevem sistematicamente terapêutica desnecessária, sem qualquer
critério ou justificação clínica. Não sou eu apenas que o digo, toda a gente o
diz, mas o que é certo é que a situação mantém-se e uma simples indisposição é
corrida com soro, antipirético EV, análises a sangue e urina, RX, etc, etc. Já
para não falar das prescrições efetuadas sem os doentes serem vistos e das prescrições efetuadas como que a "castigar" a vinda desnecessária do utente ao SU (ex: 2 ampolas Atarax IM, que doi que se farta e furosemida sem qualquer justificação, para o utente urinar várias vezes etc etc).
Seria oportuno que o programa ALERT só deixasse que uma prescrição ou
pedido fosse consumado, caso o clínico digitasse uma justificação, mas que não
fosse um simples (.) como frequentemente se vê. Aí talvez se entendesse por que
razão a uma pessoa com tonturas, logo à partida se prescreva soro fisiológico.
Não há turnos iguais, mas eles serão completamente diferentes, se estamos a
trabalhar com os médicos X e Y, que
prescrevem desmesuradamente ou com os médicos Q e W que prescrevem
criteriosamente.
O dinheiro que o hospital não pouparia se não contivesse estes gastos
inusitados, este desperdício sem fim, chamem o Gordon Ramsey.